quarta-feira, março 29, 2006

Pour Toi, Zezalide!

Portugal alicerça-se no rebuçado! O rebuçado é um elemento cultural adstricto a tudo o que o Português faz e pensa! E o pior é que de tanto assim ser, nem se nota... nunca ninguém se lembra da importância do rebuçado! Até porque, como tudo o resto, está a morrer!
Qual é o balcão de seguradora (ramo Vida), stand automóvel, crédito à habitação, rent-a-car e agência de viagens que, antes do inevitável "O valor a pagar é tanto que terás de comer massa de atum durante os próximos anos" não adoça a boquinha ao cliente com um Floco de Neve, engalanado pelo seu inconfundível papelote vermelho?
Quem não se lembra de como a crise já está instalada neste país há tanto tempo que, até há poucos anos, o troco era dado em rebuçados? Se se esticava uma nota sépia com a efígie do Mouzinho da Silveira, a resposta do Ti Agostinho da Mercearia Parri (engenhosa conjugação dos nomes dos filhos Patrícia e Ricardo) era: "Não tenho troco, tem de levar em rebuçados". Um quilo de pêro Bravo de Esmolfe, duzentas gramas de torresmos, cem gramas de manteiga embrulhada em papel homónimo, uma sombrinha da Regina, quatro cachuchos para o jantar e dois cigarros Sintra eram pagos com o Bocage de mão na face e ainda dava direito a três rebuçados (dois escudos e cinquena centavos, mais coisa/menos coisa).
E os velhos que, da parte de fora das escolas preparatórias e secundárias esperavam pela hora do recreio para meter pelos buracos da rede aquilo que, noutro tempo, ainda não era aquele retalho da vida de um macho cubridor: "toma, minha rica, eu dou-te rebuçados"! Uma festinha = dois ou três Bolas de Neve, um beijinho = um pacote de Dr Bayard!!!
Bem... serve isto para dizer que o meu amigo Zé anda com problemas em fazer valer os seus valores linguísticos à cunhadinha recém-chegada do outro lado do Atlântico. Ao que parece, no Brasil não se percebe muita coisa "qui ôcéis portuguêsis fála". Bem, eu não consigo perceber porque é que um rebuçado no Brasil é uma BALA...

...mas explica muita coisa!

11 comentários:

zez disse...

Estava a ler o teu post e lembrei-me que o meu pai, quando trabalhava em Lisboa, comprava à entrada do terminal do Terreiro do Paço uma tablete de chocolate que vinha embrulhada numa embalagem amarela e que tinha como imagem de marca um amendoím (meio descascado) e uma vaca. Lembras-te disto?

Quanto à eterna questão "português vs brasileiro" e porque vim da Madeira hoje, o meu sogro (madeirense que foi muito novo para o Brasil) pediu-me para trazer rebuçados de funcho e não balas de funcho. Mas é uma questão interessante: porquê bala? E o som da palavra rebuçado não vos coloca de imediato um sabor de açúcar na boca?

Um abraço daqueles, Díaz!

Anónimo disse...

Diaz, também tiveste que ir pagar o seguro de uma merda qualquer? Mas já que tocas no assunto dos flocos de neve, lembro-me muito bem de me darem rebuçados embrulhados em papel daquele das mercearias. E com cinco escudos os bolsos (apesar de pequenos) enchiam-se até mais não.

El Mariachi disse...

...e ainda dava para aqueles chupas de caramelo feitos em casa que as senhoras vendiam à porta das escolas!

zez disse...

... e que existiam em vários sabores, não era? E custavam 25 escudos!!!

Anónimo disse...

Da-se. Também comeram dessa merda a que os nossos pais chamavam pirolitos ou coisa que o valha? Pensei ser isso um exclusivo de Coimbra. Burro!

zez disse...

e eram embrulhados em papel vegetal...

Anónimo disse...

E a seguir, com a boca doce, jogava-se ao bate pé.

zez disse...

e se sobrasse guita, comprava-se umas carteirinhas de cromos...

El Mariachi disse...

...e os pobrezinhos compravam pastilhas gorila quando tinham aqueles "cromos" dos aviões...

ou então bebia-se um Fruto Real de laranja e, com sorte, a carica dizia: "troque esta cápsula por um crachá do Homem Aranha", e lá andava um gajo todo vaidoso com um pedaço de lata gigantesco ao peito, no recreio do Externato Novo Dia, na Cruz de Pau, a ver se dava a volta à Cláudia (uma sardenta chinoca maravilhosa - 5 aninhos, prái - ) que há hora da sesta me mostrava a pipíua.
Muitos anos mais tarde, vi-a na Feira de São Pedro do Seixal, nos carros de choque, mas achei que se ela ma mostrasse outra vez, já mulher feita, o choque seria todo meu! Há coisas que nem aos trinta o coração aguenta!

El Mariachi disse...

"que HÁ hora da sesta"??? Estás lindo estás, Mariachi!

Anónimo disse...

Bom dia "el mariachi"
o meu nome é miguel serdoura, sou musico profissional, e moro em Paris, França. www.miguelserdoura.com
Quando eu era miudo, frequentei o Externato Novo Dia (creio que de 1980 a 1984). Por essas datas. Tenho agora 35 (nasci em 1973).
Nao sei se nos nos conhecemos. Eu ando a tentar encontrar malta dessa altura, nomes que ja me esqueci mas caras que de certeza reconheceria. Lembras-te da Patricia, a filha da Dona Guadalupe ? Ainda esta viva, a Directora ? Levei tanta porrada no rabo com aquelas réguas africanas de pau santo que ela tinha ... porra, outros tempos. Agora sao o raio dos putos que afincam umas boas nos profs !
Abraço e adorarie poder voltar a ter contacto com ex colegas das fraldas !
Miguel