Um dia uma daquelas pessoas com que se sociabiliza porque pronto perguntou-me Não tens para lá um livro que me emprestes? Mas tem que ser grosso porque só leio livros grossos E eu respondi Grossos só tenho a Divina Comédia e o Fausto E ele disse Mas eu não gosto muito de teatro E eu Atão vai pó caralho mas daqueles grossos e cheios de veias E ele Hé pá não é preciso isso E eu É é E ele Atão porquê? E eu Porque se é para apanhares no cu que é o que eu acho que deverias fazer é melhor optares como se de um livro se tratasse.
As pessoas acham que eu sou de fino trato ACT II
Um dia uma daquelas pessoas que apanha o comboio na mesma estação que eu posicionou-se atrás de mim e disse-me O seu fumo está a incomodar-me E eu respondi Eu vim para aqui precisamente porque o vento está de frente e só incomodaria alguém se esse alguém se colocasse atrás de mim por opção e foi o que a senhora fez logo só não a mando para os carris porque ao ser esmagada o sangue e os pedaços de cérebro viriam na minha direcção e como não é isso que eu quero não é isso que farei mas se o fizesse nunca lhe diria a sua orelha está-me a ensanguentar o sapato porque a opção tinha sido minha.
As pessoas acham que eu sou de fino trato ACT III
Um dia uma namorada minha estava-me a fazer uma felação e eu disse Se dependesse de mim queimava com pontas de cigarros todas as pessoas que acham que aplicado a isto o verbo chupar é para levar à letra E ela Vê lá se queres que te morda E eu Se fosse para isso já te tinha dado um murro na cabeça há muito tempo.
As pessoas acham que eu sou de fino trato EPÍLOGO
Um dia um comercial que vendia publicidade para a revista onde eu trabalhava foi dizer ao administrador que não conseguia vender publicidade para a revista onde eu trabalhava, condenando, com todo o à-vontade deste mundo, a dita à extinção e ao desemprego todos os que nela trabalhavam, dos designers à pós-produção e eu pedi uma reunião com ele e disse-lhe Se és incompetente pedes para ganhar o mesmo mas a lavar escadas e se fores incompetente nisso também e eu acredito que sim ao menos colocas apenas o teu emprego em risco E ele respondeu-me Sabes lá... eu posso ser muito bom a lavar escadas E eu Suponho que conheças aquele cego que toca aquele piano de soprar na Rua Augusta de uma forma inacreditavelmente horrível e as pessoas acham que ele toca mal porque é cego e eu aposto que se ele não fosse cego tocava de uma forma inacreditavelmente horrível um clarinete ou um trombone de varas E ele Não percebi E eu Eu sei...
