segunda-feira, janeiro 22, 2007

La Strada - Tomo I

Desta última vez que fiz 32 anos (porque a partir daqui terei sempre 32 anos, sendo que a grande questão é saber, portanto, há quantos anos tenho eu 32 anos), deu-me para isto: "Que espécie de pessoas é que já fizeram parte da tua vida, ó Mariachi"? "Que personagens já se cruzaram contigo ao longo de 32 anos"? "Daria a tua vida um filme do outro"? Dava. Daí o título que escolhi. Daí que optei por, ao invés de me espraiar ao longo de um só post, desmembrá-lo em vários, por tomos, digamos, para que a memória não falhe e possam todas as vidas que se cruzaram com a minha receber esta singela homenagem. E os amigos Federico, Ettore e Pier Paolo, bem sei, pelar-se-iam por gente desta. Infelizmente, meus caros, "Brutti sporchi e cattivi" como estes não há. São parte exclusiva desta "Dolce Vitta", que ainda agora vai a "Otto e Mezzo"... "E La Nave Va".
Deixo-vos, então, um acepipe:

Penalty...
Não sei qual o verdadeiro nome do senhor. Sei que esteve dez anos dado como morto em Angola ainda "Ultramar". Não estava. Voltou. Não se sabe por que horrores terá passado. É assunto que não se aflora. Já basta saber-se o que o futuro lhe reservaria cá, depois do regresso e da subsequente condecoração pelo "Professor Oliveira", como ele próprio se lhe refere. Penalty não bebe. Fuma cigarros como se não houvesse amanhã e ganzas se alguém fizer o favor de as enrolar. Conduz uma APE 50, pintada às riscas verdes e brancas, com uma bandeira do Sporting na caixa aberta, um leão em metal à frente que acende os olhos (dois "leds" verdes) de cada vez que a buzina (A Ponte do Rio Kway) se faz ouvir, roufenha. O filho, único, matou um polícia. Está preso. Antes disso, roubou-lhe tudo, incluíndo a medalha que o "Professor Oliveira", ele próprio, lhe pregara na lapela. A mulher não foi com outro. Vai muitas vezes, mas volta a casa, o que é pior. Uma vez pediu ao Elvis, o nosso artista de serviço, que lhe fizesse o retrato, mas com um par de cornos. O homem (puto, na altura), levou cerca de 15 dias para fazer a coisa, a lápis HB. Mostrou-mo antes de o entregar. Estava perfeito. Mas com cornos. Perfeitos, também. Penalty olhou para aquilo e, em vez de entregar os 5.000$00 ao retratante, queixou-se: "Os cornos estão pequenos". Elvis corrigiu. O Outro não pagou. Lembro-me do Elvis, bêbedo que nem pêras de sobremesa, a ameaçar o "cliente" na cara: "Parto-te essa boca toda, pá". O Kau, como de costume, rebolava a rir. Penalty é vulgarmente chamado de porco. Não sei. Vi algumas coisas, mas não sei o que é ficar 10 anos às mãos dos "turras", pelo que não sei que hábitos, traumas, vícios ou tendências se adquirem. De outra vez, largava sonoros gazes ao balcão do café. Saíu do estabelecimento, mas acocorou-se a um escasso metro da porta, precisamente em frente da mesma. "Tens papel, ó Dias"? À minha resposta negativa, exclamou: "Vai mesmo assim", e limitou-se a puxar as calças (de fato-de-treino) para cima". Também o vi, certo dia, a suplicar, esticando uma nota de 5.000$00 ao Juka, que sofre de uma ligeira (às vezes nem tanto) perturbação mental (seja lá o que isso for): "Vem-me ao cú, pá, toma lá, dou-te dinheiro". Logrados os seus intentos pelas constantes negas, Penalty baixa as calças (de fato-de-treino), faz um rolo com a nota e introduz a mesma no ânus, em pleno Clube Recreativo. Mais uma, bem recente, desta feita, Penalty estava sentado no restaurante ao lado de Juvenal, um quarentão que sofre de paralisia cerebral profunda e que diz-se ter uma força de bisonte, pelo que, ao contrário do que é costume nestes casos, nunca vi ser gozado. Na televisão, o Sporting estava na sua perfeita forma, a perder com um clubezeco qualquer: "Então, Penalty... o teu Sporting, pá"? "Hé pá, ó Dias, não me digas nada... se não fosse aqui o meu amigo Juvenal a aliviar a minha dor", e nisto levanta a toalha da mesa, revelando o marulho do "atrasadinho" que pendia, flácido, da braguilha aberta, e onde o Penalty "molhava" pedaços de pão que depois ingeria, com a descontracção que sempre lhe foi tão característica. Lembro-me de uma namorada que tive e que nunca mais foi à Sobreda, porque da última vez que o fez, cruzámo-nos com a personagem, que lhe perguntou, directamente: "Então... este gajo já ta enfiou no cú"? e não ficou por aqui, ainda que não tenha obtido resposta: "Sabes lá o que é bom, apanhar com o tarôlo dum preto (gesto) pela peida adentro"!

3 comentários:

paulo disse...

isto sim é uma personagem digna de registo!

Anónimo disse...

Que bela história de embalar. E a ti, nunca te assediou?

El Mariachi disse...

Apalpou-me uma vez a tomatada mas, por razões óbvias, nunca mais repetiu a proeza...