quarta-feira, agosto 20, 2008

Cinema para Totós

Quando, à data de estreia do filme, as críticas são discrepantes, opto pelo meu lado de enólogo principiante.
Deixo-o, portanto, estagiar em cuba, barrica e garrafa, tudo nos seus tempos certos, mas não por forma a que o assento se forme.
Quando chega o grande dia do seu consumo, há todo um ritual.
Retiro o dvd da caixa com o vagar que permita aos fenóis voláteis darem-me todos os aromas antes de envolver os mais recônditos lugares da língua no seu suco, engolir, abrir a boca e respirar pelo nariz.
É, na verdade, bem simples.
E foi assim que, só agora, de uma assentada, bebi o Sweeney Todd e o Departed.
Dois pontos a reter:
1. Odeio Musicais. Mesmo. Quase tanto como as cartas das Finanças que me têm aparecido, neste último ano, lá em casa.
2. Amo, de morte, filmes de organizações criminosas. Nada destas coisas de gangs de putos pretos contra putos brancos que têm a mania que são pretos mas nem um nem outro sabem o que é África. Nada dessas homossexualidades latentes. Máfia MESMO, Sicília, Nápoles, Nova Iorque irlandesa, Nova Iorque italiana e coisas desse estilo. Como o Scorsese tão bem sempre fez.
É, assim, estranho, que eu tenha chegado às conclusões que se seguem.
Ou não?
1.a) Tim Burton continua igual a si próprio. Talvez melhor que nos últimos tomos. Uma Londres especialmente cinzenta (ou seja, AINDA MAIS cinzenta que o que JÁ É) lavada em música dirigida como se de uma ópera clássica que se pretende imortal se tratasse, letras e rimas a la Nightmare Before Christmas e, claro, um Depp igual a si próprio, ou seja, excelente. Dêem-lhe um papel de urso pardo com alzheimer e desempenhá-lo-á na perfeição.
2.a) Scorsese está pior. A não ser que não tenha sido ele a escolher os actores. É que já niguém aguenta NENHUM Baldwin, o Leonardo DiCaprio continua muito bem a fazer, como sempre, de... Leonardo DiCaprio (é o Vergílio Castelo americano), e o Matt Damon é aquilo que se vê... Nem o Jack Nicholson consegue elevar o nível da coisa. Está isoladíssimo no prato da balança. Um pormenor precioso é o da cena romântica com a psiquiatra, que está com a "roupinha de trazer por casa" e, quando a despe, tem cuecas pretas e soutien púrpura. Noutro filme, envergaria peças da última colecção da Woman's Secret o que, como toda a gente sabe, ninguém usa por baixo de um fato-de-treino do bazar chinês para andar a encaixotar coisas.
Ou então, conheci as mulheres erradas.

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