
Bonita, ela. Loira mas de pele escura, sardas. Magra de estrutura. Nada daquelas magras moles, alforrecas, gelatinosas, que contrariam a tendência para "alargar" com
all bram, rúcula, tomatinhos cereja ou qualquer outra coisa, desde que não mais que duas garfadas. Professora, segundo disse... EVT, ou lá o que chamam agora à Educação Visual. Estava sentada ao nosso lado na mesa, falava sozinha, ria, abria os braços, um onanismo parodiante. Olhava para a Floribela e ria-se. Ácidos? Naaaa. Pupilas normais nos olhos castanhos, um pouco acima dos lábios grossos, secos. Táimes. Ya, foi-se cheirar outra vez, sem convidar, a porca (o que atesta o estado avançado da coisa... quando deixa de ser um acto recriativo/comunitário para ser uma cena mais egoísta, é a carochice), e veio connosco. Diz dela própria que desconversa. Não...
Enuncia
discursa
recita e declama
manda e ordena
às vezes parece rezar
pergunta sem esperar resposta
afirma
provoca
grita
chama
persuade
mas nunca, por nunca ser, conversa. É isto, o desconversar, não é?
Em pronúncia baixo-alentejana (Pax-Juliano/Mourense), lembro-me de poucas coisas:
"Eu? Maluca? Onde é que ela está?"
"Eu estou é apaixonada, a minha mãe está em casa, tenho de ir buscar as pastilhas, as gordas, eu cheiro neste porta-chaves, vou fazer uma ganza"
"Lá em casa, apanhei-o com outro, eu faço-os virar paneleiros, não engulo, cuspo, não levo no cu, eu cá nisso sou cumós gajos, menos ele"
A atender o telefone: "Tou? Rico? Grita! Tou com uma tempestade. Vai. Apanha o avião. Achas que eu sou burra?"
"Querem-me levar a casa? Eu entro e saio. Não vos posso levar. Ainda faço merda. Levam-me prá Margem Sul? Eu quero".
No caminho: "Olha... a minha mãe vai ali. Mãezinha. Não me pode ver, ainda me leva outra vez pró Miguel. Fodi o psiquiatra".
Deixámo-la na Rua do Olival. O Joca em desespero: "Diaz, deixa-lhe a mala no átrio do prédio e vamos bazar". Eu e o Beto íamos pra casa, ele ficaria com ela, noite dentro, visto está. Fiz o que o homem pediu. Quando o Yogi de serviço pede uma coisa destas, contrariando a boa-onda que lhe é inerente, é porque está com dificuldades em lidar com a situação. Bazámos. Na descida, reparamos que o blusão ficara. Voltámos. Ei-la. Toda perfumada. Porque há uma hora atrás, tentara entrar na casa de banho comigo. Não deixei. Mas fui obrigado a retornar quando passados 15 minutos ainda não saíra. Tinha estado a cagar. Agora, "três anjinhos", uma loira louca e uma longboard dentro de uma Astra que anda a óleo. Demora-se com as unhas, ao de leve, na minha nuca. Sabe-a. pergunta-me coisas ao mesmo tempo. Testa-me. Não me lembro quais foram. Paramos pra deixar o Beto, fumamos umas brocas, seguimos. Mais perguntas e exclamações, pensamentos ditos: "Se eu fizesse tudo o que me apetecia". O semblante do Joca muda no caminho. Estou com pressa. Quero ir dar biberon ao Gabriel. Paramos em frente à minha casa. Ela sai do carro: "Não se importam que eu mude aqui de roupa, pois não"? O Joca seguiu... acho que iam para a Fonte da Telha. Ainda não consegui falar com ele.