Porque fui obrigado a andar com a Constituição durante quase toda a licenciatura, abomino-a! É mais ou menos aquilo que se passa com cerca de 90% dos desgraçados que tiveram de ler Os Maias. Não me identifico com o meu Estado e, para ser franco, abomino-o! Não acredito numa Democracia não-totalitária e penso até que é uma forma pior de ditadura, já que se vale da estupidificação das massas e, logo, castra qualquer possibilidade de dissidiar! Mas sei que o Artigo 41º (Liberdade de consciência, de religião e de culto) diz, na alínea 4: "As igrejas e outras comunidades religiosas estão separadas do Estado e são livres na sua organização e no exercício das suas funções e do culto". É este o artigo que fala do laicismo e não o 13º (Princípio de Igualdade). Mas já que anda tudo a ir por aí, 'bora: "ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual". Já que anda tudo a dormir, bastando abrir um dicionário para ficar a saber que laico significa que o Estado é INDEPENDENTE da Igreja e, logo, de QUALQUER confissão religiosa, disparo de seguida toda a minha demagogia, que não será maior que a dos pais que "se sentem mal" pela presença de um crucifixo na sala de aula do rebento, ou sequer da de um partido político que, encontrando-se Portugal neste estado, lança o repto para discussão na Assembleia!
1. Acabam-se, a partir de agora, TODOS os feriados religiosos nacionais. Ao não serem considerados o Ramadão, o Nacimento de Maomé, o Yom Kypur e o Durgha Buja dias feriados, não há cá Natal, Ascensão do Senhor, Dia de Todos os Santos ou Páscoa para NINGUÉM!
2. Acabaram-se os diagramas com os aparelhos reprodutores feminino e masculino nas salas de aula! Pode ferir a orientação sexual de alguns que é, conforme a Constituição, livre!
3. Acabaram-se os toques dos sinos! Só servem para dar horas para quem não sabe que servem, realmente, para chamar para a oração! E assim perdemos metade da poesia das nossas cidades, como o é o canto do Nuésin (Almuáden) na inigualável Istambul, cinco vezes por dia!
Aliás, é curioso que na Turquia o Estado também seja laico! Mas do topo dos minaretes chamam-se os fiéis! E só ora a Alá quem quer! Porquê? Porque num país onde a tortura é comum e os crimes contra a humanidade (curdos e armemos) passam impunes, dá-se, ainda, primazia ao POVO! E a maioria é, obviamente, muçulmana!
Em Portugal, doa a quem doer, a maioria é católica apostólica romana. Para mal dos nossos pecados ou não! E a Constituição consagra (já que ultimamente tanto se lhe refere) que o POVO É SUPREMO! E mesmo que não fosse, ninguém tem o direito de IMPOR O SEU AGNOSTICISMO ou ATEÍSMO A NINGUÉM!
Que a BURGUESIA URBANA se choque com os crucifixos eu até compreendo! Mas não percebo como é que a carneirada já se esqueceu que o princípio primeiro do regime salazarista era precisamente esse: Não chocar a Burguesia Urbana!