quarta-feira, março 18, 2009

Quando conheci Sergei, o montenegrino...

... tomei-o apenas como um Bom Homem.
Seguíamos por uma Belgrado intransitável como qualquer capital europeia que a NATO não decidira bombardear durante 90 noites seguidas, dentro desse tanque-de-guerra-em-tempos-de-Paz que era aquele Volvo gigantesco e antigo, mas que se destacava de entre os Zastavas, Yugos e outras coisas que andavam a motor de Fiat 127.
Eu olhava, pela janela, esta exótica forma de estar nos Balcãs, sob 40ºC, este orgulho sérvio que, para mim, sempre se explicará, também, pela beleza das mulheres, estas margens de rio Sava que se une, em denso arvoredo, ao majestoso Danúbio, estes prédios que sobraram desse início de Séc. XX, quando esta cidade rivalizava com Paris em ditames da moda, estes estranhos aglomerados de tubos, puxados a motor ou a cavalo, transportando famílias ciganas numa ambiência Kusturicana só aqui possível, este cheiro a pimentos assados que entra pela janela, esta cacofonia de tubas e trombones e trompetes e saxos e clarinetes que passa em todas as estações FM...
Sergei ia relatando esse maldito período da sua vida em que, por ser licenciado, foi nomeado sargento ao comandando de um pelotão que serviu, na pior altura, em Vukovar. Deram-lhe toda a espécie de drogas para que encorajasse os seus 60 homens a atirar sobre tudo o que mexesse e se parecesse com Croatas ou Muçulmanos, ele recolheu todos na floresta e racionou os psicotrópicos para que, apesar de tudo, não fosse disparado um só tiro. Conseguiu-o, durante um ano. Depois disso, é para mim uma incógnita. E, por aqui, cedo se percebe que há assuntos que não se abordam.
E foram esses silêncios, esporádicos, que me fizeram perceber que tinha, à minha frente, não o designer gráfico Sergei, mas o Serdar Janko Vukotiç, ele próprio, o único e último homem do Montenegro clássico, orgulhosamente resistente...

2 comentários:

1entre1000's disse...

oh pa fónix... é por estes textos e outros que termino a leitura dos posts e penso - 1entre1000's, "SENHOR das letras", a fantabulástica alcunha com que o apelidas-te veste-o que nem uma luva da mais fina pelica!

Anónimo disse...

Achas que dá para colocar bolinha nos próximos textos que dão volta à cabeça e ao estômago??? Por falar em bolinha, cadê o alien Zorze??? Tenho saudades dele. Zangaram-se como as gajas??? Puxaram cabelos???