segunda-feira, junho 14, 2010

Contos Magrebinos

Choras como uma mulher a perda de um reino que não conseguiste manter como um homem, terá dito a mãe do último rei de Granada ao encontrá-lo, desfeito em lágrimas, na fonte ao centro de um qualquer pátio que, com o tempo, se convencionou chamar de andaluz. 
Ainda hoje, nos países do Magreb [Marrocos, Argélia e Tunísia], pesa a nostalgia da perda da Alhambra. E ainda hoje, porque também nós fomos serracenos, dizemos que Um Homem Não Chora.
Sidi Bou Said é, aparte a vertente "Atracção Turística Tunisina por Excelência", um lugarejo bonito. Muito perto das ruínas da quase mítica Cartago, foi lugar de poiso dos andaluzes despojados da sua terra. Numa colina sobranceira ao plácido Mediterrâneo, não tardou que o então característico verde e amarelo das planícies do sul espanhol fosse substituído por cromáticas mais coincidentes com a paisagem. E, hoje, subsiste o branco de cal em tudo o que não seja portas ou janelas. Que são azuis. O mesmo azul. Imagino que, algures em Tunis, haja um fabricante de tintas que, ao invés de um Pantone, usa a referência SBS001 para designar Azul Sidi Bou Said (10.000 Dinares o Litro).
Gatos e vendedores, vendedores e gatos. De longe em longe, alguém faz a sua vida, tentando ignorar a turba de estranhos. Despejando um balde de água no pátio, orando virado a Meca, saboreando um chá à sombra de uma figueira de proporções humildes mas frutos pingões. De resto, uma íngrame rua onde se tentam vender, de forma insistente, os habituais recuerdos de origem duvidosamente sustentável. A abordagem é sempre a mesma:


Eles - Italiano?
Eu - Naaaaa...
Eles - Español?
Eu - Pffffffff...
Eles - Benfica?
Eu - Yap!



6 comentários:

rosa disse...

mostra-me esse azul. tenho uma fascinação por um determindao azul.

Zorze Zorzinelis disse...

gostei tanto da tunísia como gosto do alto dos moínhos... só mesmo o teu romantismo para tentar safar a "coisa".

El Mariachi disse...

E eu a pensar que tu ias emendar o "serracenos" para sArracenos, pá!
Tu vens da "fransha", Zorze... vais à Tunísia com um pé atrás, como qualquer francês que deita "algeriens" pelos olhos! E depois as gajas andam cobertas e não vês decotes... e depois vens do norte e tens alguma insensibilidade a sabores que provenham de figos, amêndoas, hortelã ou azeite com muito grau... E não sou eu que concedo romantismo à coisa, é mesmo o Mediterrâneo, que consegue transformar qualquer lugarejo esconso num astro com luz própria!!!

Filipa Galvão disse...

um sítio lindo! por momentos, senti-me a percorrer as ruelas de Sidi Bou Said outra vez. Eu amei esta Tunísia que aqui descreves.

Filipa Galvão disse...

by the way... gosto muito do novo layout do blog!

El Mariachi disse...

AH BOM! Obrigado!