segunda-feira, março 15, 2010

oWeN

10 de Março de 2010, 22h26 - Sou convidado a sair depois de fotografar os primeiros quatro temas. Acedo. E não vejo, como não é costume, o resto do concerto. Saio para fumar. Não tenho lume. Peço-o a uma morena que, num inglês com Ze German Accent, pergunta se alguém me disse para sair. Digo que sim e segue-se o praguejar, primeiro em inglês, depois na língua-mãe da qual só identifico três ou quatro sheiser, ou lá como se escreve. Susanne Errndorf, de seu nome, é a manager do Owen Pallett e deu ao Maria Matos, assim como o faz em outra qualquer sala por esse mundo fora, indicações de uso livre de qualquer espécie de registo dos espectáculos, seja som, imagem ou ambos, flashes incluídos. E está realmente desagradada com a coisa. Digo-lhe que, por cá, estamos habituados a estas coisas mas que, por acaso, eu até gostava de ter visto o concerto até ao fim e, quase uma hora de conversa volvida, acabei por relatar aquele tempo em que o Mariachito só comia se ouvisse o He Poos Clouds. Ela diz-me que, no dia seguinte, posso levar o miúdo. Eu digo-lhe que ele só tem 3 anos e meio. Ela insiste. Pergunto-lhe se posso tirar fotos ao homem em privado. Ela diz que tudo depende. Às vezes basta uma borbulha na cara para não se deixar ver, sequer.

11 de Março de 2010, 22h45 - Entro no Maria Matos com o Bruno "Trafarias", depois da troca de emails durante o dia com a Susanne por via dos quais se chegou à conclusão de que seria melhor levar outra pessoa que não o fedelho. Volto a falar da sessão de fotos pós-gig. Ela diz que logo se vê. Entramos. E saímos naquele estado inebriado em que deixa a boa música, o chão que se pisa é mais suave, tudo está envolto numa espécie de névoa que deixa as formas difusas, distantes de qualquer percepção mais imediata, como quando, nos trópicos, a lente fica embaciada e o auto-focus demora. O virtuoso acaba de dar os autógrafos e ajuda a ingestão compulsiva de um queijo da serra que está sobre o balcão com um duriense Quinta de la Rosa bebido directamente da garrafa. Da Susanne que, imagino, intercederia por mim, nada. Decido fazer-lhe o pedido pessoalmente. Ele as mãos às calças e diz que sim, vamos para o camarim num minuto. No caminho dá-me indicações E aqui, com estas luzes por trás, não? Era capaz de resultar. Em 3 ou 4 minutos a coisa está feita. Digo-lhe que não deve acompanhar queijo da serra ou outro qualquer que tenha um mínimo de qualidade com Panrico sem côdea e desenho-lhe um pão alentejano para que o possa pedir na manhã seguinte numa qualquer mercearia. Ele gosta do desenho e pede-me para o assinar. Diz que não, não tira fotos com o violino porque fica sempre a parecer aqueles nerds solistas de Handel ou Beethoven em salas tipo Gulbenkian. Eu digo que, um dia, vou fotografá-lo de forma a mostrar-lhe o contrário.

O texto sobre o concerto do Owen Pallett (aka Final Fantasy) sai na Blue Design n.º 13, uma das fotos resultantes do acima está aqui, as restantes serão publicadas para uso LIVRE depois da revista sair em banca.

2 comentários:

1entre1000's disse...

na realdade só DELICIAS destas para provocar reAparições da MILES... Brilhante senhor das letras Brilhante!

Zorze Zorzinelis disse...

Queijo com panrico é digno... pão alentejano rules! Tão porreiras as fotos, mui bien!!!