sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Devaneios de 6.ª à Tarde

Odeio ter razão.
Comprem o Épsilon de hoje.
Uma grande salva de palmas, daquelas batidas de pé e ao alto, enquanto se espera pelo 3.º ou 4.º encore, ao caríssimo Vítor Balanciano.
Obrigado por seres um cota, como eu, ou seja, a antítese do Velho do Restelo.
Porque és um Velho do Bairro.
Como eu.
Porque consegues imbuir-te da imparcialidade necessária ao jornalismo (que eu, de forma assumida, não pratico), mas, ainda assim, captas o depoimento de Pedro Costa, Professor do Departamento de Economia do ISCTE e investigador do Dinâmia, o Centro de Estudos Sobre a Mudança Socioeconómica, que lidera o grupo de trabalho para as Estratégias para a Cultura em Lisboa e que larga, a dada altura, esse precioso Não é compatível ter uma área criativa e vanguardista sendo massificada.
Sei muito bem a tua opinião sobre este assunto.
E é por isso que te aplaudo.
Eu e quem percebeu essa piscadela de olho que é uma página inteira dedicada ao n.º 121 da Rua do Norte.
Ou as declarações do próprio Cramez.
Ou do Murka, a quem não tive oportunidade de dar o costumeiro abraço, na semana passada, numa colectividade na Rua dos Fanqueiros, quando ainda nem o tinha visto e conheci, de ouvido, aquele arrancar súbito do disco do DJ anterior para, segundos depois, beijar a audiência com os primeiros beats que guardavam, em segredo, e como sempre, um gigantesco Isto Agora é Que Vai Ser.
Dói muito mais ver um velho decrépito, seja ele do Restelo, do Bairro ou de outro lado qualquer, quando se o amou, como a ninguém, no auge da sua vida.

Devaneios de 6.ª de Manhã

Já lá vão 6 pessoas: Eh ó dIAZ, grandes buracos que tens na t-shirt.
Nota mental: Não fumar brocas deitado!

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Um Carnaval Caparicano

O Entrudo é, no calendário católico-apostólico-romano, a festa que antecede a Quaresma, isto é, os 40 dias de proibição de ingestão de carne confeccionada ou crua aos empurrões até à Páscoa.
Eis que são, pois, tradicionalmente, os três dias em que as pessoas tentam comer o mais que possam por forma a não sentir necessidades de maior.
Eu, que estou longe de aplicar qualquer espécie de religiosidade à minha Little Beautiful Life, estou tão desperto para o Carnaval como para uma tigela de sopa de feijão verde.
Foi, por isso, com surpresa que, ontem, fui acordado à estalada por um Mariachito... morcego! Apeteceu-me gritar, da cama, à projenitora Eu não disse que hoje ele vestia a máscara de prisioneiro evadido? Não tive tempo para o mau-despertar que me é tão característico... Ó pai, ó pai, ó pai, vamos de bikikéta à furésta! Claro, tinha prometido. Um gajo deve sempre ter muito cuidado com o que promete a um pequeno humano com a memória a estrear, daquelas 2 X 4Gb Intel Cuore Duo.
Pequeno-almoço frugal e já estava tonto, de tanto ver um morcego aos saltos, um verdadeiro atleta com resistência física invejável e de equipamento profissional com o mais alto patrocínio da Loja Chinês. Mesmo assim, teria preferido o prisioneiro evadido.
Saímos, então. Pedala, dIAZ, Mariachito na cadeirinha atrás, canta, berra, grita Já vou!!! a quem buzina, ordena É a subir, pai, levanta-te! e, enfim, chegamos à primeira clareira. Ponho-o no chão e ele fica, estático, talvez a reconhecer a imagem dos desenhos animados, sei lá, pensamos nós que uma floresta é uma floresta, mas serão todas diferentes. Esta tem, aqui, na franja, tojo e acácias. Mariachito corre, grita Vamos procurar cogumelos e coelhinhos e esquilos, apanha paus e penetra agora pelas sombras dos pinheiros-mansos e bravos, escava com as mãos, deita-se na caruma, rebola e eu sorrio, sorrio muito por ver um morcego a correr na Mata dos Medos, essa que dará lugar a uma estrada se não tirarem, urgentemente, a Maria Emília do poleiro. Mariachito pergunta, indaga, exclama, responde com um cróóóóó ao cróóóóó dos corvos, e corre e ri outra vez e o único Não! que ouve da minha boca é em resposta à possibilidade de tocar num ninho de processionárias. E ri e corre e pára junto à falésia, o espanto visto por trás, aqueles braços pendentes e pernas ligeiramente flectidas. Olha uma vez para trás, outra como quem não acredita e, por fim, Pai, é a praia e o mar. Pois é, meu filho, isto é onde tu moras, uma floresta a 5 minutos de casa e o mar a 10, este é o deslumbre de hoje e amanhã, penso, não lhe digo, que ele há-de perceber. Senta, pai, senta na furésta a ver o mar. Pois sento, aqui, à beira, e explico-lhe tudo. E agora vamos almoçar e depois dormes e depois vais à praia.
Chegados a casa, corre à mãe e gageja, de tanto que quer contar Ó mãe ó mãe e fomos à furesta ver as ávures e os shquílos, e os órishus e os úrsus e eu falei com os cóvos e o pai apanhou pinhas e vimos a pimeira andorinha quié da pimavéra e eu vi a páia e vamujátarde, sim? E, antes que a mãe pudesse dizer qualquer coisa, E tenhuma fuôr pa ti. PIM, o desarme, à pai dIAZ.
À tarde, o morcego vai à praia e espera que todas as gaivotas poisem neste espelho de maré-vaza, até que o sol se ponha e ponha, com isso, um ponto final ao Carnaval dos outros.
Que este é só para alguns!

Higiene / Assepsia

São dois conceitos que, hoje em dia, se confundem.
Aliás, a malta anda confusa, pelo que nem será esta uma das maiores indistinções.
Eu é que tenho saudades de apanhar uma pêra com lagarta.
Que sabia a pêra, por sinal.
Ou de esquecer-me de limpar um pouco de açúcar do balcão da cozinha para, daí a uma hora, ter um carreiro de formigas daí a um pequeno orifício que ia dar a sei-lá-onde.

Sinceros parabéns a quem conseguiu colocar-nos nesta redoma que, há 20 anos atrás, só era concebível em filmes de ficção científica.
Sinceros parabéns a quem gasta do seu dinheiro a consumir (ou, pior, a dar aos filhos), actiméis e el casei imunitasses afins.
Sinceros parabéns à indústria farmacêutica que, desta forma, garantiu a sua longevidade e empregos nos laboratórios quando a Crise, mais que esperada, chegasse.
E, em nome da Humanidade, obrigada a quem contribui para isto numa base diária.
Bem podem continuar a reciclar se, por outro lado, amukinam a salada!

segunda-feira, fevereiro 23, 2009

Das Krisen

Pois que só faltava mesmo eu.
A crise, essa mafarrica!
Mas só curarei em relação à que atingiu o sector onde trabalho.
Dos outros nada sei.
Nem deste, afinal.
Guardo, dos meus primeiros tempos por aqui, uma frase que repito ad aeternum...
... quando os designers começam a gritar Estas fotos estão uma merda ou Faz-me aqui uma legenda ou Pedi 12 mil caracteres e tu mandas-me 17 mil? Agora cortas que te foxtrotas, limito-me a erguer a cabeça, fazer aquele ar de Gato das Botas no Shrek e dizer, com a maior calma do mundo Ó amigos... chatearmo-nos para quê? Isto é só revistas!!! Na maior parte das vezes, resulta.
Outras não.
Como a publicidade.
Temos que a crise que se instalou nas revistas, que fecham uma atrás de outra (a última foi a Com Out, na qual assinava, de sorriso na cara, um artigo de música), se deve à crise na publicidade.
Os grandes anunciantes tiveram, este ano, um rombo no orçamento tal que cortaram para mais de metade as pubs em papel e televisão.
Ora, se por um lado já não esperamos 30 minutos pela próxima parte de um filme na TVI, por outro lado andam pessoas a ser despedidas.
Falamos de gente.
Dois olhos, uma boca, um cérebro, algumas com outros olhos, boca e cérebros delas dependentes, outras com barriguinhas bonitas e cabelos que, enfim, ficam sempre bem numa redacção, para não falar de outros lados.
Outra GRANDE prova de provincianismo.
Diz que agora é a net.
Agora.
Agora, que nos países mais desenvolvidos já perceberam que não.
Que o uso recreativo da internet é mínimo.
Porque, em economias onde TODA a gente trabalha TODO O DIA com computadores, ninguém chega a casa e pousa o laptop no top do lap e anda por ali a ver não sei o quê.
Ou é o site do banco, ou o jumbo online ou, então, é caminha ou copos.
O HI5 é Brasil, Portugal, Ucrânia e comunidade lésbica à escala global, com as inevitáveis rémoras (machos, com foto no profile de óculos escuros) sempre a tentarem colar-se à alheta, esperando fazer com que uma ou duas delas (bonitas, de preferência) deixem de bater pratos e passem a empacotar alheiras à ganância.
Temos, então, que as publicações que não percam a sua edição impressa não só serão, no futuro, as que sobrevirão (obviamente), como também passarão a ser icónicas.
Não vale a pena tentar reacender a chama voltando às bancas depois de um período em que traíram a confiança de fiéis leitores, por muito poucos que restem.
Nessa altura, esses já a terão encornado com outra do género que teve, basta, a coragem e a auto-confiança, bradando, alto e bom som Estamos aqui porque sem nós o mundo era pior.
Isto não quer dizer que não tenham, à mesma, a sua edição online.
Tem é que ser muito, mesmo muito bem feita.
Este portugalismo do Para quem é jardineira de lulas basta já não dá subsistência.
Se se faz, por exemplo, uma edição online de uma revista de fotografia, faz-se MESMO!
Se se é um jornal como o Washington Post que apoia jovens documentaristas então faça-se a coisa valer a pena!
Aprendam...
... ou deixem trabalhar quem sabe, ao invés de se armarem em algo mais que meros Proprietários de Fábricas de Calçado de Guimarães com a mania (e sim, estou a falar de 90% dos administradores portugueses, seja do que for)!
Cada símio no seu ramo da escala evolucionista!

E parem de culpar a crise!
Incompetência não tem que ser desresponsabilização...

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Uma Pensão Portuguesa, Concerteza... daquelas asseadinhas e com loiça do Bordalo Pinheiro nos corredores...

Olha, João...
... Tinhas, em mim, tudo contra ti.
Odeio Nova Iorque sem nunca lá ter ido.
Que é a pior forma de ódio possível.
Remeto para um canto obscuro das prateleiras lá de casa tudo o que lhe faça referência.
Talvez a Balada de Hill Street, e aquele gatinho com chapéu azul que miava no fim seguido de um di di di da da da da da dum tenha exercido, sobre mim, uma influência inversa.
O Spike Lee e os seus Clockers também.
Um John Torturro feito todos os orfãos apátridas de uma cidade que não acolhe.
Empurra de beco em beco.
Fazem-me espécie as cidades que não têm cães e gatos vadios.
Não quer dizer que não existam, apenas que não se vêem.
Com eles, animais, desaparece também uma boa maquia de humanidade.
Conhece-la bem, tu, percebe-se.
Não se percebe, porém, se a amas, ainda que, caso sim, seja à tua maneira, como julgo que ame à sua cidade cada nova-iorquino.
Mas tens, quanto a mim, uma maneira muito tuga de trincar a Grande Maçã.
Que é a mesma de trincar outra pecinha de fruta qualquer.
Sempre com uma réstia de saudade de uma boa, inconfundível, única e doce pêra rocha do Oeste.
Bombarral ou Tramagal ou Lourinhã.
Para depois de um robalo de 2kg da Berlenga.
E essa tuguice de se estar bem e aprender a amar a forma da própria sombra sobre o padrão do chão em qualquer lado do mundo, é muito nossa.
E tua, pois.
Não traçarei comparações.
Mas fizeste-me lembrar o Cossery, mais que o Auster de que tanto te rotularam.
Uma cambada de Timbuktus, é o que é.
Terás, portanto, mais cosseridade que austeridade, o que é, quanto a mim, bom.
Tens, contigo, a capacidade do enredo.
Com essa, o ritmo de um fio-à-meada feito de pequenos nadas que, juntos, saciam.
Não conheço mais que o teu Hotel Memória.
Mas lá irei.
Até lá, nada de manifestações de gáudio e mariquices.
Aceita, porém, um forte aperto de mão, rapaz!

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Esta coisa da internet, ainda que tenha sido um advento, também nos roubou...

...poesia, por exemplo!

Há uma certa poesia em esquecermo-nos, por exemplo, da letra de uma canção que nos marcou em tempos.

Saber, por isso, que eles, os tempos, já não voltam!

E não fazer grande esforço pelo contrário.

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

E quando o Mundo até parece um sítio melhor, com tanto sol...

... nasce a possibilidade de ver notícias da TVI durante 24 horas!

Suicídio, meus filhos, suicídio!

terça-feira, fevereiro 17, 2009

Por um Carnaval mais digno...

Não gosto de música brasileira.
Já ouvi isto INÚMERAS vezes.
Vezes demais.
Denota ignorância.
Muita.
É a mesma coisa que alguém que ouve Mafalda Veiga e Luis Represas dizer, de peito cheio, Não gosto de música portuguesa.
A um canto, taciturnos, abandonados, ficam o Godinho e o Palma, de mãos dadas, tentando consolar-se mutuamente.
Quem não gosta de Música Brasileira, esse termo TÃO REDUTOR como, por exemplo, Partido Popular, não está a falar (espero eu, senão é apenas Mau Gosto Profundo e Surdez Irrecuperável), do Chico, do Caetano, do Jobim e por aí fora.
Refere-se a intérpretes que, com o Carnaval à porta, avançam perigosamente em direcção aos nossos ouvidos.
Lizette Sangrá-lo, Daniela Mercury e Netinho, só para citar alguns paquidermes do género, já marcham, para gáudio dos tristes e pesadelo de quem decidiu fazer do seu Carnaval uma autêntica quadra... e já tem isto no leitor de cd's.
Só falta carregar no play.

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Mas afinal... quem é a IGNORÂNCIA???

É uma gaja estranhíssima.
Tão próxima e inesperada que, ao tomarmos dela consciência, aleija.
Em relação a isto, por exemplo.
Mesmo que, na língua original (tupi), mandu'wi signifique enterrado.
E pois que é só isto, pronto.

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Um Post tipo aqueles Mails MUNTA FOFINHOS de 6.ª Feira com Sol, mas à dIAZ...

Um ventre de mulher visto contra a luz que entra pela janela, com aqueles pêlos minúsculos, loiros.
Uma margem de rio, entre o espelho de água onde brincam algumas espirais de névoa e os chorões dobrados sob o peso dos ramos.
Uma pegada de criança na areia, vestígio de maré vazia.
Uns lábios rubros numa face branca.
Uma anémona que nos envolve o dedo.
Pestanas grandes em olhos escuros.
Um penso rápido num dedo petiz.
Um pássaro canoro em estertor primaveril.
Uma seara em Maio.
Uma seara em Setembro.
Um cigarro aceso numa noite sem lua.
Uma papoila num tremoçal.
Um sorriso de olhos fechados.
Um ombro moreno.
Um relâmpago no mar.
Ou isto...

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Inside A Killer's Mind

Gostava deles assim, crocantes.
Pastéis de Chaves, chamavam-lhes lá na pastelaria que, nas grandes cidades, pensa-se que só vende doces mas, na verdade, vende, como o nome indica, pastéis. Doces ou salgados.
Doce era ela.
Crocante, também, como eu mais gostava.
Magra, com aquele osso da púbis demasiado saído e que me impedia de comê-la à missionário, sob pena de poder sofrer um rasgamento da bexiga.
E aqueles ossos das ancas como duas hastes, que me faziam nódoas negras.
Aqueles braços finos, crocantes, estaladiços, pelos quais a agarrava, indefesa, elevando-a no ar a cada estocada, quebradiça.
Quebrou.
Crocante, como eu mais gostava, sobre a vitrina dos pastéis de Chaves, estaladiços, o mar de sangue a desaparecer por baixo da máquina do Euromilhões.
Estaladiça, ossos, um a um.
Está fria, agora.
Não gosto, assim...

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

Fashion (David Bowie theme style)

Este ano, fui um fashion creator.
Depois do Heroin Look, da Kate Moss (pela Calvin Klein), nos idos 90's e do Sculptural Fashion de cujo porta-estandarte eram Grace Jones e Brigitte Nielsen, nos longínquos 80's, inventei o Sem-Abrigo Fashion.
Como passo muito pelo Carmo, vi-me perseguido pelo Tenente gritando Eu compro os direitos, eu compro os direitos. Mas, assolado pelo desconforto do remorso, decidi que a actual conjuntura não estava para brincadeiras. Abortei a missão, considerando que, neste ponto, ninguém está a salvo de uma intempérie que, para quem trabalha a recibos verdes, só para citar o meu próprio exemplo, pode aparecer num ápice. Uma espada de Dómocles presa por um pêlo de bigode de chinês.
E assim nasceu uma outra moda, by dIAZ à mesma, que denominei de Fashion Contabilista. Consiste num cardigan (vulgo casaquinho de malha à Henrique Viana), com gravata e camisa por baixo, jeans de algodão orgânico e téni tipo all star (sapatilha, portanto, porque tenho leitores acima do tejo), padrão tweed.
O Tenente ainda não se pronunciou.
Mas a Jessica Athayde já.
Como, porém, sou um homem sério, não divulgo o teor do seu alvitramento.
Posso apenas revelar que lhe respondi Os teus dentinhos de coelho também te ficam a matar, principalmente quando pousam sobre o teu lábio inferior com a graça de um melro em galho de pinheiro-manso.
Nunca mais me telefonou.
Merda!

terça-feira, fevereiro 10, 2009

Clube Lua, 15 de Outubro de 2006...

... e eu, de boca aberta, a pensar dEUS meu, não é Portugal que não está preparado para isto.
É o Mundo.


Prova disso é que, ao contrário do que acontece com quase todas as bandas depois de um concerto por Terras Lusas, mesmo que apenas razoável, Owen Pallett, ou Final Fantasy, pronto, continuou a arrepiar caminho em confortável clandestinidade. Por aqui.
Cerca de um ano antes, no Lux, havia xô Andrew Bird deixado toda uma audiência no estado em que eu ali estava, agora, aposto que com uma expressão muito similar à de quem descobre, pela primeira vez, a textura interna de uma vagina Ah, então é isto! No wonder it makes the world go around...

Lembro-me que Mr. Owen Pallett ostentava uma indumentária que dava conta da sua nacionalidade, como quem grita O Canadá também é América do Norte e os lenhadores dos E.U.A. só usam estas camisas aos quadrados porque nos roubaram o Alaska, assim como roubaram meio México por muito que continuem a chamar Flórida à Florida...
Lembro-me que, quando subiu ao palco onde só estava um violino, um orgão e, no chão, um conjunto de pedais de efeitos, pensei Oh não, outro Andrew Bird não, que eu vou chegar a casa com aquele sorriso de quem se submeteu aos caprichos de três morenas de Lesbos consumidoras de absinto com láudano.
Assim foi.
Não as morenas de Lesbos, mas o One Man Show que deixou, ao início, as cerca de 100 pessoas numa espécie de prisão de ventre emocional para que, então, a cada apoteose, que poderia vir de um solo do instrumento ou da voz naquele timbre de elfo, tudo se desfizesse em diarreia de choque, desinteria de comoção. A certa altura, o público, iluminado, era um mar de Fátimas Lopes depois de 15 dias a Activias.

Levei dois anos a consumir os álbuns possíveis e à espera deste Spectrum 14th Century, um EP que, ao início, sabe a pouco. Não agora. Estou satisfeito. O mundo também. Porque já não há paciência para grandes espalhafatos. Porque cada vez mais os incógnitos brotam como formiga de asa às primeiras chuvas. E dessa omissa Toronto, este irmãozinho mais velho dos Arcade Fire, que toca ao vivo com o Patrick Wolf, que colabora com a Björk, Last Shadow Puppets, Grizzly Bear, que é, pois, reconhecido de todo o mundo, vai ter, se tanto, mil portugueses a usar o cartão FNAC para poder ouvir isto. E mil gatos pingados tornarão difícil um regresso às nossas salas, para que se saiba que, ao vivo, fica assim.

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Música de Qualidade - Esse animal que, não estando em risco de extinção, requer porém alguma atenção...

Quando o Outro Senhor dizia que Só há dois tipos de música, a boa e a má, estava lleno de razón.
Para quem a ouve, mais do que para quem a faz, é, como tantas outras vertentes desta vida, uma questão de educação.
Ou seja, assim como um gajo pode aparentar ser de boas famílias (fatinho, gravatola, BMW, sapato vela ao fim-de-semana) mas, ao ser submetido ao Teste da Pessoa Que, à Sua Frente, Paga 11 Contas no Multibanco, deixa escapar um Válávêr que há quem tenha de ir trabalhar porque nem todos vivemos do Rendimento Mínimo, também há por aí muito erudito do Jazz e coisas ditas De Elite que pára no VH1 Rocks para ver o David Lee Roth a bambolear as ancas, nadegueiros redondinhos por baixo de calças de licra azul, debitando o tema, em tradução livre, Salta dos Van Halen. Conheço até quem, ao ouvir rádio no carro, não mude de estação ao primeiro trinar da voz da Beyoncé e o justifique com um A Gáija é boua, ou seja, ouço música de merda, mas conservo a minha masculinidade, mesmo que não esteja sequer a ver os glúteos da menina...
Há quem seja, no que toca a gostos musicais, um auto-didata. Eu. Nunca ninguém me educou nesse sentido.
Comecei, pois, por subir à árvore para colher a fruta mais à mão. Segui, depois, pelos ramos mais finos em direcção àqueles que eram os frutos mais doces até que cheguei aos galhos, o refinar da coisa. Muitas vezes, caí. Acontece. Mas, cito outra grande prova de que a malta é muito mal educada no que toca à música, Nobody Said It Was Easy...
O meu pai ouvia apenas Frank Sinatra e, vá lá, por volta dos meus dez anos, andámos da Valentim de Carvalho à Discoteca Roma em busca de uma coisa qualquer que ele ouvira na última paragem na Mauritânia e de que já nem me lembro o nome. Havia, também, lá em casa, um LP que conservo com carinho e cuidados de alfarrabista, Nat King Cole sings Mariachi, que explicará muita coisa. À minha mãe nunca concedi cultura musical para que me deixasse corromper por aquelas coisas em que ela pousava a agulha, apesar das minhas súplicas. Mas, hoje em dia, arrependo-me disso quando vejo gente da minha idade a assistir, sem qualquer problema de remorso, a concertos do Tony Carreira, Xutos, André Sardet e Buraka.
Vejo-me, assim, e comparando-o ao acima, obrigado a tirar o chapéu e fazer meia-vénia a um senhor que já lá vai, embora ainda não esteja morto. Antes que seja alvo do ingrato furor pós-sucesso, como António Variações, Tony de Matos, Carlos Paião, Doce e outros que tais.
Letras más em música bem composta. Há coros, orquestrações bem esgalhadas, com direito a secção de cordas e metais muito inteligentes, há uma bateria colada do melhor dos 80's, há um baixo sem grande execução mas minimamente interessante e, nas colunas, há todo o trebble que chegue para trazer tudo isto cá para cima.
A minha mãe tinha razão, como sempre. Isto não é excelente. Mas é muito melhor que muita coisa que praí anda, endeusada, ao invés de ao Deus Dará, como seria justo.
Meus senhores, apresento-lhes, sem qualquer vergonha, The Man!

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Decisions for LIFE

É com mágoa que tomo a decisão.
Com pesar, desgosto e muitos, muitos remorsos que, desconfio, prosseguirão no tempo.

Sempre tive a Super Bock como cerveja de gaja!
Doce, leve, quase sem gás quando se bebe da garrafa, intragável quando é de lata.
À Sagres conhecia-a desde as fotos da Guerra da Guiné do meu pai, dos piqueniques na Lagoa de Albufeira, das prateleiras das tascas onde, pela mão do meu avô Chico Padeiro, mendigava uma sombrinha da Regina.
Travei, com ela, anos mais tarde, um conhecimento mais próximo. As primeiras bezanas e o desconhecimento de como lidar com elas, com aquele chão que fugia, com os ombros onde tinha de me apoiar.
Àquela garrafa, nesse tempo ainda bojuda, confessei paixões e segredos, pacientemente, até que as gotículas empolassem o rótulo e esse descolasse, elegantemente, do vidro castanho.
Aquele sabor, ligeiramente amargo, era viril, refrescante mas também alimentício. Deu-me de comer em tempo de fomes de espírito.

Um dia, ainda novito, fui ao Porto.
Pedi Sagres em inúmeros cafés.
Nada!
Apenas olhares desconfiados.
Então quero uma mini.
Suó Creistále!
Ou seja... o que para mim era uma gorda garrafa de 33cl unindo Portugal era, afinal, brazão sulista de quem os fiéis consumidores de Super Bock queriam independência, nem que fosse económica.
Uma tasca de porta debruada a anil em parede caiada, ao lado da qual um pequeno degrau acolhe uma série de gente, sentada, de bóina e samarra, olhando o montado defronte, de Sagres na mão? Marruócos!
Caracóis e Sagres? Com meil frauncesinhas!!!
Decidi, então, que não tocaria numa Super Bock. Só em caso de vida ou morte! E assim andei, ideologicamente satisfeito, até hoje:

O suplemento de economia do Público faz contas... o único accionista da Central de Cervejas, que produz e distribui a Sagres, é a Heineken. Empregam 1000 trabalhadores.
A Unicer, de onde sai a Super Bock, emprega o dobro dos portugueses e apenas 44% dos lucros sai do país para a Carlsberg. Os restantes 56% das acções pertencem à Viacer (Violas, Arsopi e BPI)...

Em tempos de crise, são as pequenas iniciativas individuais que garantem a viabilidade de alguns empregos. E é por isso que beberei, a partir de agora, Super Bock, com esporádicas traições (só uns beijinhos) numa ou noutra mini.

Mas choro!

Profissionalismo - Uma Redefinição

Desde que há o digital, todos dávamos um fotógrafo qualquer.
Desde que há a Bimby, todos dávamos um cozinheiro qualquer.
Desde que há a Pergaminho, todos dávamos um novelista esotérico qualquer.
Desde que há a Oficina do Livro, todos dávamos um novelista exotérico qualquer.
Desde que há o Windows, todos dávamos um informático qualquer.
Desde que há entrevistas de rua, todos dávamos um opinion maker qualquer.
Desde que há o poder de voto, todos dávamos um irresponsável qualquer.

É, assim, mais que lógico que a prostituição seja a mais velha profissão do mundo e continue, na maioria dos sítios, a não pagar impostos!

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Filthy Bastard... But In Style!!!

Vista de fora, a festa estava, no mínimo, sinistra...

Por dentro estava, no máximo, pior.

A estação de Rossio, esse sagrado edifício, transformado em profano festejo à conta de uma marca de café que é assim a Bimby dos expressos.

Havia uma moçoila digna de nota, ainda que não superior a €50, com um vestido prateado a solar com um saxofone sobre temas house. Não lhe vi os pés, mas julgo poder aventar que domina o instrumento.

Havia sushi e massas confeccionadas no momento. Cheirava, portanto, a peixe e alho, que é cheiro a bordel quando elas não se lavam por baixo nem a faca com que picaram o refogado por baixo de água mas da corrente antes de entrar ao serviço. Mas, enfim, é fashion. Coelho à caçador, que cheiraria a alecrim ou migas com entrecosto, que cheirariam a coentro É QUE NÃO. Seria labreguíssimo! Ainda que levado à boca com pauzinhos e não com a navalhinha de lâmina Ivo Inox que saiu nos furos do Retiro do Caçador, em Bencatel.

Do mal o menos, havia também caipiroskas de framboesa, maracujá, tangerina e canela, laranja e o que mais houvesse no Pingo Doce naquele fim de tarde, confeccionadas por barmaids nota 10 (€). Vi-lhes os pés e não gostei. Mas avaliando pela maneira como sacudiam o shaker, atrevo-me a aventar que dominavam qualquer instrumento que se lhes metesse nas mãos ou boca.

Havia gente da TV, gente das revistas, gente a quem lhes dói os braços a cause de tanto se pendurarem.

Havia, porém, amigos. De quem tinha saudades. Uma delas diz-me que formulara, num artigo, a teoria de que os homens se dividem em dois grupos: Os dos rabos e os das mamas. Penso, repenso, bebo mais uma caipiroska de kiwi com baunilha, tripenso e engulo mais um sashimi de ovas de peixe-voador e, não tenho outra hipótese, rendo-me às evidências: Xô Dona Martinho, Vossa Mercê tem toda a razão. E dou-lhe material de estudo...
Os gajos das mamas são os passivos, aqueles que ficam por baixo para poder observar a forma como saltam, o volume que ocupam nas mãos, o bouquet de odores e sabores que emanam misturados com a saliva que nelas depositam, são pessoas com um profundo complexo de Édipo por resolver, começam por gostar de mamas, acabam a não saber cozinhar, passar a ferro, aspirar ou pregar uma merda de um quadro porque a mamã, que afinal comem sempre por baixo, faz tudo ao menino!
Os gajos dos rabos, pelo contrário, são os activos da história, os dominadores, aqueles que não descansam enquanto a cópula não assume contornos canídeos, com nalgadas, polegar no ânus e tudo a que se tem direito quando se está por trás e não se tem, à frente, um espelho onde ela possa ver quão patética pode ser a expressão de um gajo nestas alturas. Regozijam com nádegas que abanam apenas duas vezes a cada investida que faça Pás, veneram aquele olho que fica, ali, desarmado, a fitá-los, suplicante, põe aqui, põe aqui, também sou gente, as mãos que cravam unhas nos lençóis, a gritaria e o chavascal que, desejam, possa produzir efeitos na vizinha do lado, que por acaso até tem um belo rabo: Ó Cavé, aqui o nosso vizinho é fogo, vê lá se aprendes qualquer coisinha e, se dão alguma atenção às mamas, é porque o guarda-fatos ao lado tem espelho e, pronto, têm piada, assim, como sinos a chamar rebanho a comungar, ó mãe ó pra mim sou o gajo que toca carrilhão em Mafra!

Martinho - E tu, dIAZ, que queres é pés... em que grupo te revês?
dIAZ - Sou o gajo que as deixa à chuva para ver como o cabelo cai sobre os ombros...

terça-feira, fevereiro 03, 2009

The Horror... The Horror!

Kilgore: Smell that? You smell that?
Lance: What?
Kilgore: Napalm, son. Nothing in the world smells like that.
[Ajoelha-se]
Kilgore: I love the smell of napalm in the morning. You know, one time we had a hill bombed, for 12 hours. When it was all over, I walked up. We didn't find one of 'em, not one stinkin' dink body. The smell, you know, that gasoline smell, the whole hill. Smelled like... victory. Someday this war's gonna end...

Kilgore, ao som d'A Cavalgada das Valquírias, de Wagner, adorava o odor do napalm pela manhã.
Eu, tendo em conta que a alternativa possível é a puta da chuva há mais de quinze dias...
... também!