Só mais tarde pensei Ai ele é isso? Então vá...
Um fim de tarde no Gerês é um fim de tarde daqueles. Melhor: Um fim de tarde numa encosta de S. Miguel da Caniçada, que ainda é Vieira do Minho, a olhar para as águas da barragem na direcção do Gerês, ou melhor, de Rio Caldo, que reflectem a penumbra azulona em que tudo mergulha, qual modo tungsten nas digitais da Canon, é um fim de tarde daqueles. Sim, está melhor. Pronto.
Em vésperas de São João e tão próximo de Braga, a coisa melhora um pouco mais, se for possível.
Não é.
Porque há Posta Barrosã para empurrar com um De La Rosa (Douro DOC) e uma Bagaceira de Vinho Verde da Adega Cooperativa de Ponte da Barca para borrar, definitivamente, a pintura. Num país onde até as festas populares servem para os VSE (Vampiros ao Serviço do Estado) inundarem todas as rotundas, numa vã tentativa de equilíbrio da Balança do Estado, é assim, Liberté até vai, Fraternité só se me deixares comer a tua irmã!
Decidimo-nos por uma deslocação mais comedida, pelas margens e não pela estrada do topo dos penedos. Caniçada, Rio Caldo, direcção Gerês.
A entrada do hotel é exclusiva para hóspedes, pelo que, para saírmos, alguém tem de abrir o portão.
Fá-lo um ser estranhíssimo, com uma cabeça enorme, maxilar inferior gigante e prognata, braço direito do tamanho do úmero do esquerdo. Manca até nós, em oscilações de metro, e enfia a cabeça no interior do carro: "Baum shaír?", com um ar tão inquiridor quanto os bófias das séries da Fox ou as finanças com a Raia Miúda. Olho para o meu pendura (Polónio, esse companheiro das incursões por um Portugal, às vezes, profundo), e este está com os olhos tipo hamster, a saltar das órbitas. Suspeito que eu também. Respondo, a medo, reconheço: "Sim, vamos por aí abaixo ver se há alguma festa de São João", e obtemos um seco "tsk", como quem quer dizer "já me lixaram, estes palhaços", não diz mas não se presta ao mínimo esforço de escondê-lo! Pergunta-nos: "E Bóultam?", "Sim, não demoramos muito", "atoum bou-lhes dar um cartôunzinhu pra butár aí no cárr", mas entretanto, lembra-se de perguntar: "Bós estáis aqui huóspedádoj?" e, ao nosso "sim", o homem salta para trás e exclama, quase a gritar: "Aaaaaaahhhhh, íshé túutalmiênte diferente, CUARÁLHU! Atoum ide à buósha bdínha e guójem múnto".
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