terça-feira, fevereiro 10, 2009

Clube Lua, 15 de Outubro de 2006...

... e eu, de boca aberta, a pensar dEUS meu, não é Portugal que não está preparado para isto.
É o Mundo.


Prova disso é que, ao contrário do que acontece com quase todas as bandas depois de um concerto por Terras Lusas, mesmo que apenas razoável, Owen Pallett, ou Final Fantasy, pronto, continuou a arrepiar caminho em confortável clandestinidade. Por aqui.
Cerca de um ano antes, no Lux, havia xô Andrew Bird deixado toda uma audiência no estado em que eu ali estava, agora, aposto que com uma expressão muito similar à de quem descobre, pela primeira vez, a textura interna de uma vagina Ah, então é isto! No wonder it makes the world go around...

Lembro-me que Mr. Owen Pallett ostentava uma indumentária que dava conta da sua nacionalidade, como quem grita O Canadá também é América do Norte e os lenhadores dos E.U.A. só usam estas camisas aos quadrados porque nos roubaram o Alaska, assim como roubaram meio México por muito que continuem a chamar Flórida à Florida...
Lembro-me que, quando subiu ao palco onde só estava um violino, um orgão e, no chão, um conjunto de pedais de efeitos, pensei Oh não, outro Andrew Bird não, que eu vou chegar a casa com aquele sorriso de quem se submeteu aos caprichos de três morenas de Lesbos consumidoras de absinto com láudano.
Assim foi.
Não as morenas de Lesbos, mas o One Man Show que deixou, ao início, as cerca de 100 pessoas numa espécie de prisão de ventre emocional para que, então, a cada apoteose, que poderia vir de um solo do instrumento ou da voz naquele timbre de elfo, tudo se desfizesse em diarreia de choque, desinteria de comoção. A certa altura, o público, iluminado, era um mar de Fátimas Lopes depois de 15 dias a Activias.

Levei dois anos a consumir os álbuns possíveis e à espera deste Spectrum 14th Century, um EP que, ao início, sabe a pouco. Não agora. Estou satisfeito. O mundo também. Porque já não há paciência para grandes espalhafatos. Porque cada vez mais os incógnitos brotam como formiga de asa às primeiras chuvas. E dessa omissa Toronto, este irmãozinho mais velho dos Arcade Fire, que toca ao vivo com o Patrick Wolf, que colabora com a Björk, Last Shadow Puppets, Grizzly Bear, que é, pois, reconhecido de todo o mundo, vai ter, se tanto, mil portugueses a usar o cartão FNAC para poder ouvir isto. E mil gatos pingados tornarão difícil um regresso às nossas salas, para que se saiba que, ao vivo, fica assim.

1 comentário:

1entre1000's disse...

[pousar da Serra de Gigli - estalido da borracha esticada para retirar as luvas, remoção da mascara facial - sorriso aberto para o resto da equipa]
- Carissimos colegas mais um Craniotomia bem sucedido, quem diria que este mesmo cerebro publicou o link anterior e os actuais?... Pois assim se faz cultura musical! - [puxar o atilho da bata atrás da nuca - sair da sala]