quinta-feira, outubro 30, 2008

Cuidado com o que desejas...

Sou urbanodependente.
Ainda não alcancei aquela paz, aquela plenitude emocional que nos garante as devidas defesas de toda a carga negativa de uma cidade.
Não sentir necessidade de um centro onde se desenrolam as actividades mais desumanas e desumanizadoras é, pois, ser-se Maior!
Eu, como pequeno que sou (ainda), sinto-me vazio de estímulos quando passo muito tempo sem tornar a Lisboa.
Exijo-me, contudo, um retorno diário à paz interior.
À esteva, pinheiro manso, alecrim aos molhos e molhos de coentros roubados à vizinha.
Um dia, retornarei ao campo.
De vez.
Quando conseguir, por exemplo, não ficar completamente chocado por ter de assistir, enquanto espero pelo autocarro, à senhora que mata a galinha para o almoço.

sexta-feira, outubro 24, 2008

Petição anti-Petição on-line BAIRRO ALTO

Exm.º Sr. Presidente da Câmara de Lisboa,
É com muito agrado que acolho a medida que visa encerrar os estabelecimentos de diversão nocturna no Bairro Alto às 02h.
Percebo a sua revolta.
Explico a minha.
No Tempo do Bairro Alto (Fins de 80/todos os 90), também havia descontentamento dos moradores. Não poucas vezes levei, eu e os meus amigos, com baldes de água. Que caíam das janelas, num silêncio traiçoeiro, sempre no inverno ou aquando da feitura da última ganza. O que, parecendo que não, é chato! Porque ainda nos esperava toda uma rua do Alecrim, o Barco das 6h45 e o autocarro em Cacilhas.
Nesses tempos, de cada vez que o Bairro ameaçava "morrer" na sua essência, o que acabou por ocorrer nos últimos cinco anos, melhorava, só para chatear.
Foram as Docas, que serviram de íman à bimbalhada. Durante os três anos que se seguiram, o Bairro foi, na verdade, aquilo a que hoje aspira. Um sítio único. A inveja das outras capitais Europeias, mergulhadas num marasmo mainstream. O Bairro tinha o Captain Kirk, por dEUS.
Depois, a Expo. Eles vinham de Santa Comba Dão, das periferias de Paris em autocarros com a bandeira nacional no vidro traseiro. Vinham, também, do Lumiar. Engarrafamentos de gente faminta de Daniela Mercury na Praça Sony. O Bairro, esse, brilhava. Um chá e roupa usada na Outra Face da Lua, enquanto a noite caía. Depois, logo se veria.
Pouco tempo depois, o Lux. Foi o princípio do fim. Porque o Lux também morreu. E o Bairro tornou-se "o que há". Nada de pior podia ter acontecido. Ou sim. Talvez o facto de, inacreditavelmente, os frequentadores do bairro de hoje acharem que ainda é cool. Só duas coisas podem justificar este tipo de pensamento:
1 - Ignorância. Porque desconhecem, por esta Europa fora, o que é REALMENTE cool.
2 - Ignorância. Não conheceram o Bairro quando este era, REALMENTE, Primus Inter Pares.
E foi esta gente que assassinou um dos melhores sítios do mundo. Arribaram às resmas, novos, universitários. Conheci-os aos magotes. Elas nem sabiam que, aqui, já se fazia depilação. Vinham de Amarante e Fafe, deslumbravam-se com um ambiente que, contudo, já definhava, e usavam o dinheiro que os pais desviaram das suas fábricas de calçado e artigos têxtil para ROUBAREM as casas aos Lisboetas AUTÊNTICOS (sim, os sacanas que mandavam baldes de água pelas janelas). Esqueceram-se que, contudo, todos envelhecemos. E essa gente que era munta cool e julgava os outros pelos penteados e indumentária tornaram-se pantufas, fizeram filhos e, agora, o ruído dos bares e das gentes "faz-lhes confusão". E vai de fazer petições atrás de petições.
Conseguiram.
Bem feito!
A todos os que estragaram o Bairro, os meus parabéns.
A todos os que me chamaram ISTO E AQUILO por não suportar ver, nestes últimos anos, a parada de saloios que tanto poderiam estar ali como na Day After viseense, ergo-vos os copos.
Mas de plástico, claro.
E só até às 2 da manhã.
Com o devido respeito, FODAM-SE!

quarta-feira, outubro 22, 2008

oLd bAsTaRd

Sou do tempo em que tudo era melhor!
Assim, sem mais rodeios e indisponível para aceitar o contrário...
A prova disso é ser possível sentir saudades do Tolan.
Esse mamarracho que era o farol dos cacilheiros, o prenúncio da chegada a Lisboa, a vista de tantos casais enamorados (ou não, porque a tusa é que interessa - homenagem a Dinis Machado), sentados no Cais do Sodré, de olhos postos nele (Tolan) e mãos nas braguilhas mútuas, de ímpetos reprodutivos quase tão intensos como os das ratazanas que saltavam entre rochas sem nunca escorregar no verde manto que as cobria (às rochas).
Tolan jazia, de proa orgulhosamente invertida (era, portanto, o Nalot), entre o Cais das Colunas e a antiga rampa de acesso aos ferrys, náufrago de um tempo em que se soubera o porquê de tal desventura. No meu tempo, poucos eram os que o poderiam atestar. Tolan era, simpesmente. Estava ali. Era mais lisboeta que os Beirões que chegavam, às resmas, ao Campo das Cebolas, via Resende, e saltavam directamente para trás de um balcão de café para servir bifanas e jaquinzinhos de ontem com dedos de enchada e unhas negras. Muito mais lisboeta que os universitários que foram chegando e ficando nos bairros antigos de casas recuperadas, interiores irreconhecíveis, nem o lava-loiça de mármore ou o calendário da Nossa Senhora de Fátima sobraram, quanto mais o cheiro a peixe frito entranhado na cortina do postigo. Estes, nunca viram Tolan. Sabem lá o que é Lisboa!
Tolan era a cidade. E todos nós. Era Portugal! Uma velha que se sentava à mesa do café às 9h, pedia um garoto e ficava até às 16h??? Imediatamente alcunhada de Tolan. Alguém que, depois de uma semana de prisão de ventre, ia à casa de banho e dava as suas 14 puxadelas de autoclismo como inúteis? É porque deixara, encalhado, um Tolan!
Com ele se foi tanto folclore. Uma talhada da nossa cultura, arrancada à bruta. A dor da perda, Tolan. Encalhar, esse teu mal, fez tão bem a Portugal. Que era outro, nesse tempo. Melhor, pois. PÓING!

These Are The Days

Mariachito estava de castigo. Na escola, batera no mâninu duj ócus.
Sentado, no canto do quarto, impedido de levantar-se, fitava, como é seu costume, desde muito pequeno (não agora, que já tem dois anos e três meses), o infinito. De súbito, lá deve ter ocorrido uma das suas fabulosas ideias, sempre mirabulantes, geniais, de um refinamento que me deixa parvo, de se safar desta. Normalmente, resulta. Esta vez não seria excepção. Começa por mãe, pai, mãe, pai, mãe, pai, mãe, pai, mãe, pai, mãe, pai e, ao ver que está a ser ignorado, Nuno e Marta... é o desarme. Ele sabe-o! Vou.
Mariachito: Pai, tenhu namuáda, na 'cóla.
dIAZ: Ai sim? E como se chama?
Mariachito: Chama Vitó'ia, da Vitó'ia Vitó'ia acabou a histó'ia. É linda.
dIAZ: Ai sim? E como é que ela é?
Mariachito: Tem ujóios bancos e vêdes e cabêuos.
dIAZ: E o que fazem vocês, dão beijinhos?
Mariachito: Não não, pai.
dIAZ: Porquê, filho?
Mariachito: É pigôjo.

segunda-feira, outubro 20, 2008

All The Joy's Gone

Quando o Outono avança, inexorável monstro castanho, lamacento, viscoco, babão...
... a minha alegria escorrega-me entre os dedos.
Esconde-se como se vão escondendo os pés no feminino.
É um Planeta impiedoso, este.
Não deveria haver temperatura que as obrigasse a cobri-los.
Que nos impedisse de, num dia cinzento e frio, pensar que o mundo é, afinal, bonito, só de olhar para dez pequenos, alinhados e perfeitos dedos de pé de mulher.

sexta-feira, outubro 17, 2008

Le Temps qui reste

Não tenho tempo.
À excepção dos dois minutos que demora fazer um upload disto.
É só para saberem que ando por aí.

terça-feira, outubro 14, 2008

Sweet talk, no guts

Horny Babe: Mas eu queria tanto! Dás-me ganas, pá!
dIAZ: És loira pintada e eu não curto de tapetes que não condizem com as cortinas!!!
Horny Babe: Eu pinto o cabelo de preto!
dIAZ: O cabelo não é problema. Não gosto é de pêlos.
Horny Babe: Rapo-me toda.
dIAZ: Não tenho paciência.
Horny Babe: Deixo uma moicana.
dIAZ: Não tenho tempo.

segunda-feira, outubro 13, 2008

Ainda da Beleza

Quão difícil,
disfuncional
É ser-se
outra vez
ano após ano
este prenúncio
outonal

domingo, outubro 12, 2008

Benvindas Boas Novas

Diz o Blitz que, nos E.U.A., um qualquer adolescente foi encostar a barriga à barra do tribunal por ouvir música demasiado alta. Parece idiótico. Só que estamos a falar daquele país. E é de referir que o miúdo ouvia, muito particularmente, hip hop e, mais particularmente ainda, dentro do carro.

Nestes casos, sou peremptório: Quando passa por mim um zé tunning a ouvir música, interiorizo a noção de que, enfim, custe o que custar, acabará por passar. E, logo, deixarei de o ouvir. Ele, pelo contrário, dificilmente se tornará um tipo inteligente, o que o atesta o facto de ser zé tunning. Ouvir hip hop atesta apenas que é acéfalo e, logo, não pode sequer ter um quociente de qualquer coisa, quanto mais de inteligência.

Pois bem... parece que o puto foi condenado a ouvir Beethoven durante vinte horas e aguentou....................... 20 minutos! Ou seja, não sou preconceituoso! É mesmo verdade, ouvir hip hop é ter, mais coisa menos coisa, a mesma sensibilidade musical de um escaravelho da batata!

Mas a punchline dá-se quando o primeiro comentário a esta notícia provém de um ser, por certo espongiforme, que escreve, no espaço destinado aos comentários à notícia, Nós, os gangsters, aturamos tudo, apesar da repressão policial blá blá blá fon fon fon cuóc cuóóóóóc e tal.

Ser gangster português, para quem não sabe, é ser muita bera e mau, mas apenas porque se tem uma arma ou se conhece alguém que a tem. Das de fogo.

E eu, quando era mais novo, em idade de ser gangster, portanto, nunca me gabaria se, por forma a provar a minha masculinidade, me visse forçado a usar um dildo, incapaz de cumprir os meus objectivos da maneira mais convencional.

E se não perceberam a piadola... mais Beethoven e menos 50 Cent. Ou ailerons!!!

terça-feira, outubro 07, 2008

Exijo-me Bom Gosto PIM

Não é apenas para ser diferente.
Tal como na música, cinema, literatura ou arte, o Imediatismo é inimigo do Bom Gosto.
Que é, contra tudo e todos, um Valor Maior!
O Imediato é Fácil e o Fácil é Estupidificante!
Porque é menos Emotivo.
Solta emoções, claro, mas daquelas menos intensas e, logo, de menor valor.
Ouvir música de rádio, por exemplo, e depois ouvir o I Am a Bird Now é emocionalmente proporcional a gostarmos muito dos filhos dos outros e depois termos o nosso!
Isto não é erudição armada ao pingarelho!
É assim, ponto.
Falemos, pois, de Beleza Feminina!
No plano do Imediatismo há, por cá, as Morangas, e as Gena Jamesons lá por fora, que é apenas ter mamas, rabo e palmo e meio de cara.
Num outro patamar, mais acima, há as Mónica Beluccis e as Scarlettes Johansens, que é ter mamas e rabo e dois palmos de cara e aparentar ter algo mais.
Mas quem está Ferido de Imediatismo não conseguirá chegar ao andar cimeiro, que não depende de peso a mais ou a menos, marcas de bikini, depilações integrais ou pinhais de Leiria, micoses nas unhas dos pés ou dentes tortos, celulites ou mamas descaídas da amamentação.
E depois há quem pergunte Mas o que vês tu naquilo?
Não sabemos responder!
Apenas que temos um Refinado Bom Gosto.
E se dEUS me ajudar, serei assim até aos meus Sete Palmos de Terra!!!

segunda-feira, outubro 06, 2008

Vale Abraão

Sempre de olhos na Régua, o que não é uma visão bonita, há uma margem esquerda do Douro sem socalcos, quando tudo a isso se resume ali à volta, o que não é uma visão feia.
Há uma quinta da Pacheca que assim se chama porque era possessão de uma viúva de um qualquer Pacheco Pereira, família tão influente em Portugal que consta, em dois instantes distintos, n'Os Lusíadas, era o apelido de um assassino de uma infanta qualquer que não se queria casada com não sei quem e, nos tempos que correm, é tal espelho do actual declínio tuga que o que restava já nem na SIC aparece. Essa quinta tem vinhas até Vale Abraão, onde o Aquapura se ergue a bem do ócio dos mais endinheirados. Foi nestas duas e, ao que me quer parecer, na Quinta do Vezuvio, que foi filmado, pois, Vale Abraão do nosso Querido Ansião, o Panoramix dos Pobres, o Jabba The Hut dos coitadinhos, Manoel de Oliveira. E eu, que tinha TODO o tempo do mundo, tentei desempenhar esse árduo papel que fora entregue a Leonor Silveira, sentando-me nas escadarias a ler um livro. Falhei! Aos cinco minutos, é apenas incomodativo, aos sete minutos os nadegueiros estão dormentes, mais dois minutos e as câimbras assolam. Estou, assim, rendido! Que actriz, que desempenho e, claro, que realizador!

Mas numa das incursões ao Pinhão vi, num café, um cartaz com as inscrições Há frango tipo leitão. E há coisas que valem tudo nesta vida!

sexta-feira, outubro 03, 2008

ESTE dIAZ QUE VOS FALA de pormenores técnicos


Sou atrasado!
Na medida em que só no outro dia soube que Alexandra Solnado (avante denominada de AS), já vai no terceiro livro da “série” Este Jesus Que Vos Fala. A Pergaminho (pois) decidiu chamar à colecção Mensagens de Jesus. O Primeiro tem, por subtítulo, A Entrega. O Tomo II é A Lógica do Céu e a Lógica da Terra. A Era da Liberdade fecha a série.
Ao que parece, a senhora terá conversado muito com Sua Majestade, J.C. himself.
Convenhamos, é uma imagem bonita, a de AS ao postigo (versão popularusha da coisa), ou AS a receber Iesus Nazarus Rex Iudeia na sala de sua humilde casa, com um Malhoa como pano de fundo. Mais bonita é, porém, enquanto AS vai buscar um chazinho de Lúcia Lima, a imagem da filha (Joana Solnado) a passar, de banhinho tomado (o asseio é, também nestas coisas de amena cavaqueira com o Messias, essencial), toalhinha enrolada no peito, a dizer “Bom dia, Dr. Rei dos Judeus” com uma piscadela de olho como quem diz “gosto muito desses olhos azuis, meu magrinho maroto safadão, que se a minha mãe fala contigo eu já falei muito com a Maria Madalena e ela diz-me que, sim senhor, és das canzanas à bruta, como eu gosto”!
Nada disto me causa o mínimo transtorno.
Sou um rapaz educado e nem sequer tenho por hábito ouvir as conversas alheias.
Se alguém decide partilhá-las com terceiros, tudo bem.
Desde que conheça bons tradutores de aramaico!

É, enfim, uma questão de rigor...