quarta-feira, dezembro 22, 2010

A XMas cArOL, nOt caRRoL

Rasgo-me de luz e serpentinas e confetis em despropósito de quadra, submeto-me a cintilares de bola de espelhos em danceteria decrépita, como se não sabendo que, nisto das danças, outras andanças, ainda que com menos espalhafato, decorrem longe dos olhos que, de cegos, vão tendo alguma coisa... até ao dia!

quarta-feira, dezembro 15, 2010

Like a Tree Bends With the Wind...

A vida já é suficientemente difícil... e tu tinhas que ter esses lábios?



segunda-feira, novembro 15, 2010

What Happened?

O que aconteceu às waffers Elba, as com recheio de morango, limão, ananás mas, principalmente, e temo que todos terão de concordar comigo nisto, as de chocolate? O que aconteceu à Maluca da Mouraria, a que se lavava por baixo na fonte do mercado, por entre a multidão a comprar alhos roxos ou pêros bravo de esmolfe e depois seguia com a sua vida, que era, basicamente, ameaçar pessoas ao acaso com uma pedra da calçada na mão? O que aconteceu aos filmes de Domingo à tarde com doces clichés que depois guardávamos para poder esfregar na cara da namorada que dizia É melhor darmos um tempo, como We can't stop the one we love from going. If, one day, it comes back, it's broken? O que aconteceu às Sloggy de algodão a cheirar a Omo? O que aconteceu à Ana Zanati? O que aconteceu ao dizer poesia aos Sábados à tarde, com um copo de vinho em frente, para uma pequena audiência realmente interessada? O que aconteceu à confiança no que se escreve, saber que todo o sentimento impresso é o suficiente e torna tudo à prova de críticas destrutivas? O que aconteceu às castanhas atiradas para a lareira num fim de tarde em que não apetece sair? O que aconteceu às tardes de feriado abraçados no sofá sem a mínima vontade de ir ver o amigos? O que aconteceu às máquinas de gelados, das de fazer um caracol sobre o cone, à porta dos cafés da Costa de Caparica? O que aconteceu às enguias do Seixal? O que aconteceu aos corvos em gaiolas à porta das tascas lisboetas, todos chamados Vicente? O que aconteceu aos The Pogues? O que aconteceu ao cheiro dos cadernos novos? O que aconteceu às maçãs que sabiam, realmente, a maçã? O que aconteceu ao acreditar que, um dia, as coisas poderão mesmo resolver-se? O que aconteceu, dIAZ? O que TE aconteceu?



terça-feira, novembro 02, 2010

Estória de EMBALhAR...

Julgo que QUASE todos os pais passam pelo suplício que é a "fase" em que as crianças adquirem o início daquilo que será, futuramente, o denominado Humor Jabardolas. Contando que este não refina, apenas apura o nível da obscenidade, optei por tomar as devidas medidas enquanto a coisa não passa do "xixi", "cocó" e "peido", ainda que, de forma obviamente incómoda, estes vocábulos sejam proferidos, na maioria das vezes, à mesa. Sabendo que, na impossibilidade de vencê-LO, mais valeria juntar-se a ELE, o dIAZ põe agora o Mariachito a nanar com um estória de encantar inventada por ele. A coisa teve tanto sucesso, texto e ilustrações, que o dIAZ decidiu partilhar convosco, meus TRÊS (3) leitores assíduos.

A Improvável Vida da Remela Joana

Pág. 1 - Gabriel acordava, todos os dias (menos ao Sábado), com muito sono. Por muito que, na noite anterior se lhe dissesse Tens que te ir deitar senão acordas com muito sono, ele pedia sempre Mais um bocadinho, inventando mil e uma desculpas para continuar a correr pela casa com as Meias de Andar Descalço.

Pág. 2 - De manhã, os lençóis da cama pareciam ter cola. Ou seria de estarem quentinhos? Gabriel virava-se para o lado esquerdo quando o pai dizia Acorda, filho e rebolava para o lado direito quando a mãe dizia Pssssst. Depois, esfregava um pouco os olhos e, ainda antes de abri-los, tirava as remelas, enrolando-as entre os dedos. Depois, deitava-as fora.

Pág. 3 - Naquela manhã, porém, Gabriel sentiu que a remela do seu olho esquerdo tinha algo de especial. Em primeiro lugar, porque era maior e mais dura que as do costume. Depois, porque o pai disse Deixa-me ver e ele só pedia isso em relação aos macacos do nariz, aos quais chamava burriés, coisa que o Gabriel achava estranha por ser o mesmo nome que tinham aqueles caracóis do mar que costumavam apanhar nas poças das rochas de Vila Nova de Milfontes e Praia do Malhão.

Pág. 4 - Gabriel e o pai olharam atentamente para a remela e acharam que esta era, na verdade, especial. Era uma bela remela. Parecia mesmo olhar para eles e sorrir, como que pedindo Por favor, não se desfaçam de mim. Guardem-me. Fiquem comigo. Eu adoro-vos. Gabriel e o pai olharam um para o outro, sorriram e disseram, quase ao mesmo tempo Vamos chamar-te Joana. A remela sorriu e aninhou-se entre os dedos do Gabriel, para dormir, porque as remelas são como as corujas, dormem de dia e à noite passeiam-se pelas pálpebras das pessoas.

Pág. 5 - Às escondidas da mãe, que normalmente tinha nojo destas coisas, guardaram a Remela Joana na caixa de um anel, sobre um pouco de algodão, para que se sentisse quentinha e confortável. Deitaram-na com muito cuidado para não a acordar e cada um deu-lhe um beijinho, dos doces, como os do Gabriel. Depois, o pai foi trabalhar e o Gabriel foi para a escolinha, que era o trabalho dele.

Pág. 6 - Ao abrir a porta, o pai despediu-se Bom karaté, filho. Chego a horas de jogarmos um jogo e o Gabriel respondeu Ok, pai. Trabalha bem. Fecha a porta devagar para não acordares a Joana. Parecia, pois, um dia normal. Mas ambos sabiam que tinham, agora, uma remela muito especial para cuidar com carinho.

Pág. 7 - O dia passou devagar, porque normalmente os dias em que apetece chegar a casa depressa passam mais devagar. Gabriel só pensava na Joana e na hora em que iria revê-la, dar-lhe abraços e fazer-lhe cócegas. Ao vê-lo a olhar o vazio, a educadora perguntou-lhe Em que estás a pensar? ao que ele respondeu Na minha remela que deixei em casa. Ela abriu os olhos, muito espantada, e exclamou Blééérgh.

Pág. 8 - À tarde, e como de costume, o avô dIAZ e a avó Natália foram buscar o netinho querido. Gabriel apressou-se a contar-lhes a boa nova e gritou, já no carro Ó avó e avô, eu tenho uma remela que se chama Joana e está guardada numa caixinha para eu brincar com ela quando chegar a casa. Os avós olharam para ele e disseram, os dois ao mesmo tempo Bléééérgh.

Pág. 9 - Quando a mãe chegou a casa dos avós, o Gabriel não lhe disse nada, sabendo que devia guardar segredo. Mas os avós não conseguiram fazer o mesmo e disseram Ó Marta, sabias que o Gabriel tem uma remela guardada em casa? A mãe olhou para ele, abriu muito os olhos e exclamou Bleeeeeergh.

Pág. 10 - Quando chegaram a casa, o Gabriel correu para a caixinha, abriu-a e Joana disse, enfurecida, Estava a ver que nunca mais. Estou à tua espera há uma eternidade, com a sua voz muito aguda. Gabriel disse-lhe Desculpa, amiguinha, mas eu tenho que ir para a escola e não te posso levar porque as pessoas têm muito nojo de ti. Joana olhou muito séria para o seu dono e começou a chorar. Sinto-me tão sozinha, soluçou. Gabriel fez-lhe uma festa na cabeça, mesmo por cima do seu cabelo amarelo esverdeado, e tentou confortá-la Estou certo de que o meu pai vai arranjar uma solução para isso.

Pág. 11 - Gabriel ouviu a porta da rua fechar e correu para o pai, dando-lhe um enorme e forte abraço, à homem, com palmadinhas nas costas e tudo. Pai, a Joana está muito triste porque se sente muito sozinha, disse. Foram os dois falar com ela. Assim que o pai abriu a caixinha, ouviu a triste remela a chorar, um choro muito esganiçado. Então, pequena, porque choras?, perguntou.

Pág. 12 - A Joana respondeu, muito zangada Estou muito sozinha, é horrível. O meu dono Gabriel disse que tu tinhas uma solução para isto. O pai sorriu, olhou para o filho e viu que também ele estava a ficar triste. Foi então que o pai levantou a camisola, escarafunchou o umbigo e retirou de lá uma bolinha de cotão. Tinha uns grandes olhos e um sorriso enorme. Depositou-a ao lado da Joana e o cabeludo amigo apressou-se a apresentar-se Olá! O meu nome é João Cotão. E o teu?, Remela Joana, respondeu ela, enxugando as lágrimas. Foi amor ao primeiro nojo!

Pág. 13 - Ramela Joana e João Cotão casaram e foram muito felizes. Fizeram uma bonita casa dentro da caixinha. Até tinham uma televisão com o Disney Channel, o Canal Panda e o Toy Story 3. Às vezes, de manhã, o Gabriel depositava lá outra remela. E outra. E ainda outra. Mas nunca mais houve uma que fosse tão boa e grande e dura como a Joana. O pai seguia o exemplo e, às vezes, quando chegava a casa, punha na caixinha mais uma ou outra bolinha de cotão, que era sempre da cor da camisola que vestia. Em pouco tempo, a caixinha tornou-se uma casa feliz e alegre, cheia de bolinhas de cotão a brincar e remelas a cantar e a jogar às escondidas. João e Joana foram felizes para sempre e nunca mais ninguém lhes disse Bleeeeergh. Muitos anos depois, Gabriel descobriu porque é que as pessoas tinham tanto nojo de remelas e burriés. Porque, quando se é crescido, chamamos-lhes "excreção". E isso é, realmente, um nome muito feio. Joana é muito mais bonito. Martim é beto, diz o pai.

sexta-feira, outubro 29, 2010

A pedido de VÁRIOS gourmands e imbuído de um espírito de PURO ALTRUÍSMO...

... o dIAZ vai revelar, agora e abaixo, um segredo mui bem guardado. Que faz, há mais de dez (10) anos, as delícias de alguns pRiViLeGiAdOs convivas...


Dificuldade - Média
Tempo de Preparação - 30min.
Tempo de Execução - 2h (mínimo)
Serve - 6 pessoas
Pairing de Vinhos - Tintos encorpados, de preferência com Alicante Bouschet a pelo menos 30% (ligeiramente frio) ou Brancos Fortes com estágio em madeira (fresco).


LISTA DE COMPRAS
Poderá pensar-se que é preciosismo, mas uma ida ao Martim Moniz é de ABSOLUTA importância. Escolha de entre os supermercados Popat Store (C.C. Mouraria, Loja 251-252), Hua Ta Li (Rua Fernandes da Fonseca, 16) e Coentrolis (Poço do Borratém, n.º 23 e 24) ou dirija-se aos três se cada um deles não tiver TODOS os ingredientes: 1 Barra de creme de coco | 1 Embalagem de caril Tikka elaborado na Popat Store | 1 Saquinho de cardamomo | 1 Saquinho de cominhos | 1 Saquinho de folhas de caril | 1 Saquinho de malaguetas frescas mistas (verdes e vermelhas) | 1 500gr de Arroz Basmati da última colheita (quanto mais novo, mais perfumado) | 2 Cebolas roxas firmes | 1 Cabeça de alhos roxos | 1 Embalagem de ghee (manteiga clarificada) | 3 Ramos de coentros COM RAIZ | 1 Raiz de gengibre fresco.


Os ingredientes adicionais passíveis de ser comprados em qualquer outro lugar são: 1 Frango e 1/2 (de preferência, galinha) cortado em pedaços médios | 1 Limão | 1 Litro de leite meio gordo | 1 Pimento
Sal, Pimenta Preta e um pau de canela.


O Caril
1. Temperar o frango numa tigela alta, de um dia para o outro, como sal, limão e uma colher de sopa de pó de caril. Tapar com um pano. 
2. Refogar, num tacho alto (preferencialmente, de alumínio) duas colheres de sopa de ghee com as cebolas picadas, dois dentes de alho esmagados, duas ou três malaguetas mistas picadas com as sementes, pimenta preta moída no momento, algumas tiras de gengibre fresco, o pau de canela e deixar ferver um pouco. 
3. Juntar o frango com o pimento cortado em pedaços médios e mexer para que todo o frango fique ligeiramente cozinhado.
4. Juntar mais uma ou duas colheres de pó de caril, mexa mais uma vez e junte o leite até que cubra cerca de 3/4 do frango. Tempere com sal, tape e deixe a cozinhar durante uma hora com o lume no mínimo.
5. Destape, mexa, e deixe por mais 30 minutos, para que o molho reduza.
6. Prove, rectifique de sal e pó de caril e junte o creme de coco. Quando este derretar, mexa outra vez e aguarde 15 minutos.
7. Desligue o lume e pique coentros frescos (raiz incluída) por cima.
NOTA: Esta receita deve ser elaborada SEMPRE com o lume no mínimo.


O Arroz
1. Aqueça uma generosa porção de água (esqueça as medidas portuguesas das duas chávenas de água para cada chávena de arroz) numa panela de inox com sal, duas sementes de cardamomo, uma colher de sobremesa de cominhos e duas folhas de caril. Tape.
2. Quando ferver, juntar duas canecas de arroz basmati (não lave o arroz) mexa e, a partir do momento que volte a ferver, conte 7 minutos.
3. Retire o arroz e escorra-o num passador. 
4. Coloque-o numa travessa com dois cubinhos de ghee, espere que esta derreta e mexa.







quinta-feira, outubro 28, 2010

Diz quem acha que sabe...

... que eu não gosto dos Estados Unidos da América. Generalizando os Estados Unidos da América. Não eu, mas os que acham que eu não gosto dos Estados Unidos da América, claro. 
Ao não gostar dos Estados Unidos da América, estava inviabilizada a hipótese de apreciar condignamente Yellowstone, o Grand Canyon, o Alaska, um ou outro troço da Route 66 e mulheres com silicone nas mamas aos 16 anos de idade. É ridículo. Até porque mesmo que estes não se encontrassem em território roubado, comprado ou conquistado de forma indecente pelos Estados Unidos da América, continuariam a existir (à excepção das loiras com mamas de borracha, claro). Lá porque se usaram técnicas como a distribuição de cobertores contaminados com varíola às tribos índias para adquirir terras, não quer dizer que a paisagem fique mais feia. Fica, isso sim, com menos índios. Mas, como dEUS é grande e não dorme, o feitiço virou-se contra o feiticeiro por forma a que hajam, hoje, tantos africanos, hispânicos, caribenhos e outros exóticos quanto não permitam ao país vir, tão cedo, a tornar-se uma nação. Mas esses são, ao contrário do que nos possam fazer crer, os bonzinhos. Os vermes odiosos são os rednecks e os texanos. Até prova em contrário, não são necessariamente viscosos ou verdes mas, ainda assim, são asquerosos e repelentes. Precisamente porque veneram um país que, para cúmulo da ingratidão, nem um serviço de saúde lhes concede. Hasteiam bandeiras e votam, imagine-se! Bem... são rednecks e texanos. Compreende-se. O que não compreendo é um português que ainda consiga dizer que os Estados Unidos são um bom lugar para se viver. Porque um belo lugar para se viver até eu acredito que seja. Como o é Montemor o Novo, por exemplo. E que, por acaso, até nem tem rednecks ou texanos. Pelo menos da última vez que lá fui. 
Ao contrário do que se pode pensar, eu até sou das pessoas mais compreensivas para com os Estados Unidos da América. Com todo o paternalismo possível. Porque sei que isto de ter apenas 250 anos de existência (como Estados Unidos da América) é, de facto, muito pouco tempo. Não dá, sequer, para perceberem que raio de coisa é que os une. Os Estados Unidos da América são, portanto, um fedelho. Mas, como todos sabemos, podemos aprender muito com as crianças. E eu acho que, por exemplo, daquele imberbe sistema governamental norte-americano até Portugal poderia tirar umas lições. Começando por constatar que um Democrata nunca será Republicano e um Republicano dificilmente poderá ser Democrata!







terça-feira, setembro 21, 2010

...

fazer as pazes com o mundo quando vejo os teus pêlos, loiros, na contraluz que traça raios por entre os buracos do estore, querer ir buscar a máquina fotográfica para que tenha um pouco disto quando bem me apeteça, não o fazer para que não te acorde e possa ter o teu hálito quente, húmido, apetecível de língua até à garganta, tenho uma erecção de rebentar, porra, só para mim, o hálito e não a erecção, pensar se isto também será assim com as estrelas de cinema, se também reparam, se os pêlos incomodam, se se raspam para que a picha pareça maior, se acham que, embora um pouco descaídas, as mamas da Julianne Moore ou da Jessica Alba são na mesma bonitas, apetecíveis, se têm vontade de lamber a prega da barriga, se o mundo pára por minutos quando todos os minutos contam, "se isto é um sonho não me acordem", como tantas vezes se lhes ouviu em filmes chatos e, porém, talvez nunca o tenham sentido, talvez sim, talvez deva fazer umas torradas com doce de tomate da minha mãe, talvez lhe deva meter umas nozes, talvez não deva ir mijar para prolongar esta erecção, que fica ainda maior quando me deito para o lado esquerdo, como agora, talvez o Cavaco se recandidate, filho da puta, talvez ela deva pintar as unhas dos pés de verde outra vez, não se lhes vê uma veia, foda-se são lindos, queria tanto poder metê-lo e ficar assim, imóvel, horas e horas a fio, falar de como foi o almoço, de como os semáforos da Avenida da Liberdade ficam todos vermelhos desde que se apanhe um, de como tenho a certeza que o vizinho de cima é bófia porque lhe vi as camisas azuis no estendal e, de vez em quando, muito de vez em quando, gemer, até que ela tenha a certeza de que sou eu, eu e mais ninguém, e todos falam de como doem as quedas mas o pior é, estando deitado, cair por terra...

sexta-feira, setembro 17, 2010

and nOw fOr sOmething cOmpletely different

Dá-me com o aspersor de relva que guardas no teu âmago, Cyntherea!!!

quinta-feira, setembro 16, 2010

Estereotipar para Esclarecer ou Limitar para Não Chocar? Mas quem é que está aqui para agradar? Arrumem-se, pá!

O dIAZ foi muito bem educado. Como tal, nunca teve cá MERDAS! 
E o paradoxo acima, fica avisado quem o entendeu como tal, só poderia ser detectado por um Beto. Que é a antítese do que a mesma deveria supor. 
Quando o dIAZ era mui novinho, se queria x ou y, sendo que x é igual a He Man e y é igual a Skeletor, tirava boas notas. Se, poucos anos mais tarde, queria ir acampar para a Lagoa de Albufeira com os amigos, lavava (com visível esmero) a loiça durante a semana e aspirava a casa no fim da mesma. Já adolescente, se em Agosto a maralha alugava uma casa em Albufeira, tentadoramente próxima da célebre Rua da Oura e suas kámones solícitas ou arribava, qual aterradora horda almadense metendo em sentido os demais campistas, na Ilha do Pessegueiro... Junho e Julho eram passados numa carpintaria (onde descobriu mil e uma utilidades para uma simples lixadeira eléctrica e suas não-sei-quantas rotações por segundo) ou mesmo nas mal-afamadas obras (onde descobriu, entre tantas coisas, algumas sobre as quais curará um pouco abaixo), dinheiro rápido e fácil. O hábito faz o monge, tira o hábito diz a freira, o dIAZ prosseguiu com esta filosofia de vida, bem simplista, encorajado pela família. A coisa não era assim tão engraçada na altura mas, agora, tira-lhes Mariachi o sombrero. Era o Bairro Alto a acenar com mil tentações e o dIAZ estava, todos os dias, depois do liceu, à porta do Atelier Escala, Maquetas de Arquitectura Lda, à Mouraria, onde aprendeu tanto e mais que muito. By the time a faculdade clamava por maiores gastos, o dIAZ atendia telefones e acartava placas anti-incêndio para que, hoje, a sua primeira namorada a sério possa trabalhar em perfeita segurança no edifício da Vodafone, no Parque das Nações, então um mero vislumbre do que seria a Expo 98 que nem chegou a visitar, entretido que estava com o Captain Kirk e o Incógnito. O currículo prossegue mas não num registo que interesse para aqui. Porque às profissões seguintes não lhes pega o estigma. Pelo menos, não tanto como às obras. O obril, como se lhe refere quem está imbuído do preconceito que, pois, criou um estereótipo. Não há portuguesa respeitável que não sofra por antecipação ao ver que se aproxima, perigosamente, de um andaimo. Qualquer escandinava instruída soltaria, no mínimo, um sorriso ao escutar um sonoro Tens cara de Modelo mas o teu rabo é um Continente. Assim como qualquer sopeira portuguesa se sente na obrigação de lançar um olhar reprovador ao ouvir um minimalista Ó jóia anda cá ao ourives, um mais-que-batido Ainda dizem que as flores não andam ou um mais refinado Com esse rabo deves evacuar bombons! O problema é que as mesmas mulheres são capazes de, logo a seguir, comer o namorado. O que, à primeira vista, até é aceitável. Se ele não tiver calçados uns sapatos-de-vela sem meias!!! Aí, passa a ser anti-higiénico! O que faz delas, e para não escrever algo mais ofensivo, umas porcas. E gente que não se incomoda com odores alheios, dificilmente cuida dos seus! E tudo por uma questão de status. A mulher portuguesa sonha com bíceps e abdominais definidos, fantasia com o garboso moço que lhe pintou a casa, lembra-se mais da publicidade da Hora da Coca-Cola Light do que do último papel do Tony Ramos em novelas... Mas opta pela (falsa) segurança. Pelo gajo que, vê-se logo, engordará como um barrasco mas ganha para o carro, pelo gajo que, vê-se logo, passará todos os fins-de-semana nas putas mas ganha para o colégio dos putos e para a vivenda na Aroeira, pelo gajo que, vê-se logo, tem tanta sensibilidade para as mulheres como um coveiro para a dor alheia, mas dificilmente contrairá dívidas à DGCI ou à Segurança Social. E depois? Depois é vê-las, no banco do passageiro do BMW X6, um ar tão triste como o de qualquer rafeiro da União Zoófila, a ler a Cosmopolitan com o título na capa "75% dos homens não sabem encontrar o Ponto G". Pois não. Mas os gajos d'O obril sabem. Vão lá direitinhos. Chamam-lhe é Céu da Boca do Cão









terça-feira, setembro 14, 2010

Eras

Seguravas-me com o intrínseco medo de me deixar fugir.

Beijavas-me com a sofreguidão dos filmes a preto e branco.

Amavas-me com a sensualidade de uma debutante em busca de um papel em Hollywood.

Dizias Amo-te com a voz que te vinha das entranhas.

Conversavas com a outra, uma colher de mel na faringe, amaciando cada palavra.

Sorrias-me com o brilho de uma criança perante um brinquedo novo.

Brilhavas como um diamante que eu próprio lapidei.

Ensombras agora os dias com o negro manto que cobre, a galope, a encosta da montanha.

Vai chover!



domingo, setembro 05, 2010

Uma Inferência de Final de Estio

Tem-se das pessoas que não fazem sexo há muito tempo uma ideia que radica num estereótipo. Que corresponde a um outro plano de... fome. Fominha, vá. Fomeca, pronto! Olham para um potencial parceiro sexual como um sem-abrigo para uma montra de frangos assados (ou, melhor, um pacote daquele vinho de temperar bifanas) e, uma vez atingido o seu objectivo, é a loucura... enchem o pobre coitado que se deu ao trabalho de chupões, arranhões, marcas de dentes nos sítios mais improváveis e, tal é o chavascal, fazem com que o já arrependido moçoilo tenha, na manhã seguinte, uma folha A4 na porta de entrada escrita pelo vizinho do lado: Para a próxima que fizer a matança do porco aí em casa, eu compro-lhe um quilo de rojões"...
Para mim, porém, a coisa compara-se mais ao que observo na praia. Mais propriamente, as pessoas que vão à praia com a mesma frequência com que o Cavaco Silva demonstra inteligência! Bastam 30 segundos para identificá-los. E não estou a falar da marca da t-shirt! É que tudo lhes faz confusão. Principalmente, a areia. A areia nos pés, a areia na roupa, a areia nas mãos. É, na verdade, um incómodo, a areia na praia. Esse estranho fenómeno da Natureza. Depois, há o mar... levantam os braços, suspendem a respiração ainda as ondas batem na cintura, mergulham (quando o fazem) com aquele porte de peru que esteve sempre no aviário e por um golpe de fortuna se viu em plena liberdade num tremoçal verdejante...
Há, pois, quem olhe para a senhora que JULGAM não ter sexo há muito tempo e diga Ui, aquilo é que deve ser um espectáculo. Eu também... olho e digo Ui, aquilo é que deve ser um espectáculo tão deplorável como qualquer uma das camisas do Toni Carreira! Eu e esses, contudo, concordamos numa coisa! Topam-se, realmente, à distância... mas por razões MUITO diferentes!





quarta-feira, agosto 25, 2010

Nem Queria Acreditar

É daquelas frases que me fazem sempre voltar atrás. Às outras pessoas isso acontece, geralmente, com Saramago. Talvez um ou outro Gabriel García Marquez, Lobo Antunes ou Kafka. A mim não. Mas um aparentemente inocente Nem Queria Acreditar faz-me confusão. Arrepia-me cada um dos meus longos e, felizmente, lisos pêlos do antebraço, aquela parte que envolve o rádio e o cúbito. Talvez até me arrepie cada um dos meus cabelos. Que são muitos, também felizmente. Por enquanto. Era-me inacreditável. Seria uma hipótese. E para dizer Seria Uma Hipótese também não foi preciso escrever Era Uma Possibilidade Que Se Afigurava, certo? Toda a gente percebeu, é simples, curto e grosso, como supostamente "elas gostam mais", assim como dos carecas, ou lá o que é, má sorte a minha, que tenho cabelo de chinês. Ou apenas Inacreditavelmente. Um advérbio de modo é sempre algo com alguma classe. Dá nível à coisa. É como o socorro prestado por um atempado Portanto a quem não tem absolutamente nada para dizer. É quase tão mágico como era o gerúndio antes das telenovelas brasileiras. Agora ninguém diz, quando recebe uma chamada, Ligaste em má hora, eu estava jantando. Parece mal. Sentimo-nos como um Duarte Lima ou um Toni Ramos e, pessoalmente, acho que pêlos em demasia é na cabeça ou, na pior das hipóteses, no antebraço. Aquela parte que envolve o rádio e o cúbito, portanto. De qualquer forma, Nem Queria Acreditar é uma coisa que obriga a delongas desnecessárias. Se alguém pisa uma bosta de cão logo pela manhã, das fresquinhas, ainda com a mesma coloração da ração Eukanuba ingerida de véspera, acabadinha de largar [a custo, por causa da velhice] pelo Cocker Spaniel da vizinha do 3.º Esquerdo que por acaso até é bem gira e usa a mão esquerda para segurar a trela e a direita para unir a abertura do frágil roupão que ameaça ceder a cada esticão do aparvalhado canídeo, pena é que, àquela hora, ainda leve um quilo de remelas em cada pálpebra e cheire a lençóis de 15 dias, Nem Queria Acreditar. Se, por outro lado, alguém ganha a lotaria, Nem Queria Acreditar. Se nos dizem O Patrão anda a comer a secretária em cima da fotocopiadora, por isso é que ganhas muito menos que ela e aquilo tá sempre com manchas, o Não Quero Acreditar talvez seja substituído por um Não Posso Acreditar. Que é, eventualmente, pior, tendo em conta que, aparentemente, precisamos da autorização de alguém para acreditar...
Presumo que, para nós, os tugas [todos, vocês também que só cá estão em Agosto, putain], seja mais importante Querer Acreditar do que Acreditar, de facto. E desconfio que seja essa a única razão pela qual ainda votamos. É impossível que ainda haja alguém que acredite. Mas Quer.




sábado, agosto 21, 2010

a mArGeM sUL eStÁ a MoRrEr...

Ficou-me, de um outro tempo, esta coisa do Sábado de manhã. Hoje, vou ao mercado com Mariachito, desejando, veladamente, ter uma vida que me permitisse fazê-lo diariamente. Ontem, que era o tal outro tempo, ia, de bicicleta, buscar leite à vacaria e pão a um forno a sério numa vivenda que ficava mesmo ao lado da Bruxa, cujos clientes assustávamos, a altas horas da noite, agarrando-lhes os pés naquele espacinho por baixo da chapa da paragem de autocarros onde aguardavam o 23 das 00h20. Entre aquela e a minha casa, uma floresta de pinheiro manso, que fazia de volta, o mais rápido que pudesse, sem parar na Casa da Árvore, para ainda ver a manteiga derreter sobre a primeira fatia de casqueiro. Mas isto era, não sei se já o referi, ao Sábado. E só de manhã. O quotidiano de todos os outros dias era igualmente campónio. Difícil de acreditar hoje, olhando para os mesmos sítios. O olival onde os gaios nidificavam, a floresta de sobreiros, as quintas de dadivosos pomares guardados por perdigueiros de nariz rachado, os exactos sítios onde havia tocas de ouriço, de lagarto e de coelho, ou ninhos de melro, de pintassilgo e de rabiruivo. 
É claro que, mesmo para uma criança como eu, muito deste lugar, Cerieira, Sobreda de Caparica, estava nas gentes. E está.
No pastor que, com o seu rebanho, guiado por um enérgico podengo, passava, diariamente, pela minha rua e, pois, ao Sábado de manhã, entregava oito queijos frescos às sábias mãos da minha mãe, que já haviam feito o doce de tomate que casava, por amor, com aqueles. 
No louco que o ficou por uma mulher e, sorte malvada e mais que muita, acabou com um couto no lugar do braço porque o burro o arrancou. Ainda hoje se passeia, sempre à pressa, a falarejar sozinho, pelos mesmos trajectos. 
No velhote que nunca foi visto sem o seu rafeiro. Quando aquele morreu, este durou uma semana, se tanto. Deixou-se ir, de desgosto canino, que eu pensava, até ali, não ser igual ao nosso.
Na Ti Helena que me recebia sempre de braços abertos, num deles um saco de damascos e figos, noutro uma cesta de ovos, os mesmos braços onde morreu, disse-mo tantas vezes, Catarina Eufémia, numa carregada pronúncia que trouxera das searas de Baleizão para aqui. 
Na casa em frente ainda hoje se vende gás. Do lado de fora do muro, à sombra de um frondoso diospireiro, uma fila de botijas amarelas, presas por uma corrente, remete esta terra para um tempo que já não é. E era sempre eu que ia, com um meio de transporte engenhosamente inventado pelo melhor marceneiro do mundo, o meu tio Tói, e que fazia a inveja de outros clientes que usavam um vulgar carro-de-mão, buscar o gás dos meus pais. Entrava, à direita sempre o mesmo rafeiro, à esquerda o poço e alguns canteiros de imprescindíveis aromas sulistas. Recebia-me sempre a mesma simpatia de Hermínia e o largo sorriso e suave aceno de Ti Graça. Ti Hermínia saía de casa ainda a mastigar porque, a maior parte das vezes, eu interrompia a bucha (vá-se lá saber porquê, o gás acabava sempre à hora de almoço). Das últimas vezes, entregava-me só a chave, incapaz de maiores esforços e exclamando Estes olhos já nã sã de fiári. Nunca, de fedelho a hoje, em qualquer circustância ou por razão alguma recebi outra coisa daquela gente que não fossem sorrisos, beijinhos e saudações efusivas. Mudei de morada e, a cada retorno, esse passado feito presente. Sempre. Ah, é o mê Nuno da Natália! Ti Graça, esse, era o maior. Digo-o porque era um daqueles velhotes com os quais é impossível antipatizar. A não ser, claro, que se seja um grande estafermo! Sempre na sua pasteleira Esmaltina impecavelmente estimada (porque era, de facto, o seu meio de transporte), molas da roupa por fora da baínha das calças de fazenda, impedindo-as de chegar ao óleo da corrente, samarra e chapéu preto tipicamente alentejano, os olhos esfumados dos muitos anos e a surdez, sempre presente desde que o conheci, Ti Graça tinha o sorriso de quem não deve nem teme, o aceno de uma educação de outros tempos, a candura de quem trocou um campo mais longínquo por outro aqui ao lado. Lembro-me de quase tudo o que conversei com ele, eu quase a gritar, ele sempre a ouvir, descascando um pêro com a navalhinha umas vezes, outras apenas descendo do selim da bicicleta. Lembro-me de quase todos os sítios onde me cruzei com ele, de menino a homem feito, sempre o aceno pronto, sempre o sorriso. Lembro-me de ter pensado, um dia, se tanta humildade transparecida poderia deixar que alguém exclamasse, um dia, Que Grande Homem Que Foi. Eu faria-o, sem problema, só por ver tanto Alentejo num só corpo, que só a idade começou a vergar. Essa altivez que ninguém precisa de apregoar. Vê-se. Lembro-me do seu rosto e da placidez do mesmo, o que, assumo, me é difícil com outros. Mas difícil, mesmo, é imaginar a rua transversal à dos meus pais, ou mesmo toda a Cerieira, sem ele. Para mim, ti Graça não representava apenas um lugar. Era, todo ele, um outro tempo. Bem melhor. Mas que já não volta. Ti Graça morreu ontem. E Que Grande Homem Que Foi!



quinta-feira, agosto 19, 2010

Desenho o teu rosto no ar...

... enquanto me deito na areia. Os pequenos grãos caindo sobre a minha face de olhos semicerrados pela luz do sol. Achei que ficavas bem sobre o azul. Tinha razão. Mas depois mirei-te um pouco, assim, nem uma nuvem em teu torno. E achei que, se pudesse, mudava-te as sobrancelhas. Ou só uma, vá. E fazia com que os teus lábios fossem mais quentes. Mas isso não se vê no desenho. Aposto que, neste momento, estão todos a pensar que sou doido. Não os que me lêem. Os que estão aqui, na praia. E eu com isso. E as orelhas, também mudava um ou outro pormenor. O orifício, principalmente, para que a minha língua coubesse toda. Depois há este ruído das ondas, que me dá sono. Não é bem sono. Esse vem com a calma. E alourava-te os pêlos dos braços, para que fossem dourados, mesmo quando não estás bronzeada. Mas este ano as gaivotas são uma praga. Quando a maré começa a encher, é um mar de penas e bosta verde, ácida, daquela que corrói a pintura dos carros. O ventre não seria tão liso. Falta-te aquela saliência que, de perfil, está paralela com o início da curva das nádegas. O riso das crianças era irritante quando não era pai. Agora, adoro-os. Comecei a desenhar-te o rosto e já estás impressa, assim, da cabeça aos pés, sobre este anil que fica bem recortado ali com a arriba. Os pés. Nesses, não mudo nada!


quarta-feira, agosto 11, 2010

Anedota "Virginie, tu va tomber" reinventada OU Meu Querido Mês de Agosto




Tenho alguma estima pela ameixeira que, por baixo da minha varanda, serve de abrigo para pernoita a inúmeros pintassilgos (Reino: Animalia, Filo: Chordata, Classe: Aves, Ordem: Passeri, Família: Fringillidae, Género: Corduelis). 
Ontem, depois de regressar de banhos de mar nocturnos com mi hijo, deparei-me com uma turba de putos (que nunca vi cá no largo) jogando à bola naquele chinfrim característico. Até aí, tudo normal e bom. Gosto (like). Aparte, porém, uma pequena ovelha negra divertia-se a chutar a bola, por baixo da árvore e com patardos de força, contra a copa, provocando a fuga, espavorida, de todo o bando em direcção às palmeiras em frente (que, como facilmente concluiremos, se nos colocarmos no lugar de um pintassilgo, oferece parca protecção). O petiz repetia, então, a operação (se bem que na palmeira, também eu o reconheci, não repercutia a espectacularidade da coisa), alternando entre uma e outra árvore. 
Ora, eu, que também já fui puto parvo, como todos os putos homens em idade disso, que corresponde mais ou menos à idade das miúdas parvas que querem ser veterinárias ou cabeleireiras e depois acabam a engordar atrás de um balcão da repartição, casadas com um gordão que, enfim, não vale um pirete na cama mas paga as contas a horas, até achei piada à coisa. Acho que cheguei, inclusivamente, a esboçar um sorriso. Quando, porém, aquilo começou a chegar a ciclos de dezenas, ou seja, já era uma coisa concertada e que, pelo ar decidido do fedelho, continuaria pela noite dentro, decidi intervir:
Eu - Ouve lá, páras com isso ou quê? Deixa lá os pássaros, pá!
Ele - Je comprends pas...
Eu - Ai não? Vê lá mazé se não apanhas já ligne bleue para a Porte Dauphine!
Ele - Quoi?
Eu - É quoi, é! Voltas pra Saint Denis que é um repent!
Entretanto, Mariachito aparece na varanda:
Mariachito - O que foi, pai?
Eu - Nada, filho, é um mec que está armado em parvo lá em baixo...
Mariachito - Um mec? O que é um mec?
Eu - É um avec, filho, desses de Agosto!
Mariachito - Um avec? Deixa-me veeeeeeeeeeer!


segunda-feira, agosto 09, 2010

RE RUN A ROUND


Rosa branca desmaiada
onde deixaste o cheiro
deixei-o no teu quintal
à sombra do limoeiro
...
à sombra do limoeiro
onde não sejas regada
onde deixaste o cheiro
rosa branca desmaiada 


- Popular -


Vistas as coisas de forma dura, como côdea de casqueiro bem cozido e pronto para sopas, não ia ao Redondo há seis anos. A última fiquei em casa dos Vieiras que me são mais chegados e não do Parreira, como sempre. Foi para uma passagem de ano de gente boa e enorme, ainda o chefe do clã sorria largamente em conversas de fio a horas. Por baixo da mesa, o Lambuças a esmolar festas. Por cima, vinho do Vitorino, conhecido assim mesmo, por este nome, e mais ninguém faz perguntas. É bom e pronto. Como quase tudo nesta terra. 
Passado tanto tempo, o regresso é feito de ronronares de estômago, como se o reencontro fosse com uma namorada que os anos levaram para longe e, pois, não sabemos se poderão vir réstias de vontades de beijos e outros. Os recuerdos assolam como mosquito de dengue abaixo dos 300m. Porque cheguei a quase fazer vida ali. Fim-de-semana sim, fim-de-semana não, a primeira hora era passada de braço esquerdo no ar em acenos e braço direito baixo segurando a mini ou o copo de vinho novo. Este fim-de-semana foi sim, ou seja, tudo se repete à excepção dos reencontros, que são mais efusivos, como tudo o que é bom na vida. Ti Olga, Dora, Gonçalinho, Zezinho do Plátano, Papo-Seco, Alexandre, Catarina, Domingos, Nestinho, Cochicho, Janita, Vitorino e Leanito vão surgindo à medida que os 41º pouco abrandam com o cair do negro pano, quando o Largo do Tribunal passa a ser um mar de gente por entre o burburinho das crianças e o grunhir de algumas bebedeiras, não fosse este um Portugal Maior. O calor extremo de agora dará, daqui a uns meses, lugar a um frio de se agarrar aos ossos com unhas e dentes. Entre os sobreiros e as oliveiras, o dourado tornar-se-á verde com alguns mantos de púrpura e amarelo lá para Fevereiro. O cheiro será o das lareiras de cozinha e braseiros de picão a aquecer por baixo da mesa do jantar. O Redondo mudou. Já há Centro Cultural e uma variante que evita a curva de S. Miguel de Machede, um novo mercado e até uma Praça de Touros. 
Mas essas são as diferenças que assolariam qualquer um, não eu, que tenho um naco de Redondo comido à bruta em idade disso. 
E sinto-o mudado porque já não há Jonatas ou Manel do Asilo. 
Mas há, ainda, a hipótese de alguém, como eu, cair de amores por uma terra que não é a dele. 
Ficar com ela para sempre, na boca o sabor de um cozido de grão, nos ouvidos uma modinha
Mesmo que só cá volte de quando em quando!





segunda-feira, agosto 02, 2010

Creative Suite Presidencial

Cada um faz com a Viagem aquilo que bem entender. Normalmente faz, com as fotos que daí resultaram, apresentações manhosas de Power Point que impingem, com um ar triunfal, aos colegas da repartição e aos convidados para um jantar lá em casa que se espalham, pelo Chateau D'Ax em pele azul, com cara de enfado, depois de um jantar que meteu bacalhau com natas da Bimby e três garrafas de Chaminé porque diz qué bom.
Estou longe de ser um Gonçalo Cadilhe. Que, algures na sua já vasta obra literária, largou um infeliz Os portugueses não sabem viajar. Acho que tinha a ver com o facto de irem em rebanho excursionista, de charter, para destinos sobrelotados e não, como ele, por barco ou à boleia por esse mundo fora. O pedantismo tem, por vezes, destas coisas. A sorte de se ter Cadilhe por apelido concede a alguns a hipótese de correr meio mundo, com todo o tempo deste e do outro, ao serviço do jornal Expresso ou não, e olhar, com o desdém próprio de quem está cheio de si, para quem não pode viajar de outra maneira que não pela mais óbvia. Depois, vem o charlatanismo devidamente publicado e que omite ser possível, afinal, retirar de uma viagem humilde tantos ou mais ensinamentos que das outras. Tudo depende do desprendimento do autor. Esse desapego de tudo o que sabemos como condição essencial para aprender mais. Afastar dos ombros o preconceito, que não é mais que um conceito predefinido, para nunca acabar num pós-conceito. Ver, sentir, beber e, se assim tiver de ser, vomitar depois... Pura Arte. Criar, portanto. Criar algo com algo que vimos mas continuamos a desconhecer. Que continua a ser longínquo dos nossos alicerces antropológicos e sociais. Mas que passámos a amar. Sem sequer saber muito bem porquê.





domingo, agosto 01, 2010

Saturday Night Live With dIAZ

Na Praceta Aquilino Ribeiro, Quinta Nova, Charnéque Sur Mer, há uma palmeira que larga o dendém na Primavera. No Verão, o chão é uma enorme extensão de sementes que Mariachito colhe, com delicadeza, e guarda nos bolsos da camisa, calções, calças ou o que seja que veste naquele dia. Diz que são ovos de dinossauro. Azar o meu que, um dia, terei brontossauros e triceratops a nascer na máquina de lavar, debaixo dos móveis ou mesmo atrás da sanita, para referir apenas alguns dos lugares onde já fui dar com os pequenos tesourinhos que ele junta num porco que deveria ser para acolher moedas. Ontem, porém, o fedelho encontrou algo mais fascinante... uma espécie de conta de colar em forma de feijão. Olha, pai, olha, este ovo é diferente, é de quê? Assumo agora que deveria ter demonstrado mais interesse Bah, é de Tiranossauro, pá, esse leva mais tempo a eclodir. Ainda os bichos-da-seda vão nascer primeiro! O enredo da noite tem início cinco minutos depois:
Ele - Paaaaaiiiii... vou meter o ovo do tiranossauro no nariz...
Eu - Ai não vais não, porque depois não consegues tirar e temos de ir ao hospital!
- Outros cinco minutos depois:
Ele - Paaaaaiiiii... meti o ovo de tiranossauro no nariz e não consigo tirar...
- Tentei o aspirador do ranho, a pinça das sobrancelhas da mãe, e até o olhar para o sol para que espirrasse e tapássemos todos os outros orifícios que interferissem com a narina esquerda. Nada. Clínica Charniqueira com ele. O enfermeiro tenta com várias pinças. Mariachito está estranhamente sossegado e colaborante. Portas-te muito bem, rapaz, diz o prestativo hombre, que não me levou dinheiro. Pois, eu sou do Benfica, responde o puto, que toma, só ali, real consciência do que fez. Desculpa, pai, por te ter desobedecido deliberadamente [a fala do Rei Leão que repete sempre que pode ]. O enfermeiro desiste: Não consigo. Está muito fundo. Tem de ser um otorrino. 
Hospital Garcia da Horta, que serve Almada, Seixal, Barreiro e Montijo, sendo que as urgência pediátricas destes dois últimos encerraram. 1h03m depois da chegada: Não temos otorrino a esta hora. Terá de ir para Santa Maria. Penso, mas não digo É curioso... até dia 15 deste mês tenho de pagar 160€ de Segurança Social e não creio que um simples "não tenho dinheiro agora, vão pedir aos ricos, meus chulos dum cabrão" sirva de desculpa. Em direcção a Lisboa, estão 36.519 carros de pessoas que vieram, sem pagar (acho bem), desfrutar das praias para a manutenção das quais pago eu a contribuição autárquica (acho mal). Penso, mas não digo É engraçado... Nem para estas situações existe um dístico de Morador que me facilitasse a coisa, como aqueles que isentam quem reside em Lisboa, cidade que me obriga a pagar €1,40 para lá entrar e cerca de €1 por hora de parquímetro se levar carro. Eu vou, contudo, trabalhar, isto é, contribuir para o suposto avanço das coisas. Não vou apanhar sol e banhar-me no Atlântico!!!
Já no Santa Maria, chamam-nos para a triagem 1h43m depois da chegada. Mariachito está, como sempre, eléctrico. Corre, canta, fala pelos cotovelos e restantes articulações. Penso dizer-lhe Ouve, pá, tens que te fazer de doente para sermos atendidos mais rapidamente. Se mostras que estás bem nem amanhã saímos daqui, mas achei que deveria evitar lições de Português-A-Lidar-Com-A-Merda-Que-Pode-Ser-Viver-Em-Portugal para daqui a uns anos. Aguarde na sala-de-espera, ordena-me, sem um por favor ou outra reverência qualquer, a enfadada senhora. Penso, mas não digo Aguardar? Mais ainda? Lembrei-me agora que até dia 15 de Agosto tenho de pagar o Trimestre do IVA e talvez não possa exclamar, perante o executante que se faz acompanhar sempre por GNR's quando vai numa de penhorar bens, "Olhe meu caro amigo, aguarde aí no átrio do prédio por favor, enquanto eu tento ganhar honestamente a vida, já que não posso vender drogas e armas, forma curiosa de fugir ao fisco"
Quase 3h depois, chamam-nos. Penso, mas não digo O meu filho só tem quatro anos. E, porque é meu, é um puto especial. Quererei eu este país para ele? Merece ele este Estado? Não! Encorajá-lo-ei a sair de Portugal até que este seja um lugar feito para os portugueses, o povo mais belo do mundo. Por agora, é feito à medida dos cães-de-fila do Estado, os privilegiados. Militares, polícias, funcionários de Câmaras Municipais, Tribunais, Finanças, SEF's, Segurança Social, são gente que se queixa de barriguinha-cheia. E não se recusam a assumi-lo. Apenas não fazem a mínima ideia do que é estar pior que eles. Quando esta gente se queixa, arreda, sem sequer dar por disso, todos os outros, que estão PIOR AINDA, para o Quarto Escuro. O Buraco Negro que é ser-se português com Cartão de Contribuinte. 
Quase 4h depois, Mariachito já está desobstruído. A Ponte 25 de Abril não. 
Do lado da foz do Tejo, ainda há luz. É púrpura e faz um jogo de sombras com o Padrão dos Descobrimentos, os silos da Trafaria, o Bugio. Penso, mas não digo Merece este Estado um Povo destes? Não. Vamos todos embora daqui. Gente de real valor, os talentosos, os bons... Partamos e sejamos os eternos retornados de Angola, recordando para sempre as belezas naturais, as tasquinhas, as sardinhadas e os dias de praia até à noite, as vindimas, o queijo de Serpa, as rapidinhas entre as rochas do Sudoeste Alentejano, as cadelinhas a brotar da areia da Fonte da Telha, as anémonas a agarrarem-nos os dedos nas poças das rochas das praias. Mas façamo-lo longe daqui. Deixemos isto entregue a quem estragou! A quem continua a estragar. A quem assina, nas Finanças, ordens de penhora de bens e depois consegue dormir à noite. Aos polícias que ganham percentagem sobre as multas que passam. Aos funcionários de todos os guichets públicos que nem um sorriso dão a ninguém, tratando-nos como robots, lá porque o são! 


Por mim, pelo meu filho mas, também, pelo mais belo povo do mundo, com todos os seus bónus, buços e ausência de dentes incluídos, cheiro a ovelha e insanas conversas de pastores, donos de tascas com canários estridentes de norte a sul, unhas sujas de quem trabalha a terra do condado, velhos com cães obesos, de bengalas de loureiro e bóinas aos quadrados, mulheres de pescadores a chorar mortes que viram da praia, mães como não há no resto do mundo, rostos morenos de rugas fundas a sul, rostos rosados a norte, camisas e samarras no pino do verão, copos de branco antes do almoço, litros de tinto depois do jantar, por todos eles e outros ainda, desde que portugueses, os verdadeiros e bons, os humildes e Grandes, os que Criam, não os que Destroem...


... Quero mesmo muito que este país SE FODA!



sexta-feira, julho 30, 2010

Slow Days

Sim, é uma boa definição de férias, penso. Não saber, a certa altura, o que fazer, tal é a oferta, e ter um ligeiro desconforto com isso. A praia estava insuportável [mesmo dentro de água] e voltei para as divisões ligadas por um corredor onde corre uma leve brisa. A possível. O meu Yamaha Natural Sound AV Receiver RX-V450 processa isto, porque o novo dos Arcade desiludiu-me. Por agora. Talvez daqui a uns dias volte a tentar. Mariachito e sua priminha Leonor, cansados da sua monótona vida, cheia de preocupações e agruras, decidem alegrar os seus dias, cinza e agoirentos, coitados. Eles, não os dias. O dIAZ continua a ouvir música, recostado no pouff-de-ouvir-música. Os fedelhos, como que sabendo que ser-se criança é feito de pequenos nadas que, quando só restarem lembranças, serão recordações a puxar largos sorrisos, daqueles que se têm num transporte público e as outras pessoas ficam a achar que somos malucos, colocam mão à exigente obra. Munidos de um marcador de ponta grossa, pintam, cada um a sua, as duas unhas dos dedos grandes dos pés do dIAZ. De Azul. 
Olho com demora, como que apreciando a execução técnica da coisa.
E Sorrio. 
Não estás zangado, tio? Quem lhe responde não sou eu, é ele: Não, Leonor, o meu pai não se zanga com estas coisas. Eu lanço mais um olhar sobre A Obra, confesso que pensei por momentos como haveria de tirar aquilo, mas lembrei-me depois disto: Como tenho um filhO, nunca me ocorre que as miúdas poderão ter, de facto, estas coisas de brincar às Corporation Dermoestéticas e Coiffeurs e Peluquerias e Unhas de Gel Nails r' Us. Limitei-me, assim, acometido de uma repentina sapiência em lidar com piticas, a dizer Não foi uma boa escolha de cores... o azul não dá com o meu tom de pele e, aliás, não tenho nada para vestir com isto! 


Ó tio, o que é que estás para aí a dizer? Não percebi nada!