sexta-feira, dezembro 30, 2005

Perca do Nilo

Fui, a convite da minha grande amiga Rijo, ver a antestreia do documentário O Pesadelo de Darwin. Tirei muitas conclusões. Mas dedico uma delas, que mudo para um tom de aviso, a quem anda muito preocupado com o que Portugal fez na altura das Descobertas e durante a colonização que daí proviu:
Revejam, por favor, o vosso estilo de vida ao ínfimo pormenor, a fim de contribuir o menos possível para a Neo-Colonização. Ou então continuem a falar do passado sem que, pelos vistos, aprendam alguma coisa!

quinta-feira, dezembro 29, 2005

Ornitologo? Nao, obrigado!

Mais uma das minhas concepções... estanque e hermética, claro!
Um dos degraus ou ramos de que Darwin falava não o chegou a ver ele próprio! Nem sequer imaginou! Vou ser tão pretensioso ao ponto de aventar que a Teoria da Evolução das Espécies teria mesmo sido reformulada caso aquele tivesse vivido durante os últimos 60 anos.
Então, aqui vai: o Progresso ditará o fim do Homem! É, tal como o conhecemos, a medida última desse Grande Ente (Natureza) para que a Selecção Natural possa seguir o seu curso e, assim, acabar com o mais desprezível ser da cadeia alimentar: o Homem! Ficaremos pelo caminho! Porque o quisemos! O grande gozo desse "puppetier" que julgam ser Deus foi ter-nos dado a conhecer este Admirável Mundo e ver-nos a desprezá-lo idioticamente em nome de um Admirável Mundo Novo de Merda! É bem feito!
Nem sequer ao Progresso soubemos dar uma oportunidade! Há muito que este deixou de servir o Homem! Foi utópico, acabou-se!
Já oiço as mil vozes de protesto... Calem-se! Por favor! Não percebem que por muitos "lados bons" que lhe consigam atribuir nunca conseguirão sequer ofuscar a Face Monstruosa da Moeda que iria, mais tarde ou mais cedo, ditar o seu preço? Foi pior que um Mundo inteiro a vender a Alma a Astaroth.
Lembro-me de um singelo episódio: Aquando do Maremoto de 2004 no Índico, a Ilha de Andaman, mesmo ao lado de Nicobar onde largos milhares pereceram, não sofreu UMA SÓ MORTE! Vi uma entrevista feita a um indígena da tribo Onge, no mínimo, fantástica: "Não percebemos... os estrangeiros não ouvem o silêncio das aves, a ausência de vento nas árvores, o mar a recolher de repente". Não meu caro! Não sentem nada disso! Mas acham que são felizes e que vocês são miseráveis! Houve um dia, na Serra da Estrela, que fotografei uma "impressão" deixada por uma coruja das torres no exacto sítio onde apanhara, durante a noite, um roedor! Não consegui contar quantos a ignoraram. Só uma criança me perguntou o que era. Expliquei-lhe! O brilho nos seus olhos quase fez com que sentisse alguma esperança por ela!

en la Bodeguita de Rio de Onor

Contei ao taberneiro
tudo sobre ti
a vizinha da frente
o meu pai, o carteiro
de todos os que vi
só este, com vinho de cheiro
olha pra mim e sorri

De quem me julga louco
só ele, zarolho
de toalha no ombro
de brilho no olho
perscruta o meu escombro
achando que viveu pouco

batuca os dedos no balcão
todo ele é paciência
fá-lo com a mesma cadência
com que o olho pisca
o queixo apoia na mão

sei com que sonha este homem
que me ouve, sonhador
que o amor seja regra, norma
e toda esta imensa dor
possa assumir a forma
de uma futura confissão
quando alguém, zarolho, sorri
e possa atrás do balcão
sentir o meu amor por ti!

quarta-feira, dezembro 28, 2005

Tenho uma mosca no meu prato!

Tenho uma mosca no meu prato
Está morta, é verde e tem pêlo
na fatia de carnicha (pato)
patas pró ar, corpinho suspenso
apurado molhinho a sustê-lo!

Como terá sido a sua morte?
Calma, lânguida, em silêncio?
Dolor, demorada, interminável?
olhar assim um corpo estável
é para mim algo invejável
desejo a mim tal sorte...

Mais pêlo menos pêlo
somos tão parecidos
aposto que após escorridos
estes líquidos, águas, gorduras
ficarão no ralo alguns
dirão os mais comuns:
banhou-se aqui um macaco
das Honduras!

Olhas-me
como se minha fosse a culpa
eu nem olho, dá-me nojo
quase tanto como tu
acho-te horrível
templo-mor ao que é sofrível
como
um
anão
...
todo nú!

terça-feira, dezembro 27, 2005

Ad Caesar quid est Caesar

A União Europeia, o Grande Erro subscrito pelas duas aventesmas que agora se candidatam à Presidência da República (o que me faz lembrar a rábula do gajo que viola, é detido e, quando solto, volta a violar a mesma vítima), autorizou, voluntariosa como sempre (ou de pernas abertas de par em par, se preferirem), os produtores da Califórnia a usarem as denominações Vinho do Porto Tawny, Ruby e Vintage.
Pois bem, o meu desejo, assim como o de quem considere minimamente vergonhoso para um país não já pouco vexado ver um gajo de chapéu de cow-boy e camisa às quadrículas agarrado a um cacho de uvas Touriga Nacional como se de um cão-quente, uma chave de Ford Mustang de 67 ou um míssil Tomahawk se tratasse, é que haja uma Puta de Bragança made in Kabul que enfie uma Alheira de Mirandela made in Bangladesh ou trinta Bananas da Madeira made in Equador pela peida acima de todos os membros dessa comissão que autorizou tal barbaridade, de preferência sem lubrificação prévia com Mel do Gerês made in Nepal!!!

segunda-feira, dezembro 26, 2005

Charles Dick's "A Christmas Carol"

Escruge da Silva estava desempregado. Os nordestinos e paulistas faziam o mesmo por menos dinheiro e os ucras limpavam a merda destes últimos por menos ainda. Ignorando todos os conselhos dos sangomas lá da cubata, em pleno planalto do Huambo, há muitos anos atrás: "olha qu'isto vai melhorá, uis branco vai desminá uis campo e dépois vai fazê turismo", veio para Portugal, a África da Europa mas com mais listas de espera, desemprego, pobreza, miséria e desrespeito pelos mais velhos mas menos clítoris excisados, florestas, bondade e paixão pela vida!
Este Natal, Escruge esperou pelos espíritos do Passado, Presente e Futuro, sem sucesso! Nada! Fez, então, o que qualquer pai de três filhos faria: Na Rua do Arsenal roubou um belo exemplar Asa Branca. Escalado e salgado ainda a mexer as guelras. Seco ao sol de Ílhavo! A consoada estava arranjada!
Faltava só aquele casaco "à bléc hái-de pís!" que a miúda mais nova (Zuleica) lhe pedira ! Lá foi, e alçou do revólver em pleno shópin-mól para apontá-lo à empregada da Merdska. Esta atirou as mãos para o ar suplicando para que da Silva não levasse avante os seus intentos. A argumentação era óbvia, tratando-se de Portugal: "Não, não faça isso, o patrão nem vai chamar a polícia, vai logo despedir-me e descontar-me o artigo do ordenado e eu não vou ter como arranjar outro emprego que pague mais que os €400 mensais e o meu marido foi despedido da Autoeuropa e mánâseiquê"! Escruge da Silva fez o que qualquer macho faria: "Então vamu ali ao vestiário"! E Alice mamou, até ao fim, feliz por saber que poderia continuar a dar comida à família neste País das Maravilhas!

O dEUS das Ofertas das Pequenas Coisas

Este ano, o dEUS das Ofertas das Pequenas Coisas foi generoso. Assumiu a forma de quem me conhece há MUITOS anos e, logo, se lembra das horas e horas ao som de Come On Feel The Lemonheads. Poucas memórias foram tão deliciosas! Às 23:45 abri um modesto embrulho em papel pardo e vejo o Evan Dando a olhar para mim! Quem Tão Bem Me Conhece decidiu nem o retirar da velhinha caixa. Não teria sido a mesma coisa!

"If I was in the fridge would you open the door
If I was the grass would you mow your lawn
If I was your body would you still wear clothes
If I was a booger would you blow your nose

where would you keep it
would you eat it
I'm just trying to give myself a reason
for being around

If I was a front porch swing would you let me hang
If I was a dance floor would you shake your thang
If I was a rubber check would you let me bounce
up and down inside your bank account

would you trust me not to break you
I'm just tryin' really hard to make you
notice me being around

If I was a haircut would you wear a hat
If I was a maid could I clean your flat
If I was the carpet would you wipe your feet
in time to save me from mud off the street

If you liked me, If you loved me
would you get down on your knees and scrub me
I'm a little grubby
from just being around"!

sexta-feira, dezembro 16, 2005

[]

I wish I had an evil twin
running ’round doing people in
I wish I had a very bad
and evil twin to do my will
to cull and conquer, cut and kill
just like I would
if I weren’t good
and if I knew where to begin

down and down we go
how low no one would know
sometimes the good life wears thin
I wish I had an evil twin

my evil twin would lie and steal
and he would stink of sex appeal
all wemen would writhe
beneath his scythe
he’d send the pretty ones to me
and they would think that I was he
I’d hurt them and I’d go scot free

I’d get no blame and feel no shame
’cause evil’s not my cup of tea

down and down we go
how low one would not need to know
all my life there should have been
an evil twin

terça-feira, dezembro 13, 2005

Telma e Luisa

Se fizesse um "road movie"
por esse todo meu país
não seria nem menos
nem porém mais feliz
que qualquer outro
filmando um louco
de Memphis a New Orleans!

Blergh

Temo ficar azedo
com este passar dos anos
Pensar, agir, agir sem pensar
fazer tantos, tantos planos
tudo isto deixa marcas
pequenas, das farpas
rasgões de chibata
ou profundas, das facas

Tornar-me agora
no que sempre temi
amargo, velho como a Tora
o Pentateuco, a Septuaginta
se ao menos corresse a tinta
que tingisse o que já vi
feios
porcos
maus humanos
imundos
fecais
infecundos
Não os quero!
Exijo para mim um planeta que sorri!

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Pre-Conceito e Novo-Riquismo!

Porque fui obrigado a andar com a Constituição durante quase toda a licenciatura, abomino-a! É mais ou menos aquilo que se passa com cerca de 90% dos desgraçados que tiveram de ler Os Maias. Não me identifico com o meu Estado e, para ser franco, abomino-o! Não acredito numa Democracia não-totalitária e penso até que é uma forma pior de ditadura, já que se vale da estupidificação das massas e, logo, castra qualquer possibilidade de dissidiar! Mas sei que o Artigo 41º (Liberdade de consciência, de religião e de culto) diz, na alínea 4: "As igrejas e outras comunidades religiosas estão separadas do Estado e são livres na sua organização e no exercício das suas funções e do culto". É este o artigo que fala do laicismo e não o 13º (Princípio de Igualdade). Mas já que anda tudo a ir por aí, 'bora: "ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual". Já que anda tudo a dormir, bastando abrir um dicionário para ficar a saber que laico significa que o Estado é INDEPENDENTE da Igreja e, logo, de QUALQUER confissão religiosa, disparo de seguida toda a minha demagogia, que não será maior que a dos pais que "se sentem mal" pela presença de um crucifixo na sala de aula do rebento, ou sequer da de um partido político que, encontrando-se Portugal neste estado, lança o repto para discussão na Assembleia!
1. Acabam-se, a partir de agora, TODOS os feriados religiosos nacionais. Ao não serem considerados o Ramadão, o Nacimento de Maomé, o Yom Kypur e o Durgha Buja dias feriados, não há cá Natal, Ascensão do Senhor, Dia de Todos os Santos ou Páscoa para NINGUÉM!
2. Acabaram-se os diagramas com os aparelhos reprodutores feminino e masculino nas salas de aula! Pode ferir a orientação sexual de alguns que é, conforme a Constituição, livre!
3. Acabaram-se os toques dos sinos! Só servem para dar horas para quem não sabe que servem, realmente, para chamar para a oração! E assim perdemos metade da poesia das nossas cidades, como o é o canto do Nuésin (Almuáden) na inigualável Istambul, cinco vezes por dia!

Aliás, é curioso que na Turquia o Estado também seja laico! Mas do topo dos minaretes chamam-se os fiéis! E só ora a Alá quem quer! Porquê? Porque num país onde a tortura é comum e os crimes contra a humanidade (curdos e armemos) passam impunes, dá-se, ainda, primazia ao POVO! E a maioria é, obviamente, muçulmana!

Em Portugal, doa a quem doer, a maioria é católica apostólica romana. Para mal dos nossos pecados ou não! E a Constituição consagra (já que ultimamente tanto se lhe refere) que o POVO É SUPREMO! E mesmo que não fosse, ninguém tem o direito de IMPOR O SEU AGNOSTICISMO ou ATEÍSMO A NINGUÉM!

Que a BURGUESIA URBANA se choque com os crucifixos eu até compreendo! Mas não percebo como é que a carneirada já se esqueceu que o princípio primeiro do regime salazarista era precisamente esse: Não chocar a Burguesia Urbana!


Desconforto!

Já foi ligeiro, agora amplia-se. Envolve-me naquela película aderente que costuma tapar a taça de esmalte com o doce de tomate da mamã e asfixia-me! Não tenho paciência para os humanos. As conversas, os assuntos, as caras, os mundinhos de cada um, as alegrias e as chatices, os problemitas, os problemões, as comprinhas de Natal. Vêm aí as salas de estar cheias de hipocrisia até ao gargalo, os sorrisos fingidos ao receber o par de peúgas com raquetas, as fruteiras da Marinha Grande, os castiçais da Natura. Estou farto! Sinto-me claustrofóbico em todo o lado, primeiro uma ligeira bronquite, depois o ataque de asma, depois pior ainda, não consigo respirar, pá! Que Espécie de merda, esta!
Mas agora estou melhor! Porque sei porquê! Porque depois de um fim de semana todo na praia, cheguei a casa e abri ao acaso um Aldous Huxley que lera pela última vez aos 18, cheio de pó, e deparei-me com isto:
"For the born traveler, traveling is a besetting vice. Like other vices, it is imperious, demanding of its victim's time, money, and the sacrifice of comfort."

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Quid Pro Quo, Clarice!

Há tanto tempo que desejo
saber com precisão não pouca
Na língua tenho esse ensejo
ao que sabe a tua boca

Laranjas, será?
Na... muito ácido!
é mais aquele plácido
acordar de sol nas faces

Mar, que embora salgado
tem na sua imensidão
mais que a vida toda
toda a vida que é ter-te ao lado

mel, provavelmente
não fora merda de insecto
sei contudo que o correcto
é ser doce, mas pouco,
certamente

Algodão-doce, já sei!
música de feira
esse turbilhão nos sentidos
que depois de dias volvidos
volta sem haver maneira
de o esquecer, nunca, jamais!

Como amo quando nos amamos
como verdadeiros animais!

terça-feira, dezembro 06, 2005

Privilegiado, sim!

No passado Domingo, dia 4, vi dEUS pela 5ª vez.

Não é para todos!



Uma pinturazita do Rudy Trouvé, que está para os dEUS como o Roger Waters para os Pink Floyd ou o Johnny Marr para os Smiths!

segunda-feira, dezembro 05, 2005

A Vala

Não vale a pena tentar explicar aos humanos o que era a Sobreda de Caparica quando os meus pais, corajosamente, se mudaram para ali. A estrada que ia de Vale de Figueira até ao Lazarim, passando pela fábrica que montava os ZX Spectrum, Sinclair 2048k e relógios Timex, cujos teclados roubávamos para instalar por dentro de caixas de cartão de Nestum, transformando-as assim em pequenas Galácticas, tinha, de um lado, um extenso olival (com dois castanheiros e uma amoreira) onde conviviam poupas, pegas rabudas, sardões e algumas centenas de ovelhas do Ti João, que acabou morto ao lado de um poço por ter um coração avesso a devaneios amorosos com a sobrinha. Do outro lado, por trás da casa da minha amiga Simone, que a vida haveria de relançar para a minha própria (o que me faz pensar como é justo este mundo), uma floresta de pinheiro manso dava-nos sombra de Verão e muitos trilhos de bicicleta, coelhos, ouriços cacheiros, melros e casas nas árvores. O trajecto para a escola fazia-se ao longo de uma vala de escoamento de chuvas onde, um dia, se cruzou connosco uma cobra-rateira. Ao invés do habitual comportamento arisco, ergueu-se e silvou. Chamei o Samuel que ia na estrada mais a mãe. Vieram os dois. Quando olhei para a minha frente, qual cobra? A mãezinha do Samuel, cabecilha da das Testemunhas de Geová lá da zona, olhou para mim e disse-me do alto da sua cabeça mui portuguezucha: "Posso ter lenço, mas a mim não me enfias o barrete". Devia ter uns dez aninhos, mas desde esse dia que não passo o mínimo cartuxo a quem se acha dono da razão. Para cúmulo, rio-me tão silenciosa como intensamente, não dando sequer direito de resposta! E é quando alguém sentir que esta medida lhe está a ser aplicada que pode ter a certeza que está a cometer um erro!

sexta-feira, dezembro 02, 2005

The Star

Conheço bem o trabalho da Sr.ª D.ª Madonna e gosto muito de a ver na televisão.
Voltei a vê-la num destes dias e acho que está magra. Era bem mais gira quando passava férias lá no parque de campismo piedense na Costa da Caparica. Lembro-me como se fosse ontem, eu no terceiro andar da Torre das Argolas, ela a comprar um maço de Ritz na papelaria do rés-do-chão. "Helóu, Madonna, do you want to give a mérgúlhe"?, perguntava eu, sorridente, e ela acenava com entusiasmo, porque sabia bem que de caminho passávamos no Saltarico para comer uns torresmitos, e se ela gostava daquelas sandoxas! O Sr. Manel, o gordo que fazia a sangria, também gostava muito dela mas como artista, porque "se fosse pra comê-la antes preferia a Tonicha". Eu achava que a Tonicha tinha mais buço que a Madonna, até porque esta me dizia que estava habituada a ser depilada lá em Lozângeles e nem que a vaca tussisse que lhe faziam as virilhas no Salão Lela, no Centro Comercial Pescador! O resultado era óbvio: em plena Praia da Saúde, o bikini era insuficiente para cobrir tal talega de caracóis hirsutos que lhe saíam para fora e avolumavam a coisa por forma a deixar-me na dúvida em pôr ali a mão e apanhar mais que apenas uma hipertrofia no clítoris... "Vai uma bolinha de berlim?", perguntava-lhe eu, mas ela preferia sempre as batatinhas Titi. Havia certos exotismos aos olhos da Dona Madonna que eu não entendia. O Zé da Bola, por exemplo, que corria os pontões a dar toques, era uma visão do outro mundo para ela. Olhava fascinada a forma como aquelas pernas arqueavam: "Give it, Zé", a forma que os americanos têm de dizer "Dá-lhe, ó Zé!", e eu: "Come a farturinha, amor", mas ela gostava mesmo era quando eu, ao pôr-do-sol em frente ao Barbas, o cheiro a caldeirada no ar, tirava da geleira o "térmos" com arrozinho de coelho e chupava a cabecinha e os olhinhos com estertor!
Fim!

terça-feira, novembro 29, 2005

John Merrick

Só não se lembra deste nome quem nunca viu um dos melhores momentos do cinema de sempre: Antes de ser Sir, antes de ser considerado por Hollywood, que acabou por "prostituí-lo", muito antes de dizer a Clarice que comeria o fígado de alguém acompanhado de favas e vinho Cianti, Anthony Hopkins, de cabelo preto, a mudar o semblante quando destapam a "jaula" onde o tal senhor estava encarcerado e fazia digressões pelos "freak shows" britânicos. A câmara faz zoom in e só depois do grande plano, sem cortes por parte de David Lynch, Sir Anthony deixa cair uma lágrima.
Serve isto para dizer que o Homem Elefante costumava recitar o seguinte:
"Tis true my form is something odd.
But blaming me is blaming God;
Could I create myself anew,
I would not fail in pleasing you.
If I could reach from pole to pole,
Or grasp the ocean with a span,
I would be measured by the soul,
The mind's the standard of the man".
Como quem ignora belos momentos de cinema, há também quem ignore o que há de melhor na vida. Que poderiam dar, dependendo de quem lhes pegasse, belos momentos de cinema, portanto!

quinta-feira, novembro 24, 2005

Coisa Bonita, a Palavra!

Como diria o Neil Hannon, esse grande senhor do movimento musical mais incompreendido do século (Britpop, pois claro), muito graças aos rabetíssimos Oasis (lembro-me inclusivamente da urgência dos Radiohead em darem uma volta às próprias tendências, ficando para sempre, porém, "High and Dry"):

"If you were a horse, I'd clean the crap out of your stable and not even once complain"

E que bom que era!

terça-feira, novembro 22, 2005

A Cinza dos Dias

Se a outros assoma o cheiro
à podridão que a chuva traz
Meu corpo é o permeio
do mal que a água traz

Veículo condutor
"bunker" perfeito
ar rarefeito
exímio tradutor
Agora o aperto
neste peito isolador

Claustrofobia
Ansiar por calor
sonhar com a luz do dia
a profunda, amarga dor...

segunda-feira, novembro 21, 2005

O Deus das Grandes Coisas

Dois altares naquela casa. Um deles à entrada, frente à porta, quem entra encara-o. Consagrado a Ravindramat, o Deus das Grandes Coisas. Ao lado, junto ao rodapé, por baixo da caixa de ligações da Cabovisão, o outro. Uma palha de incenso, um pedaço de manga, uma tigela de leite e a figura de Amin, o Deus dos Pequenos Nadas, minúscula.

Há muito que não pára de chover. Esperam-se grandes inundações. Ontem, a família quase não coube no Hall. Frente à expressão severa da figura de Ravindranat, rezámos até à beira da comoção. As águas imundas, infectas, não chegarão, por certo, à nossa porta!

Mas eu prefiro quando a minha mãe me passa a mão pela cabeça quando finjo estar a dormir. Na manhã seguinte, deixo um gomo de tangerina em frente ao largo sorriso da minúscula estatueta de Amin.

quinta-feira, novembro 17, 2005

Debujo de yo mismo

Só tu me despes de mim
Destes eus de que não gosto
Dessa dor sou rei deposto
Nascer outro neste palco
atrás do pano carmim

quarta-feira, novembro 16, 2005

Oooolaaaaa.........

E quando acenas a tua mão rasga a luz
a tua, em teu torno, que o teu corpo produz
que eu arranco em espasmos de prazer
e tu dás, voluntariosa, sem mais nada dizer

Ao querer-te tanto a minha própria apaga
temendo o dia em que o teu aceno se esvai
mas quando acendes o fogo que em mim propaga
a tocha em tua mão sou eu... agarra-a, que cai!

terça-feira, novembro 15, 2005

Lembrete

É só para dizer que no DN de dia 14 de Novembro, a crítica ao concerto do Devendra Banhart, assinada pelo Tiago Pereira, tem por título: "Caravana feita de hippies e MARIACHIS. Boa, puto! Vi que sabes!
E parabéns ao Público, também, por terem deixado o objectivíssimo Mário Lopes tomar o lugar da pretensiosíssima Kathleen Gomes! E sim, ela já tinha dito que o Devendra era especial, mas duma maneira perfeitamente idiota!

segunda-feira, novembro 14, 2005

12 de Novembro de 2005

Entrou no palco da Aula Magna com o seu pouco peso distribuído por quase dois metros de altura. Cabelo longo, barba profusa, olhos enormes e pestanas maiores ainda. Gestos pueris, voz trinada, leve, leve, leve... uma sala cheia de sons que podiam emanar duma floresta, belos, belos, belos... "não estamos habituados a este silêncio! Por favor, conversem entre vós enquanto tocamos. Por favor"! Por respeito a ele, ninguém obedeceu. Por respeito a nós, o Devendra limitou-se a fazer o que faz de melhor... até que anunciou a música que eu esperava (como a todas com igual ardor): "escrevi-a num dia em que tive muito frio, mesmo tendo barba e o cabelo grande. Um dia vou ter um filho e vou querer que ele tenha o cabelo comprido para que nunca tenha frio". Pois é, ó Banhart... e o meu ouvir-te-á sempre que eu possa!
Para que nunca tenha frio!

BAH!

O Marcel Proust era um chato! E ao gritá-lo incorro no risco de ser decepado com assaz vagar pelo Damas, esse hominídeo que, tal como eu, tem problemas em relacionar-se com humanos!
Porém, todos merecem o benefício da dúvida até prova em contrário, pelo que este fim de semana deparei-me com uma frasesinha solta que é bem melhor que estar a levar com o "Em Busca do Tempo Perdido":
"O verdadeiro propósito das viagens não é ver novas paisagens, mas sim ganhar novos olhos".

terça-feira, novembro 08, 2005

Calçada do Combro

Não é preciso ler a História do Cerco de Lisboa para saber que até antes do terramoto corria um segundo braço do Tejo de Alcântara Terra à Praça da Figueira. Mas talvez seja necessário percorrer algumas linhas do Mestre para ter alguma noção de tudo o resto. De como os bairros típicos, por exemplo, estavam todos separados por consideráveis campos de oliveiras e alguns carvalhos, olaias e sobreiros, formando assim pequenas aldeias e não uma cidade no seu todo. Isto ter-se-á passado durante tanto tempo que o chamado "bairrismo" que ainda hoje existe (perigado entretanto pela ocupação de não lisboetas) demorará ainda a desaparecer. Bom observador será o que não necessita de nada disto. Basta ser-se curioso e deslindar a toponímia olissiponense. Bom exemplo é a Calçada do Combro, limite entre a Bica e o Bairro Alto. O combro, ou duna, monte de areia, areal íngreme, ficava à direita de quem vai do Camões em direcção à Rua do Poço dos Negros e Poiais de São Bento, começando logo a partir da Rua da Rosa.
E é só isto por hoje!

segunda-feira, novembro 07, 2005

Da periferia de Paris para o Mundo

Foram séculos e séculos de desigualdade! Foram religiões e filosofias debitadas em templos com o intuito de vergar a ralé. Cegá-la com a concepção de que os justos seriam recompensados, que a pobreza, a ignomínia, a mendicidade, a indigência, a míngua extrema, a penúria completa eram condição para a ascenção ao paraíso, que o facto de uns terem e outros não nada mais era que um infortúnio ultrapassável.
Agora, que o fosso entre os que engordam à custa dum mundo esclavizado e os que, não podendo comer uma porção por dia, são involuntariamente bombardeados com anúncios McDonaldianos, Friedchickianos, BMW's de topo, estilos de vida impossíveis sem um fato Hugo Boss aumenta, a inexorável revolução chegou! Não temam chineses nem norte-coreanos, afegãos ou iraquianos, nem tão pouco norte-americanos. O colossal mar de magma que são os milhares de bairros da lata, guetos e becos deste mundo já não está mais em ebolição! Entrou em erupção!
No planeta de hoje, é impossível ser-se rico sem ter nunca condenado alguém à infâmia! Quanto mais tempo pensaste que serias feliz com os teus dois carros, a tua vivenda com acabamentos de luxo, a tua casa de férias, a tua empresa que admite e despede com a displicência idêntica à do empregado que administra a injecção letal no canil municipal? Quanto tempo pensaste que o teu filho nascido em berço de ouro passaria sem ser comido vivo por todos os irmãos africanos que teriam debulhado diariamente num prato com metado dos brinquedos que esse branquelo tem no quarto?
Agora vem a paga!
Sofram...
...ainda que não tenham gozado o suficiente!

sexta-feira, novembro 04, 2005

Nosso Jorge

Aprendi a gostar de samba com o Amigo Chico, ainda ele era De Holanda...
Serve isto para aventar que os sambas do Seu Jorge, comparativamente à sobre-elaboração quase jazzística do Buarque, parecem monocórdicos. Não fez mal. Seu Jorge canta Blues da Favela, segundo a sua própria definição. Canta letras que recebe pelo correio (muitas de presos), que falam quase sempre dos favelados, explicam a violência sem nunca a excusar. E é no meio de um hino seu:
"A favela, nunca foi reduto de marginal
Ela só tem gente humilde Marginalizada
e essa verdade não sai no jornal
A favela é, um problema social
Sim mas eu sou favela
Posso falar de cadeira
Minha gente é trabalhadeira
Nunca teve assistência social
Ela só vive lá
Porque para o pobre, não tem outro jeito
Apenas só tem o direito
A salário de fome e uma vida normal"
...que se levanta e começa a esclarecer o público menos informado em relação a essa mesma realidade. Que não vale a pena tentar controlar com polícia quem tem fome, que ninguém imagina o que é ter que "vender bala no trem" para comer e ao mesmo tempo olhar horas a fio para os "comerciais" da McDonald's, que nós, os portugueses, sabemo-lo porque temos muitos brasileiros cá e família lá, e acaba a agradecer pela nossa presença, que temos presente que todos aqueles que estão ali são, eles próprios, favelados, mas queríamos desfrutar do que teriam para nos oferecer.
É então que toda a Aula Magna se levanta num aplauso tão efusivo que Seu Jorge, o Mané Galinha da Cidade de Deus, o Pelé dos Santos no "Life Aquatic With Steve Zissou", chora! Mete as mãos na cara e ganha o respeito dos outros em palco que o foram abraçar. Porque esta "tanta gente falando minha língua" não eram, afinal, o bando de preconceituosos em que se tornaram todos os outros ex-colonizadores. Ajoelhou-se. Ergueu as mãos para nós. E cantou, por fim, só com a sua guitarra, cigarro entre as cordas, a sua versão do Life On Mars do Bowie! Para mim, o mundo parou.

quarta-feira, novembro 02, 2005

O Toni

Anthony entra em palco de forma a que não se perceba se é ele a estrela principal ou se o são algum dos outros, uma violocelista, dois violinistas, dois guitarristas, um baterista e um baixista. Move-se como um ser estranho, tem feições de um estranho ser, não tanto de extraterrestre, talvez de uma raça humana ainda por descobrir numa qualquer selva tropical, deserto inacessível ou profundeza oceânica. Por trás da minha Leica R4 (esta foi mesmo à cagão), tento detectar membranas interdigitais, polegares não-oponíveis ou guelras no pescoço, mas apenas vejo cabelo preto, dois totós, ausência de pescoço e maneios do mesmo a que obrigam uma caixa toráxica com menos projecção por estar sentado ao piano. Antes de assumir essa posição, pousou uma sacola verde e não tirou um pullover que trazia atado à cintura. Olhou em volta, olhos enormes, boca diminuta, disse "good night" e foi então que tudo parou. Já vi espectáculos musicais, recitais, performances com banda sonora, mas nunca tinha visto uma fonte de energia, um veículo de sons celestiais que passavam por ele e espalhavam-se pelo Coliseu, tocavam cada um dos presentes com um abraço quente e um dedo ao de leve pela coluna vertebral até o arrepio subir ao cerebelo! Era ver milhares de caras de sorriso enternecido olhando o palco, como se estivesse ali à frente a promessa de um novo Messias, aquele que traz outra Boa Nova: Só existem dois tipos de música... a boa e a má!

A Inbicta

Gosto d'O Porto. Gosto da maneira como gitanitas andrajosas partilham o Campo Mártires da Pátria com outras mulheres a quem bastaria dizer-me "Então... Bámos?". Gosto de como por trás da fachada anti-mouro toda a gente se desdobra em indicações do melhor caminho para a Av. da Boavista. Gosto dos restaurantes que não permitem que boa decoração seja sinónimo de porções de proporções hebraicas e preços a condizer. Gosto das águas-furtadas de zinco. Gosto da Estação de São Bento, um "buraco" no meio de um cenário Património da Humanidade. Gosto mais de Santa Catarina que da Sá Carneiro. Não gosto muito do Magestic mas vibro com a Lello & Irmãos. Gosto da Francesinha do Cunha, conselho precioso do Amigo Jorge. Gosto de como aquela malta não vai logo para casa depois do trabalho e encontra-se à irlandês em cafés soturnos. Gosto dos lábios carnudos e seios generosos das tripeiras. Gosto das roupas que usam, despreocupadas e impossíveis de identificar com um "estilo", que é coisa de lisboeta a armar-se aos cucos parisienses. Gosto de gostar do Porto. Gosto de como o lisboeta pensa que ser europeu é vestir-se assim e ir à discoteca assada, enquanto o tripeiro sabe que ser europeu é ser-se em Barcelona melhor que em Madrid, em Manchester melhor que em Londres, em Nápoles ou Milão melhor que em Roma, em Antuérpia melhor que em Bruxelas.

quarta-feira, outubro 26, 2005

Os Manos do Outro Lado!

Ah e tal e mánãsêquê e a rádio não passa música nossa e a que ouvimos é Johnny Peter Parents e bostas afins cobertas de moscas de reflexos verdes! Diga-se de passagem que o que ocorre em Espanha não é exemplo, mais as ketchup e o venao e os Diegos el Cigalas com os seus litros de óleo Fula no cabelo e voz de quem está sentado na sanita depois de uma noite de Bahjis, Masalas, Xacutis, Kormas e Bebinkas de sobremesa! O Brasil, sim, é um exemplo para o mundo! Quando os autores e intérpretes de Música Popular Brasileira (MPB) se viram ameaçados pela invasão anglo-saxónica, fundaram o movimento Tropicália, que surtiu o efeito desejado. Hoje em dia, continua a haver MPB da boa, do melhor que se faz no mundo (exceptuando os infelizmente ainda não fuzilados Netinho, Simone, Daniela Mercurocromo e aqueles rambórios nordestinos que, como qualquer praga, andam sempre aos pares), mas mesmo assim as grandes pérolas estão no passado, no tempo em que os grandes sambas e cançonetas eram interpretadas pela malta lá do bairro e não por uma gaja com um bruta par de pernas e cocaína até à medula óssea! Identifico uma em especial, espelhando a concepção de que "para bom entendedor, meia..."

(risos e, logo a seguir, uma pronúncia de favela carioca, bem ao estilo do Malandro na Ópera do Buarque)
"Vamos voltar à pilantragem
'eixa comigo... uma musiquinha pra machucar uns corações!

Nem vem que não tem
nem vem de garfo que hoje é dia de sopa
esquenta o ferro, passa a minha roupa
Eu nesse embalo vou botar pra quebrar

Nem vem que não tem
Nem vem de escada que o incêndio é no porão
tira o tamanco, põe esse treco no chão
Eu nesse embalo vou botar pra quebrar

Nem vem
numa casa de caboclo
já disseram um é pouco
dois é bom
três é demais

Nem vem
guarda seu lugar na fila
todo o homem que vacila
a mulher passa pra trás!"

terça-feira, outubro 25, 2005

Som

Música para os meus ouvidos

Dias cinzentos
Maliciosos atentos
Gente infeliz
Fanfarrões, falsos portentos
Fazer o que o outro diz

Quero lá saber
se tenho de o fazer
Arrependimento atrás da porta
Em poucos anos vou morrer
Mas nada mais importa

se eu tiver

Música para os meus ouvidos!

O amigo Rufus...

...larga algures no Want One o seguinte:

"I'll never know
what you show
to other eyes
go
or go ahead
and surprise me..."

Faço das dele as minhas e há quem, para gáudio meu, aceite o desafio...
Haja o outro lá de cima!

segunda-feira, outubro 24, 2005

Ze Dias

O meu pai dá-me abraços daqueles que doem nas costas.
Filho meu não passará sem o mesmo!

Charada

Pensa em mim como um lugar
Aquele onde te amo
sempre que te deitas

sexta-feira, outubro 21, 2005

Um dia

Uma idosa cede lugar à prenhe
Uma gorda atraente... e porque não?
Um chinoca lê o jornal, que estranho
Um puto bezunta atira o papel ao chão

Um louco caminha sobre o traço amarelo
Passa um cão com doença no pêlo
Abandonado? Talvez...
Amanhã estará aqui outra vez

Tanto óleo no cabelo, aquele
Ao lado, a do brilho na pele
ainda que o céu de chumbo, sol ausente
roube a cor a toda a gente

Aquela de saco na mão
levará talvez a merenda
E aquele, com o embrulho pardo
para quem será a prenda?

Tantas vidas se cruzam
de manhã, alegrias tão raras
não o são corpos lindos, belas caras
decotes em camisas que já não se usam

Uns fumam, outros acham mal
coisa outrora tão banal
O ar é de todos, bem sabemos
De olhos no chão pouco vemos
neste andar aqui insulso, mau de sal!

Todos queremos qualquer coisinha
vida tua, vida minha
normalidade a quanto obrigas
Nascer, comer, dormir
acordar, descender, ascender
Trabalhar, correr, parir,
Cuidar, enfim, morrer!

quarta-feira, outubro 19, 2005

Oscar Tobias J&B Adolfo Diaz

Sinto falta do meu cão!
Nome? Oscar, como tantos
Ladra
corre
salta
rosna
ou não...

...faz nada disto e fala
gemendo de orelhas para trás
com a certeza que eu entendo
como sempre fui capaz

Quando me vê, mais nada importa
comer, cadelas, bolas ou mais ninguém
Senta-se junto à porta
a vista um pouco torta
estrabismo ligeiro
que, a como um filho,
nem noto

não fora nos olhos o brilho
de quem diz: "estou velho"
e um dia destes
morto!

segunda-feira, outubro 17, 2005

Retorno

Toco-te
e tudo é
É-o como eu próprio passei a ser
mais que ontem, que amanhã, talvez
ser-se maior que alguma vez

A forma como o teu cabelo
se intromete nas nossas bocas
O passar das horas nossas
quantas mais, contudo poucas
O arranhar dos teus brincos na minha cara
A forma como o teu coração dispara
O suspiro no meu pescoço
Teu ventre sedoso
Os olhos dessa cor, mesmo quando chove
Este entusiasmo que me move

Se não é aquilo, é o quê?

sexta-feira, outubro 07, 2005

Adeus oh vou-me embora!

Olaré...
Mochilita às costas como eu gosto. Nada no porão. Caderninho sem linhas que laptop é coisa de roto. Caneta de aparo que não sofre com a pressurização da cabine. Menos sozinho que o costume. Pouca roupita, que no destino logo se topa, pelos transeuntes, o ideal para o clima, geralmente disponível sobre lonas à beira de ruas principais. 32º em Pokhara, hoje! amanhã 28º em Kathmandu. Humidade: 0%, o que permite ver, de Boudha, a pouquitos quilómetros da Freak Street, onde vou ficar, os Himalaias.
Imagino a costumeira - e apaixonante - confusão asiática: ruas a transbordar de gente, a buzina por dá cá aquela palha, o riquexó com e sem motor, o cocktail de odores de caril, insenso, gasolina com mistura a 2% dos motores Piaggio e Bajaj e flores de frangipani. O grito do nuezzin a chamar para a oração (almuáden em português), o gongo do templo budista e dezenas de pessoas a correr para receberem no cucuruto, em plena Durbar Square, a água-purificadora. Sadús de cara pintada sentados no chão, fumando do chilom mais do que comem pelo prato. Lentilhas com arroz ou dahl baht, que é o mesmo. Carne seca de iáque. Bolinhos de haxe, bolinhas de ópio, copitos de aguardente de arroz bhasmati. Música de vozes femininas mais estridentes que a própria cítara. Observar a mancha escura do ocaso que demora uma hora até cobrir por completo o Everest.

quinta-feira, outubro 06, 2005

É clips

Quando o Eça decidiu fazer escorrer do aparo umas quantas linhas sobre isso (já lá vamos), talvez ele próprio estivesse consciente do lugar-comum. Todos sabemos que o campo e a cidade divergem. O que ninguém conclui, principalmente quando um conjunto de prédios e poucos espaços verdes equivalem a mais oportunidades, emprego e, logo, um pouco mais de dinheiro, é que a cidade EMBRUTECE! E não estou a falar só do espelho de imbecilidade que é a afirmação "O campo é bom porque o ar e a comida são melhores".
Ser um bicho da cidade é ignorar a própria ignorância! Até certo ponto, é compreensível. O progresso, que deixou de nos servir vai para 20 anos, criou a ilusão de que a cidade oferece tudo o que precisamos. Falso. Os centros urbanos roubam-nos aquilo que temos de melhor. Em relação à sensibilidade, o que nos superioriza dos outros animais, o urbano é um CEPO e, como animal racional, está para o homem do campo como um caniche está para um rafeiro... Este último é capaz, em tempos de adversidade, de virar um contentor do lixo para comer. O caniche morrerá à fome!
O exemplo do eclipse: alienadíssimo do seu papel no ordenamento do Cosmos, o Homem da cidade ignorou-o ou, pior, observou-o pensando que teve a noção do que se passou. Até pode ter percebido que, enfim, a Lua passou entre o Sol e a Terra, uau, tenho a informar-te que o teu filho sabe-o graças à instrução primária! Bragança, aí sim, deu-se um eclipse! A temperatura passou dos 24 aos 6º, as vacas recolheram aos estábulos, os pássaros recolheram às árvores, o silêncio invadiu tudo ao mesmo tempo que um manto preto envolveu todos! Ali, os homens tiveram a noção de que fazem parte de um todo e cada um tem um papel a desempenhar. Na cidade, todos continuaram a pensar que a vida é isto! Isto o quê?

segunda-feira, outubro 03, 2005

Tempo

Três semanas...
...são uma vida!
lugar-comum
como outro
algum
que não mais que isso seja
mas dê-me ao menos
algo que se sinta, veja
Se não te posso ter a pulsar
junto de mim...

quarta-feira, setembro 28, 2005

Fazer DA vida ou fazer NA vida?

A primeira pergunta após ter conhecido alguém pode ser (e é-o o mais das vezes) um grande sintoma. Antropologicamente, temos que o tuga, o espanhol ou o francês (o latino, pronto) é descontraído. "Como te chamas"?, "Que idade tens"? ou "De onde és"? são as mais habituais quando estamos a beber "una copa" numa qualquer "Plaza Mayor", a bebericar uma caipirinha no Favela Chic à Republique de Paris ao som de "Metamorfose Ambulante" ou a comer uma sardinha em cima do pão no cruzamento do Largo do Marquês com a Rua da Amendoeira à Mouraria. Passei, contudo, por sítios outros que me levaram muitas vezes a partilhar jantares ou estofos de Land Rovers com norte-americanos (canadians não contam). Choca-me que a primeira pergunta seja, invariavelmente, "what do you do for a living"? O que fazemos profissionalmente é o mais importante para eles! Mais que o nome, idade ou de onde viemos. Eu, que tuga sou, vejo logo por trás de uma boca carnuda, olhos penetrantes, seios rijos e voz quente uma noite bem passada. Assim, vou passar a demonstrar que nunca montaria uma americana, mesmo que sirva o perfil supra-citado, com uma pergunta muito directa: "porque é que nos E.U.A. não há bidés? Não cagam, vossas mercês"?
Porcos de merda!

sexta-feira, setembro 23, 2005

No outro dia

No outro dia sonhei
que sonhava
estar a vida para além de tudo
o que o sonho abarcava
e fui...

correndo como esta lágrima que cai
e atrás de tantas outras vai
Salga-me a boca
dá-me ganas
de afogar em surdina
a torrente que sai

E fui...

fazer-me à vida
que ninguém sonhou por mim
é a minha,
má ou boa,
bem vivida
humildita
original, enfim
que é o melhor
de ser-se assim

livre

mas não como um pássaro
a não ser que sonhem, esses!

POPITZ

Poppy fields ligou-me ontem. Poppy fields porque é de um interminável prado verde coberto de papoilas que me lembro quando a vejo, oiço ou penso nela. Tudo com banda sonora dos Lemonheads, dos Tindersticks e dos Divine Comedy. Boa imagem essa, a da Popitz leve, leve, com o seu andar de bailarina como se caminhasse num interminável prado verde coberto de papoilas. Foi essa Primavera que floriu em mim ontem, no primeiro dia dum pouco auspicioso Outono!

quarta-feira, setembro 21, 2005

Sindicato dos Empregados de Balcao queixa-se: "Nao temos espaço para estas merdas todas"!

- Boa Tarde!
- Boa Tarde....Diga
- Queria uma água com gás..
- Fresca ou natural?
- Fresca.
- Com ou sem sabor?
- Com sabor.
- Limão?
- Pode ser de limão.
- Frize limão, Castelo Bubbles, Carvalhelhos limão?
- Sei lá, traga-me uma qualquer...Frize
- Frize limão já acabou....Pode ser morango, tangerina, figo, ananás ou
maracujá?
- Esqueça...traga-me umas Pedras.....
- Fresca ou natural?
- Fresca.....
- Com ou sem limão?
- Sem.
- Normal ou levíssima?
- Quem?
- Normal ou uma nova que saiu, que é mais leve....
- Meu amigo, traga-me uma Bohemia.....
- Sagres Bohemia não temos. Só temos normal, Preta e Zero
- Então traga uma Superbock
- Superbock mini, normal, Green, Twin ou Stout?
- Normal.
- Garrafa ou imperial?
- Imperial.
- Cerveja Imperial?
- Não, imperial Superbock.
- E mais?
- Um pacote de pastilhas elásticas.
- Quais? - O cliente olha para o expositor de pastilhas... parte o copo no canto do balcão e degola-se! Tudo cheio de sangue!
- Venoso ou arterial???

sexta-feira, setembro 16, 2005

I Remember The Stooges

Lembrei-me disto porque o Tom Barman, DJ quando não vocalista ou realizador, escolheu de um leque tão vasto quanto imagino serem as centenas de prateleiras recheadinhas de vinil, para a Grafonola da Radar, uma música dos Stooges. A versos tantos, o Iggy Pop exclama: "Sometimes you're happy, sometimes you're not. But when you'e down you can be shure that everyone is going to push you towards the dirt". A conclusão não é esta, por ser demaisiado óbvia! O que me interessa é o facto de, apesar de sabê-lo, o Iggy continuar a espernear, o magano! Dá-me ânimo, isto!

terça-feira, setembro 13, 2005

Pede desculpa, palhaço!

Fui teenager.
Logo, venerei a escrita do Miguel Esteves Cardoso.
Ao som dos Pixies devorei as crónicas d'O Independente e regurgitei-as mais tarde, compiladas n' "Os Meus Problemas", da Assírio, ao som do WorstCaseScenario dos dEUS. Ri A Bandeiras Despregadas (RBD e não LOL) com o Factor SPAC e com o taxista apressado que ao ver o coxo a demorar tanto na passadeira debitava: "Tenho um irmão na Suiça e lá matam-nos logo à nascença". O MEC era engraçado!
Entretanto, amadureci! E vi ontem à noite, na RTP Memória, uma irrepetível "Conversa Vadia" com o Prof. Agostinho da Silva, entrevistado este por um MEC impúbere e tão recheadinho de soberba como uma morcela de colesterol! As perguntas rasavam o idiótico, as observações eram tão despropositadas como um sessão de sexo em cima de um urinol público entupido, as simples interjeições infantis e chegou-se ao ponto de apenas faltar ali um "mas o meu pai é polícia e mais forte que o teu". Reconheço que para um puto acabadinho de vir de uma das melhores universidades do mundo, com notas muito próximas do espectacular, aquela entrevista era uma hipótese única na vida para quem queria construir uma carreira! Mas há aqui um pormenor: Nem Galileo Galilei, nem Einstein, nem Miguel Ângelo, nem Newton, nem Darwin. Mestre Agostinho da Silva era O Homem! Tão grande foi que o seu pensamento talvez possa começar a ser compreendido daqui a 100 anos! Se o caro MEC não sentir VERGONHA das interpolações que levou a cabo naquela noite, então está muito pior do que eu pensara!
Considero o Pensamento de Agostinho património da Humanidade (para além da lusitaneidade, portugalidade e lusotropicalismo). Quem não acreditar nisto, não conhece. E é pena!

Como tal, EXIJO do MEC um Pedido de Desculpas.



Já agora, responde-me se te lembras bem de como respondeste "somos escravos do trabalho, do dinheiro, dos filhos..." à observação do Professor: "deixaremos de sacrificar o nosso humanismo quando deixarmos de trabalhar para poder viver", tu, que que não levantas essa peida balofa nem para escrever a meia dúzia de nulidades para o DNA. E dá-me cá a sensação que andas a comer bem para alimentar os teus cento e tal quilitos!

segunda-feira, setembro 12, 2005

Ui...

Pudera eu dar-te
dar-me
dar-te-me
com a vontade que desejo
e o desejo de toda a vontade que tenho

Seria eu, todo, completo
todo teu, peito aberto
O paraíso, já o vejo
teu ventre
teus seios
teu amplexo!

A Entrega

Foi com uma lágrima ao canto do olho, qual Bonga com menos uns quilos de muamba c/ funge que, num posto de abastecimento de Porto Covo vi, no "monstruário" da editora Pregaminho, entre títulos como "Descubra o Buda Secreto que há em si", "Quem foi o Filho de uma Cabra Montesa que me Roubou o Queijo de ovelha de Meia Cura" ou ainda "O Meu Anjo da Guarda é um Colas e Não me Larga o Lombo", o novíssimo lançamento: "A Entrega - mensagens de Jesus recebidas por Alexandra Solnado", o número 1 da colecção: "Este Jesus que vos fala".
Dei graças a Deus: ainda se faz bom ácido por aí! Por enquanto não encontrei, mas pelo sim pelo não já adquiri um daqueles quadros em que o J.C. abre e fecha os olhos quando o observador move a cabeça de um lado para o outro. Facilita a cena. Também já tenho a postos no leitor de cd's a faixa número dois do álbum "This Is Hardcore", só para ouvir o Jarvis Cocker a dizer: "I am not Jesus, though I have the same inicials, I am a man who stays home and does the dishes". Entretanto, o editor da Pregaminho já me prometeu a autoria do Vol. 2.
Estou em pulgas!

quinta-feira, setembro 08, 2005

Summer's Almost Gone!

Tentei, desde tenra idade, cagar para religiões, filosofias, artes e métodos para ascender a outros planos e todo o estilo de balelas e bazófias engendradas pela editora Pergaminho e paulistas ou cariocas com demasiado tempo nas mãos!
Fui por outro lado! Acredito que a necessidade de se acreditar em algo supra advém da profunda incapacidade de olharmos, com aqueles "olhos de ver" de que tanto falamos, o que nos rodeia! Logo, optei por estilo de vida ter uma relação íntima com a Natureza. Com "N" maiúsculo! Amá-la com tudo o que isso implica, incluindo aquele nó no estômago e arrepio medular quando se nos revela em todo o seu esplendor. Venero todas as suas manifestações sem falsas poesias. Sou, por exemplo, incapaz de pensamentos negativos, por muito mau que tenha sido o meu dia, se o ocaso tinge as nuvens de rosa!
Ainda assim, estou muito longe! Apenas porque odeio profundamente, abomino mesmo, a capacidade que tem um dia chuvoso de tudo molhar sem que disso resulte um único reflexo, o mais ténue brilho!