quinta-feira, dezembro 11, 2008

Este Vosso Povo Que Me Fala

Setembro último andei lá para riba.
Douro.
O tempo era de vindimas.
Se este Verão não tivesse sido, efectivamente, uma miséria franciscana.
Como foi.
Especialmente ali, entre vales e escarpas, onde a coisa raramente subiu acima dos 28ºC.
Ou seja, uvas qu'é bom, NADA!
Daquelas com muito açúcar para graduar a pinga, muito menos.
Ou seja... não querendo fazer contra-publicidade, quem comprar durienses de 2008 é totó.
Até porque nem é disto que quero falar.
O que faz de mim um tratante.
Lá arriba, chamar-me-ão, desconfio, um pouco mais que apenas isso.
Ou estão a ver aquela malta, conhecida pelas papas na língua (chame-se a atenção para o facto de aqui haver ironia), a debitar algo como Que inoportuno, aquele cabotina! Vem para aqui, mama do bom e das melhores quintas e agora estraga-nos o negócio? Que maroto, se não mesmo patife!
Das janelas do Aquapura Douro Valley, em Vale Abraão, que agora é hotel mas foi apenas um palacete ensolarado, cenário para o filme homónimo do senhor que faz hoje 100 anos, o que é curioso mas seria, para mim, mais agradável se o pudesse relacionar directamente com Agustina, paciência, vê-se o correr do D'Ouro e, lá ao fundo, Peso da Régua que, não sendo particularmente bonita, não é a Rocha Conde d'Óbidos, onde a Amália "vendia laranjas" em mais novinha e de buço ainda ralo, delícia de estivadores e mareantes que tais.
Da biblioteca também.
Que é onde está, perdido numa estante, o Património Imaterial do Douro, Narrações Orais - Contos, Lendas, Mitos Vol.1, de Alexandre Perafita, editado pelo Museu do Douro.
E lembro-me imediatamente de um MEC fedelho a tentar tirar do sério um Agostinho da Silva com algo como Os portugueses são burros, ao que o Mestre respondeu O vosso problema, intelectuais, é que só se dão com intelectuais! Que portugueses conhece o meu amigo? Vá para o interior, fale com as gentes e surpreenda-se.
Sim.
Longe, bem longe das grandes cidades, onde nos são oferecidas, em doses idênticas, a estupidificação e a comida de merda cara (a comida, não a merda), o povo português é o Maior do Mundo. Sábio mas humilde, malandro mas petiz.
E é com esta Verdade Absoluta, porque não aceito opiniões contrárias, e podem morder-se à vontade, que abro ao calhas o alfarrábio, para ler:
Havia um homem ali no Arcozelo (povoação vizinha de Sendim), que chegou a casa e disse:
"Ó mulher, tira o panelo e põe a panela
Que vi lá em baixo uma abóbora e vou para ela"
Quando foi, pois, à horta onde a avistara, com o intuito de roubá-la, deparou-se com a sua falta. Volta para casa, de mãos vazias, a fome como sempre e, ao entrar, diz muito arreliado:
"Ó mulher, tira a panela e põe o panelo
muita puta-ladra há no Arcozelo".


5 comentários:

1entre1000's disse...

Sr. das letras tem que continuar a subir até aquelas gentes de trás os montes de ar rude e "mau" com a pele escura do sol e fumo mas que têm uma pureza do mais genuino que há... dão tudo o que têm e o que não têm vão buscar ao vizinho, pq nestes sitios não há chaves nas portas!
Ainda que alberguem uma "menina da cidade que não presta para comer nem beber" como eles afirmam, dão voltas às arcas e à imaginação para mimar e satisfazer... muitas vezes situações de ir às lágrimas acredite no que lhe digo...

El Mariachi disse...

acredito de forma PIA...

Anónimo disse...

ó que chatice!

eu gosto dos seus posts.

que ei-de fazer?

dos posts e do vinho tinto.

deveras.

Master Of The Wind disse...

Mas pq n vais para Lanzarote com o Saramago, Diaz?

Zorze Zorzinelis disse...

Um mimo o teu comentário Miles *