quarta-feira, outubro 26, 2005

Os Manos do Outro Lado!

Ah e tal e mánãsêquê e a rádio não passa música nossa e a que ouvimos é Johnny Peter Parents e bostas afins cobertas de moscas de reflexos verdes! Diga-se de passagem que o que ocorre em Espanha não é exemplo, mais as ketchup e o venao e os Diegos el Cigalas com os seus litros de óleo Fula no cabelo e voz de quem está sentado na sanita depois de uma noite de Bahjis, Masalas, Xacutis, Kormas e Bebinkas de sobremesa! O Brasil, sim, é um exemplo para o mundo! Quando os autores e intérpretes de Música Popular Brasileira (MPB) se viram ameaçados pela invasão anglo-saxónica, fundaram o movimento Tropicália, que surtiu o efeito desejado. Hoje em dia, continua a haver MPB da boa, do melhor que se faz no mundo (exceptuando os infelizmente ainda não fuzilados Netinho, Simone, Daniela Mercurocromo e aqueles rambórios nordestinos que, como qualquer praga, andam sempre aos pares), mas mesmo assim as grandes pérolas estão no passado, no tempo em que os grandes sambas e cançonetas eram interpretadas pela malta lá do bairro e não por uma gaja com um bruta par de pernas e cocaína até à medula óssea! Identifico uma em especial, espelhando a concepção de que "para bom entendedor, meia..."

(risos e, logo a seguir, uma pronúncia de favela carioca, bem ao estilo do Malandro na Ópera do Buarque)
"Vamos voltar à pilantragem
'eixa comigo... uma musiquinha pra machucar uns corações!

Nem vem que não tem
nem vem de garfo que hoje é dia de sopa
esquenta o ferro, passa a minha roupa
Eu nesse embalo vou botar pra quebrar

Nem vem que não tem
Nem vem de escada que o incêndio é no porão
tira o tamanco, põe esse treco no chão
Eu nesse embalo vou botar pra quebrar

Nem vem
numa casa de caboclo
já disseram um é pouco
dois é bom
três é demais

Nem vem
guarda seu lugar na fila
todo o homem que vacila
a mulher passa pra trás!"

terça-feira, outubro 25, 2005

Som

Música para os meus ouvidos

Dias cinzentos
Maliciosos atentos
Gente infeliz
Fanfarrões, falsos portentos
Fazer o que o outro diz

Quero lá saber
se tenho de o fazer
Arrependimento atrás da porta
Em poucos anos vou morrer
Mas nada mais importa

se eu tiver

Música para os meus ouvidos!

O amigo Rufus...

...larga algures no Want One o seguinte:

"I'll never know
what you show
to other eyes
go
or go ahead
and surprise me..."

Faço das dele as minhas e há quem, para gáudio meu, aceite o desafio...
Haja o outro lá de cima!

segunda-feira, outubro 24, 2005

Ze Dias

O meu pai dá-me abraços daqueles que doem nas costas.
Filho meu não passará sem o mesmo!

Charada

Pensa em mim como um lugar
Aquele onde te amo
sempre que te deitas

sexta-feira, outubro 21, 2005

Um dia

Uma idosa cede lugar à prenhe
Uma gorda atraente... e porque não?
Um chinoca lê o jornal, que estranho
Um puto bezunta atira o papel ao chão

Um louco caminha sobre o traço amarelo
Passa um cão com doença no pêlo
Abandonado? Talvez...
Amanhã estará aqui outra vez

Tanto óleo no cabelo, aquele
Ao lado, a do brilho na pele
ainda que o céu de chumbo, sol ausente
roube a cor a toda a gente

Aquela de saco na mão
levará talvez a merenda
E aquele, com o embrulho pardo
para quem será a prenda?

Tantas vidas se cruzam
de manhã, alegrias tão raras
não o são corpos lindos, belas caras
decotes em camisas que já não se usam

Uns fumam, outros acham mal
coisa outrora tão banal
O ar é de todos, bem sabemos
De olhos no chão pouco vemos
neste andar aqui insulso, mau de sal!

Todos queremos qualquer coisinha
vida tua, vida minha
normalidade a quanto obrigas
Nascer, comer, dormir
acordar, descender, ascender
Trabalhar, correr, parir,
Cuidar, enfim, morrer!

quarta-feira, outubro 19, 2005

Oscar Tobias J&B Adolfo Diaz

Sinto falta do meu cão!
Nome? Oscar, como tantos
Ladra
corre
salta
rosna
ou não...

...faz nada disto e fala
gemendo de orelhas para trás
com a certeza que eu entendo
como sempre fui capaz

Quando me vê, mais nada importa
comer, cadelas, bolas ou mais ninguém
Senta-se junto à porta
a vista um pouco torta
estrabismo ligeiro
que, a como um filho,
nem noto

não fora nos olhos o brilho
de quem diz: "estou velho"
e um dia destes
morto!

segunda-feira, outubro 17, 2005

Retorno

Toco-te
e tudo é
É-o como eu próprio passei a ser
mais que ontem, que amanhã, talvez
ser-se maior que alguma vez

A forma como o teu cabelo
se intromete nas nossas bocas
O passar das horas nossas
quantas mais, contudo poucas
O arranhar dos teus brincos na minha cara
A forma como o teu coração dispara
O suspiro no meu pescoço
Teu ventre sedoso
Os olhos dessa cor, mesmo quando chove
Este entusiasmo que me move

Se não é aquilo, é o quê?

sexta-feira, outubro 07, 2005

Adeus oh vou-me embora!

Olaré...
Mochilita às costas como eu gosto. Nada no porão. Caderninho sem linhas que laptop é coisa de roto. Caneta de aparo que não sofre com a pressurização da cabine. Menos sozinho que o costume. Pouca roupita, que no destino logo se topa, pelos transeuntes, o ideal para o clima, geralmente disponível sobre lonas à beira de ruas principais. 32º em Pokhara, hoje! amanhã 28º em Kathmandu. Humidade: 0%, o que permite ver, de Boudha, a pouquitos quilómetros da Freak Street, onde vou ficar, os Himalaias.
Imagino a costumeira - e apaixonante - confusão asiática: ruas a transbordar de gente, a buzina por dá cá aquela palha, o riquexó com e sem motor, o cocktail de odores de caril, insenso, gasolina com mistura a 2% dos motores Piaggio e Bajaj e flores de frangipani. O grito do nuezzin a chamar para a oração (almuáden em português), o gongo do templo budista e dezenas de pessoas a correr para receberem no cucuruto, em plena Durbar Square, a água-purificadora. Sadús de cara pintada sentados no chão, fumando do chilom mais do que comem pelo prato. Lentilhas com arroz ou dahl baht, que é o mesmo. Carne seca de iáque. Bolinhos de haxe, bolinhas de ópio, copitos de aguardente de arroz bhasmati. Música de vozes femininas mais estridentes que a própria cítara. Observar a mancha escura do ocaso que demora uma hora até cobrir por completo o Everest.

quinta-feira, outubro 06, 2005

É clips

Quando o Eça decidiu fazer escorrer do aparo umas quantas linhas sobre isso (já lá vamos), talvez ele próprio estivesse consciente do lugar-comum. Todos sabemos que o campo e a cidade divergem. O que ninguém conclui, principalmente quando um conjunto de prédios e poucos espaços verdes equivalem a mais oportunidades, emprego e, logo, um pouco mais de dinheiro, é que a cidade EMBRUTECE! E não estou a falar só do espelho de imbecilidade que é a afirmação "O campo é bom porque o ar e a comida são melhores".
Ser um bicho da cidade é ignorar a própria ignorância! Até certo ponto, é compreensível. O progresso, que deixou de nos servir vai para 20 anos, criou a ilusão de que a cidade oferece tudo o que precisamos. Falso. Os centros urbanos roubam-nos aquilo que temos de melhor. Em relação à sensibilidade, o que nos superioriza dos outros animais, o urbano é um CEPO e, como animal racional, está para o homem do campo como um caniche está para um rafeiro... Este último é capaz, em tempos de adversidade, de virar um contentor do lixo para comer. O caniche morrerá à fome!
O exemplo do eclipse: alienadíssimo do seu papel no ordenamento do Cosmos, o Homem da cidade ignorou-o ou, pior, observou-o pensando que teve a noção do que se passou. Até pode ter percebido que, enfim, a Lua passou entre o Sol e a Terra, uau, tenho a informar-te que o teu filho sabe-o graças à instrução primária! Bragança, aí sim, deu-se um eclipse! A temperatura passou dos 24 aos 6º, as vacas recolheram aos estábulos, os pássaros recolheram às árvores, o silêncio invadiu tudo ao mesmo tempo que um manto preto envolveu todos! Ali, os homens tiveram a noção de que fazem parte de um todo e cada um tem um papel a desempenhar. Na cidade, todos continuaram a pensar que a vida é isto! Isto o quê?

segunda-feira, outubro 03, 2005

Tempo

Três semanas...
...são uma vida!
lugar-comum
como outro
algum
que não mais que isso seja
mas dê-me ao menos
algo que se sinta, veja
Se não te posso ter a pulsar
junto de mim...