quarta-feira, outubro 21, 2009

Passem por mim neste post e sigam...

- INTRO -
Dêem-nos um CR9 com bailinho da Madeira nos pés e temos aquilo que é, hoje, o mais puro Orgulho Pátrio.
Eu, que sou mais Natália Correia, tenho um apego à Mátria que não me permite endeusar, embora também não consiga retirar-lhe qualquer mérito, uma pessoa que não sabe onde meter o til na palavra pão! A Pátria do Pessoa era a Língua Portuguesa. Eu não irei tão longe. Mas exijo uma pátria que mereça o Saramago, como pediu Mestre Almada para ele próprio.

I. Consegui, ao longo do tempo, e ainda que a custo, soltar amarras destas fundações católicas apostólicas romanas que nos levaram a um marianismo exacerbado, de velas na mão, ferindo os joelhos no cimento da Cova da Iria, deitando ex-votos ao eterno fogo da danação que é não pensarmos por nós e esquecermo-nos de um passado histórico que poderia ditar um futuro auspicioso. Tudo isto em que Portugal se tornou, asfixiado pelo dogmatismo, deixou para trás, porque o nega, um Cristianismo mais puro e belo, como o que assistiu ao nascimento de Portugal. Daquele que escusa e, paradoxalmente (ou não) nega, inclusivamente, o Velho Testamento (VT), isto é, a Tora Judaica, aquela que foi anexada ao Novo Testamento (NT) pelos Judeus quando, há dois mil anos atrás, perceberam que tinham razões para temer que um futuro que julgavam seu por direito pudesse ser, a partir dali, de uma gente que, subitamente, havia visto a luz, a compreensão e o perdão e esqueceram, embriagados de amor, o tal deus que os Filhos de Abrãao temiam. Acreditar que Jesus existiu nesse tempo poderá, assim, depender da leitura do NT. Acreditar que ele fez milagres depende apenas do nosso sentido crítico, independentemente de sermos sensíveis a fábulas que tornam, objectivamente, mais bela a vida. Crer que JC disse tudo aquilo, falando por parábolas, é ter sensibilidade para estórias bonitas. Segui-las como a ensinamentos é uma espécie de budismo de nova geração, sem rituais mas com uma impagável consciência tranquila de quem leva os dias em Paz. Consigo e com os outros.

II. Ecoam, nas cúpulas e abóbodas e claustros das igrejas e conventos e mosteiros portugueses frases que parecem ter saído de um filme de terror, no qual alguém exorcisa uma criança que recebeu em si o mafarrico e, por isso, expele pela boca uma matéria verde, faz a cama tremer e saltar (isso também os meus vizinhos de cima e, ainda por cima ela está nos últimos meses de gravidez), rompe o hímen com um crucifixo e grita impropérios ou apenas Padre Merriiiiiiiiiin. As costumeiras Sende temente a deus e deus tudo vê e castiga são, de entre tantas outras, as para aqui chamadas. Ser português crente é culpar deus por um filho com trissomia 21 ou outro infortúnio qualquer. Ser português crente vizinho de um português crente pai de um filho com trissomia no 21 é dizer, à boca cheia, Alguma coisa ele fez para merecer isto. Fundado na tradição importada dos escritos em hebraico, o antiquíssimo ritual do Bode Expiatório, mediante o qual os pecados do ano transacto são transferidos para o pobre ruminante que os leva para o deserto, onde é abandonado, assume, no catolicismo, a forma da Confissão. O pecador conta, com mais ou menos pormenor, os seus pecados ao pároco que, então, o manda rezar X Avés Maria, Y Pais Nossos e... fica tudo bem. Uma filha abusada sexualmente, um roubo inocente de 10.000€ da conta do patrão, um tiro na mulher que estava a ser sodomizada pelo moçambicano da churrasqueira, tudo vale porque, no Domingo seguinte, o Pastor ouvirá, na sua infinita paciência, encomendando, de seguida, e sibilando a cada S, mais umas rezazinhas.
Estático está, há dois milénios, um senhor de barbas e ar torturado, embora plácido, magérrimo, carregando a cruz que é ver tudo isto, tão longe do que professou, a decorrer impunemente diante dos seus semicerrados olhos.

III. Se pode ser facilmente concluído que o catolicismo não permite que a beleza descreva, no ar, brilhantes espirais ascendentes, qual efémera, mesmo que o fosse, que os seus dogmas oprimem sentimentos puros porque sinceros e sinceros porque puros, que o vasto rebanho que segue o seu pastor vê o verdejante prado onde deveriam ser, apesar de tudo, livres e senhores dos seus actos ser, tantas vezes, transformado num pequeno cubículo cercado de arame farpado feito ameaças escritas num livro que é o Best Seller mundial mas não tem QUALQUER relação com o Cristianismo, que ser-se católico é diametralmente oposto a ser-se o Poeta à Solta de que falava o Professor Agostinho, fica, no entanto, por explicar, como é que leva, também, à ingratidão. É que apesar de gostos serem gostos, uma coisa é inegável: Saramago é BOM. É Grande. Não foram o panorama editorial português nem os seus leitores lusos que o disseram, isso seria, lá está, uma questão de gostos. Foi a Academia Sueca. O Nosso Nobel deveria ser, pois, motivo de orgulho. Não mais que o Pessoa, Vasco da Gama, Camões, Manel Cruz, Aristides Sousa Mendes, Mão Morta, Garcia d'Orta ou Egas Moniz. Mas, por deus (mas o outro), sejamos minimamente humanos... Celebremos, com pompa e circunstância, a liberdade de expressão como pedra basilar da criação artística. Pode ter sido uma manobra publicitária do próprio, sim. Isso não invalida que ele valha como romancista e, sobretudo, como homem. Ademais, não vi ninguém criticar o Sousa Tavares quando, com o mesmo intento, e sabendo que poderia vender alguns milhões mais de exemplares de Equador no Brasil, defendeu a fedelhice da Maitê. Saramago ergue-se muito acima da generalidade dos autores portugueses actuais. E o que fazem os homens para quem escreve, já que o Português é a nossa Mátria? Soerguem-se com mil pedras na mão. Isso foi o que fez Caím. Ao próprio irmão. E sim, é uma história violenta e sanguinária, a invenção do homicídio. E não, nunca contaria tal episódio ao meu filho! E toda esta pseudo-nação de católicos castrados pelo Vaticano e cegos da profunda ignorância que é serem levados a viver uma vida oca de espiritualidade e plena de fealdade... não passam de uma cambada de Judas! A quem, apesar de tudo, Jesus perdoou!

7 comentários:

Zorze Zorzinelis disse...

Muito bom texto; fico feliz por equiparares o Saramago ao Manel e o Adolfo ao Almada; acho que é precisa essa ousadia!

Fred disse...

Es grande Marichi!
Bravo.

Rita disse...

Lindo! :)

1entre1000's disse...

APRE!!!! DEIXEM-ME ENTRAR!!! não tenho blog (agora) mas tenho OPINIÃO! LIVRA senhor das letras quem escreve assim não é gago! MUITO BOM! muito bom e só a confirmar tantas e mais algumas coisas que já conversamos e que eu poderia contar de si!
Sacudir as pingas da chuva da gabardine, sair da sala! Fiquem bem!

Kaui disse...

Há cerca de 15 anos atrás apanhávamos grandes secas tuas no bar/refeitório do Polo da Boavista, lembras-te? Tu sentado nas costas da cadeira a falar de um tal de Saramago e de um Jesus pregado na cruz que pedia perdão aos homens pelos caprichos de Deus. MUITO BOM.

Anónimo disse...

Tão bem escrito que quase apetece concordar, mas...não consigo.
Graças a Deus (a todos), que podemos "escolher" ser católicos, budistas, hindus, muçulmanos, protestantes, luteranos, jeovás,ortodoxos,agnósticos, ateus etc... há espaço para todos, e todos aprendemos o que não fazer /acreditar observando-mo-nos.
Há sempre algo positivo na motivação individual que no fim, se manifesta num todo.
Para mim não há eleitos, há um grande ecossistema com multiplos contextos culturais/antropológicos. Se não fosse assim, não tinha tanta graça.
Tudo feito por Humanos imperfeitamente irresistiveis.

Tóne

rosa disse...

andei dias e dias pra ler isto tudo, porquê? ando tomada por uma inércia. podemos chamar-lhe mesmo preguiça, com as letras todas, um dos sete pecados capitais, talvez o que teve o castigo mais maquiavélico no filme do John Doe.

a personagem de jesus sempre me intrigou. já o cristinanismo actual agonia-me com o seu cheiro bafiento.

há sempre o belo e o horroroso, uma dictomia semelhante à defendida pelo deposto bush, o bom e o mau.

o sidarhta tem algumas coisas que me irritam, o antigo testamento tem algumas coisas que me enternecem.



Capítulo 1
1 O mais belo dos Cânticos de Salomão.
2 - Ah! Beija-me com os beijos de tua boca! Porque os teus amores são
mais deliciosos que o vinho,
3 e suave é a fragrância de teus perfumes; o teu nome é como um
perfume derramado: por isto amam-te as jovens.
4 Arrasta-me após ti; corramos! O rei introduziu-me nos seus
aposentos. Exultaremos de alegria e de júbilo em ti. Tuas carícias nos
inebriarão mais que o vinho. Quanta razão há de te amar!
5 Sou morena, mas sou bela, filhas de Jerusalém, como as tendas de
Cedar, como os pavilhões de Salomão.
6 Não repareis em minha tez morena, pois fui queimada pelo sol. Os
filhos de minha mãe irritaram-se contra mim; puseram-me a guardar as
vinhas, mas não guardei a minha própria vinha.
7 Dize-me, ó tu, que meu coração ama, onde apascentas o teu rebanho,
onde o levas a repousar ao meio-dia, para que eu não ande vagueando
junto aos rebanhos dos teus companheiros.
8 - Se não o sabes, ó mais bela das mulheres, vai, segue as pisadas da
ovelhas, e apascenta os cabritos junto às cabanas dos pastores.
9 - À égua dos carros do faraó eu te comparo, ó minha amiga;
10 tuas faces são graciosas entre os brincos, e o teu pescoço entre os
colares de pérolas.
11 Faremos para ti brincos de ouro com glóbulos de prata.
12 - Enquanto o rei descansa em seu divã, meu nardo exala o seu
perfume;
13 meu bem-amado é para mim um saquitel de mirra, que repousa
entre os meus seios;
14 meu bem-amado é para mim um cacho de uvas nas vinhas de
Engadi.
15 - Como és formosa, amiga minha! Como és bela! Teus olhos são
como pombas.
16 - Como é belo, meu amor! Como és encantador! Nosso leito é um
leito verdejante,
17 as vigas de nossa casa são de cedro, suas traves de cipreste;