segunda-feira, janeiro 04, 2010

Kitzbühel, Tirol, Áustria, Dezembro de 2009 - Uma visão à dIAZ em 3 estórias e um iôdelêi iôdelêi iôdelêíhú - Estória Número TRÊS

Maria é uma portuguesa clássica. Do Porto. Não clássica por ser do Porto, mas por ter ficado, há quinze anos atrás, deslumbrada com o que vem de fora, uma estrangeirada, portanto, possuidora, também ela, daquele minúsculo Eça de Queirós que todos temos dentro. O meu está mais ou menos no intestino grosso, sempre pronto a evacuar tudo o que seja plágio Marcel Proustiano só porque este era françês e tudo o que vem dA Fransha era bom, síndrome que dura ainda hoje em letárgica ressaca pós-bidonville. Correu Maria atrás desse alemão e, num ai, estava nessa Hamburgo onde, curiosamente, ninguém consegue perceber qual a origem da palavra Hamburger, porque não têm, em toda a sua gastronomia, um exemplo que seja portador de carne picada na sua confeccção! Mas têm muitos restaurantes (de peixe) nas mãos de portugueses, que estão, talvez por isso, no topo da hierarquia cool e hip da cidade. Foi, assim, fáci a Maria imiscuir-se num lugar que não era o seu, embevecida de amor à prova do frio vento que antecede os nevões de Inverno. A vida foi correndo, dias embalados por saudades da família, noites despertas por festas no cume da cadeia social e sexo sem barreiras, até que o destinatário de tal entrega, criança estragada de tanto mimo como só a pré-mamã portuguesa sabe dar (depois de parir torna-se uma velhaca como todas as outras), decidiu mudar-se para Kitzbühel. Maria foi, como sempre, atrás. Esta era a vida que pedira para si. Amor cego e incondicional, nomadismo, gitana paixão, se tal fosse preciso, e foi. A portuguesinha clássica caiu no fundo poço da clássica tragicomédia que é o Foi Bom Enquanto Durou Mas Agora Vou Ali Só Comprar Cigarros... Maria viu-se, então, sozinha, aperto no peito no nesse vale das sombras que, convenhamos, quase todos nós já visitámos e, para quem ainda não, tenho novidades: Amanhã também é dia. Mas, tão subitamente como tudo começara, a tuguinha acordou um dia para reparar que este vale era, afinal, um prodígio. Uma falha entre os Alpes por onde a luz só entrava durante poucas horas por dia, mas isso é só porque o Sol não faz falta nos lugares onde a luz é outra. Maria virou montesa e, hoje em dia, tem uma loja de jóias na rua principal de Kitzbühel. Não se imagina a regressar a Portugal. Demasiado soalheiro, diz, de largo sorriso que me faz compreender porque terá o tal moço feito promessas. Depois toca ao de leve num pendente da montra, os finos dedos como pequenas esculturas, unhas curtas, uniformes, brilhantes, e não consigo perceber porque não terá o moço cumprido os votos. Pergunto-lhe, em todo o meu despudor, se não haverão, afinal, males que vêm por bem. Mas é claro! Sou feliz, agora. Aprendi muito cedo que não se pode confiar nos loiros. Nunca mais o fiz. E nunca mais estive triste!

1 comentário:

Eduardo disse...

Parágrafos, foda-se!