quarta-feira, janeiro 31, 2007

La Strada - Tomo II

O Cabeças e Todos os Outros Que Conhecemos

Eu (Alzira Esfregona), o Joca (Matias, que acabou mesmo por dar em arquitecto), o Elvis (Batista), o Cau (Ton-Ton Macúte) e o Beto (Quintas), todos passámos, em tenra idade, pelo Atelier Escala - Maquetas de Arquitectura, SA, posse de Freire e Pato, antigos maquetistas do Arq.º Taveira. Assim que souberam que o escândalo iria estoirar, abriram o seu pequeno negócio. Fizeram bem. Optaram pela rua da Amendoeira, à Mouraria. Fizeram mal.
Entre dealers, clockers, jogadores profissionais e amadores compulsivos de lerpa, Fernando Maurício, verborreia gritada ao vento, mau vinho e bons Santos Populares, a vida corria com a normalidade possível.
A rua da Amendoeira, tão antiga como o Castelo (itself), era exemplificativa. Na porta ao lado do atelier, o Mota, sexagenário de três hábitos diários: De manhã, fizesse frio ou calor, descascava uma laranja ao postigo, se estivesse de ceroulas, ou na rua, caso já umas calcinhas de vinco e plissa fizessem "pendant" com a camisola de alças, enquanto esperava que os carapaus fritassem. Ao meio-dia, invariavelmente, abeirava-se das grades das nossas portadas e perguntava-me, aproveitando-se de toda a candura, ingenuidade e quase castidade que os meus 16 anos me concediam para perguntar: "Então... já comeste o cu à namorada? Passa-lhe manteiguinha ou margarina na regueifa, que é um descanso". Ao fim da tarde, chamava nomes à mulher (Puta e Rameira, nada de grave), por forma a que todos os transeuntes pudessem ouvir. Ela respondia com um singelo "lambe-conas" que, não dizendo tudo, lá perto andará! Porta seguinte, o Ti Agostinho, merceeiro coxo equipado com um motor de baixa-rotação, logo, tão durável que nem consigo dizer quantos anos deveria à cova. Cortava as fatias de torresmos suficientes para que, ao fazer a sandosha solicitada pelo cliente (eu), uma delas teria como destino a boca do próprio, na hora. Sorria de cada vez que eu lhe pedia uma malagueta seca "dessas aí penduradas", providencial remédio para os ataques hemorroidais do xô Pato. Lá mais abaixo, de porta aberta À esquina, A esquina, a "Tasca do Marquês", ponto de encontro de tudo aquilo que, na altura, o movimento "grunge" de Seattle teria dado tudo para conhecer. As nossas três portadas tinham vista para o quotidiano mais inimaginável. Mesmo em frente, duas das personagens mais emblemáticas dos bairros lisboetas. Mãe e filha, uma septuagenária, a outra não. Sexagenária, talvez, se tal fosse possível, mas não era, sendo que para todos os efeitos (aqui, para o efeito: "a menopausa tarda em chegar"), confirmavam-no os "paninhos do período", estendidos na corda, lado a lado com cuecas (manchadas LÁ, no sítio), tamanho XXXXXL. A filha sofria de paralisia cerebral não muito profunda, apenas o suficiente para eu não perceber absolutamente NADA do que dizia. Era constrangedor. Tinha uma galinha de estimação, de sua graça Pipi. A galinha Pipi corria rua abaixo assim que ouvia os primeiros acordes do genérico da Tieta do Agreste (Caetano, isto não é nada bom), pulava para o postigo e ali ficava, durante todo o episódio, de olhos na televisão. E quase que poderia jurar que os via piscar quando o Sinhôzinho Malta sacudia o relógio. Acabou nas ferozes mandíbulas do Benfica, um pequinês albino para cima de irritante!
Na casa acima destas, por fim, o Grande, Inigualável, Excelso, Único, o Cabeças... Era este rapaz, de vez em quando, o "dealer" do bairro. Das outras vezes fazia como os outros: Vinha vender uma televisão, um vídeo (nestes casos, a mãe aparecia cerca de uma hora mais tarde a tentar reavê-los), e de tudo um pouco que permitisse ao Freire ter a casa equipada com o que de mais moderno na altura poderia haver por um terço do dinheiro. A seguir, ia ao Casal. Fazia-o, na altura, há 19 anos. Com apenas 18, a cumprir o serviço militar obrigatório, fugiu do quartel para ir ter com a namorada. Desertou, diz-se em termos jurídicos terceiro-mundistas. Foi para a cadeia. Agarrou-se. Durante todo esse tempo, nunca partilhara uma seringa. Picava-se em casa com seringas de vidro que competiam pelo mesmo espaço com uma N.ª Sr.ª de Fátima fluorescente, na mesa de cabeceira. Repetia vezes sem conta: “Chavál... tu nunca experimentes esta merda, qu’isto é do pior. Ainda por cima, porque hoje em dia já não há cavalo. O cavalo do bom só ouve praí um ano”. E logo a seguir: “Dá-me aí dois cigarros”. Um era para partir e poder puxar a “sopa” da colher com o filtro espetado na ponta da agulha (para filtrar, pois então), o outro era para fumar depois do pico. Uma manhã levou um gajo qualquer lá para o quarto e ao fim de meia hora aparece a arrastá-lo pelas escadas abaixo. Deposita-o no meio da rua. Alvo como a neve. Lábios roxos. Berra-me: “Chama aí uma ambulância, ó dIAZ”. Pergunto-lhe o que aconteceu. Responde-me: “Estes mariolas metem-se a dar na fruta e não se aguentam à Bom-Boka”!!!

terça-feira, janeiro 30, 2007

Já Cá Faltava...

Tenho saudades
de ferir a areia
com o teu nome
Deixar que a maré cheia
possa curá-la
e eu, feliz
saber que ali não
aqui sim,
cicatriz!

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Colores

A revista, quando boa, é um objecto de culto. Independentemente do assunto que trata, deve servir este propósito. Deve transmitir tal gosto que nos leva a folheá-la com cuidado, para não estragar. A revista deve ser feita para ser amada. Quem a compra deve render-lhe tal amor que um vinco, cantos dobrados ou uma inoportuna gota de água que engelha uma página provocará uma tristeza não muito profunda mas também nunca indelével. Assim como quando morre o nosso primeiro canário ou peixe dourado.
Em Portugal há poucos casos. Talvez a Volta ao Mundo, a NG e a Blue, de certeza a Egoísta e Umbigo, para além de muitas fanzines que, não sendo revistas, porque são fanzines, serão, precisamente, objectos de culto. Óbvia piscadela de olho ao Miguelito, que até ouvi dizer, antes de partir uma cadeira, que está apaixonado e tudo. Eia!
Se formos para as publicações internacionais, então a coisa afigura-se bem mais interessante. Aquela loja ali na Av. da Liberdade, um pouco depois do Elevador da Glória (como quem sobe), é tão poço de perdição como uma boa livraria temática. Há de tudo e quase tudo nunca é demais porque se dinheiro houvesse levavam-me os meus sinais, cheques, letras, tudo (eat my shit, Gonzo).
Mas há um lugar, bem improvável, onde por €6 podemos ter um brilhozinho nos olhos. Chama-se United Colors Of Benetton e algumas lojas (nem todas) vendem a revista Colors. Compro a Colors como recebia, do meu pai, todos os dias, um pacotinho de cromos para colar na caderneta d'A Fauna Selvagem. É do papel reciclado? É das fotos? É dos assuntos? Não sei. Sei que é sempre uma surpresa e nunca me desiludiu. E isso, meus amigos, vale ouro nos dias que correm. Nesta última edição, por exemplo, o n.º 69, precisamente, cujos mais poupaditos podem ver em www.colorsmagazine.com, aflora-se O assunto. "De Volta à Terra", dizem eles. E mostram. Como só eles. E como ninguém, à excepção deles, sequer poria a hipótese. Se não, vejamos:

"Para a nossa dose de proteínas essencial, adorámos comer 'chapulines'(*) desidratados, aqui na redacção da Colors, enquanto trabalhávamos nesta edição. Para obter alguns, com receitas incluídas, contacte: Inalim, Quinceo #103, Col. Volcanes, Oaxaca, CP 68020, Mexico. Tel. +52 951 5159507. E-mail: inalim@prodigy.net.mx".



(*) Chapulín em espanhol de Oaxaca (México) é gafanhoto. São secos ao sol e depois fritos. Acompanham com guacamole e nachos. De referir que esta é, para cerca de 70% da população daquela área, a única fonte de proteínas possível. O assunto é abordado acutilantemente na página 92 da revista supra citada.

terça-feira, janeiro 23, 2007

Tinha de Ser

De entre todas as decisões acertadas que tomei na vida, que foram poucas, há uma de topo: guardar anualmente o Poemário da Assírio & Alvim para deixar recados no balcão da cozinha, do género: "Leva o lixo" ou "Liga à minha mãe e diz-lhe para ela temperar o capão à maneira dela" ou ainda "Isto de te ir dar os bons dias ao duche não dá. Já estava atrasado. Vê lá se mais logo, quando eu estiver a tomar banho, não te vais embora como eu", e coisas do género.
Assim, de vez em quando viro a página do "Faz a cama" ou do "Está frio. Veste duas camisolas ao Gabriel" e deparo-me com coisas do estilo:
"Prazer, mas devagar,
Lídia, que a sorte àqueles não é grata
Que lhe das mãos arrancam.
Furtivos retiremos do horto mundo
Os depredamos pomos.
Não despertemos, onde dorme, a erinis
que cada gozo trava.
Como um regato, mudos passageiros,
Gozemos escondidos.
A sorte inveja, Lídia. Emudeçamos".

Era só isto...

segunda-feira, janeiro 22, 2007

La Strada - Tomo I

Desta última vez que fiz 32 anos (porque a partir daqui terei sempre 32 anos, sendo que a grande questão é saber, portanto, há quantos anos tenho eu 32 anos), deu-me para isto: "Que espécie de pessoas é que já fizeram parte da tua vida, ó Mariachi"? "Que personagens já se cruzaram contigo ao longo de 32 anos"? "Daria a tua vida um filme do outro"? Dava. Daí o título que escolhi. Daí que optei por, ao invés de me espraiar ao longo de um só post, desmembrá-lo em vários, por tomos, digamos, para que a memória não falhe e possam todas as vidas que se cruzaram com a minha receber esta singela homenagem. E os amigos Federico, Ettore e Pier Paolo, bem sei, pelar-se-iam por gente desta. Infelizmente, meus caros, "Brutti sporchi e cattivi" como estes não há. São parte exclusiva desta "Dolce Vitta", que ainda agora vai a "Otto e Mezzo"... "E La Nave Va".
Deixo-vos, então, um acepipe:

Penalty...
Não sei qual o verdadeiro nome do senhor. Sei que esteve dez anos dado como morto em Angola ainda "Ultramar". Não estava. Voltou. Não se sabe por que horrores terá passado. É assunto que não se aflora. Já basta saber-se o que o futuro lhe reservaria cá, depois do regresso e da subsequente condecoração pelo "Professor Oliveira", como ele próprio se lhe refere. Penalty não bebe. Fuma cigarros como se não houvesse amanhã e ganzas se alguém fizer o favor de as enrolar. Conduz uma APE 50, pintada às riscas verdes e brancas, com uma bandeira do Sporting na caixa aberta, um leão em metal à frente que acende os olhos (dois "leds" verdes) de cada vez que a buzina (A Ponte do Rio Kway) se faz ouvir, roufenha. O filho, único, matou um polícia. Está preso. Antes disso, roubou-lhe tudo, incluíndo a medalha que o "Professor Oliveira", ele próprio, lhe pregara na lapela. A mulher não foi com outro. Vai muitas vezes, mas volta a casa, o que é pior. Uma vez pediu ao Elvis, o nosso artista de serviço, que lhe fizesse o retrato, mas com um par de cornos. O homem (puto, na altura), levou cerca de 15 dias para fazer a coisa, a lápis HB. Mostrou-mo antes de o entregar. Estava perfeito. Mas com cornos. Perfeitos, também. Penalty olhou para aquilo e, em vez de entregar os 5.000$00 ao retratante, queixou-se: "Os cornos estão pequenos". Elvis corrigiu. O Outro não pagou. Lembro-me do Elvis, bêbedo que nem pêras de sobremesa, a ameaçar o "cliente" na cara: "Parto-te essa boca toda, pá". O Kau, como de costume, rebolava a rir. Penalty é vulgarmente chamado de porco. Não sei. Vi algumas coisas, mas não sei o que é ficar 10 anos às mãos dos "turras", pelo que não sei que hábitos, traumas, vícios ou tendências se adquirem. De outra vez, largava sonoros gazes ao balcão do café. Saíu do estabelecimento, mas acocorou-se a um escasso metro da porta, precisamente em frente da mesma. "Tens papel, ó Dias"? À minha resposta negativa, exclamou: "Vai mesmo assim", e limitou-se a puxar as calças (de fato-de-treino) para cima". Também o vi, certo dia, a suplicar, esticando uma nota de 5.000$00 ao Juka, que sofre de uma ligeira (às vezes nem tanto) perturbação mental (seja lá o que isso for): "Vem-me ao cú, pá, toma lá, dou-te dinheiro". Logrados os seus intentos pelas constantes negas, Penalty baixa as calças (de fato-de-treino), faz um rolo com a nota e introduz a mesma no ânus, em pleno Clube Recreativo. Mais uma, bem recente, desta feita, Penalty estava sentado no restaurante ao lado de Juvenal, um quarentão que sofre de paralisia cerebral profunda e que diz-se ter uma força de bisonte, pelo que, ao contrário do que é costume nestes casos, nunca vi ser gozado. Na televisão, o Sporting estava na sua perfeita forma, a perder com um clubezeco qualquer: "Então, Penalty... o teu Sporting, pá"? "Hé pá, ó Dias, não me digas nada... se não fosse aqui o meu amigo Juvenal a aliviar a minha dor", e nisto levanta a toalha da mesa, revelando o marulho do "atrasadinho" que pendia, flácido, da braguilha aberta, e onde o Penalty "molhava" pedaços de pão que depois ingeria, com a descontracção que sempre lhe foi tão característica. Lembro-me de uma namorada que tive e que nunca mais foi à Sobreda, porque da última vez que o fez, cruzámo-nos com a personagem, que lhe perguntou, directamente: "Então... este gajo já ta enfiou no cú"? e não ficou por aqui, ainda que não tenha obtido resposta: "Sabes lá o que é bom, apanhar com o tarôlo dum preto (gesto) pela peida adentro"!

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Um Adeus Português Saloio

Sempre tentei não ser ingrato. Terei falhado algumas vezes, enfim, mas tentei sempre, quase como se de um lema de vida se tratasse, não incorrer em ingratidão. É o mínimo que se deve a quem se deve algo. A gratidão pode ser velada. O seu antónimo não. E eu vi-o, qual monstro imenso, dentes cerrados, cariados, pedaços de caldo verde pendentes dos incisivos, um bafo horrível, uma criatura hedionda, essa tal de ingratidão. Eu respondo noutra moeda. Com a outra face. Dou-a! Porque durante quatro anos fiz o que mais gostei e fi-lo bem. Precisamente porque gostei. Demais. E poucas coisas pagam isso. Nunca poderia ser ingrato. Como eles. Aliás, nunca lhes serei suficientemente grato. E para que não restem dúvidas...
Obrigado, Kauí... Porque foste a primeira a acreditar, quando poucos o fariam. Porque em dias cinzentos (364 por ano, em Sintra) me oferecias dois faróis azuis. Porque ruborizavas como uma menina. Que nunca deixaste de ser.
Obrigado, Tiago... Porque és a prova viva que ainda há talento nessa casa. O subaproveitamento é problema deles.
Obrigado, Hugo... Porque trabalhas quando mais ninguém o parece fazer. Porque sabes que desconversar é, quase sempre, o único refúgio possível.
Obrigado, Gi... Porque me fizeste perceber que nem sempre é às palmadinhas nas costas que se demonstra que se gosta de uma pessoa.
Obrigado, Bruno Damas... Por seres um oásis de genialidade (de difícil percepção, é verdade), no meio desse deserto.
Obrigado, Cátia Matos... Por esse sorriso, esses olhos de moira e essa presença, que me deram sempre uma espécie de orgulho paternal ou fraternal, nunca cheguei a perceber. Por me teres feito acreditar que eu era o melhor chefe-de-redacção do mundo, o que não lembra ao diabo...
Obrigado, Zé Carlos Cruz... Pelo empenho e amizade. Pelo humor e fidelidade.
Obrigado, Simone... Pelo empenho e amizade. Pelo mau humor matinal, as boleias e a fidelidade.
Obrigado, Eládia Belourástia... Por teres tornado hilariante a pior fase nesse antro.
Obrigado, Sónia... Pela luz.
Obrigado, Guida... Por esses dois enormes faróis.
Obrigado, João Allen... Pela música.
Obrigado, Zito Colaço... Trabalhar pode ser mesmo muito divertido e, logo, bom! A espontaneidade é uma qualidade. Infelizmente, é o mais das vezes mal interpretada.
Obrigado Jacques Rodrigues... Por seres a prova viva de que os pategos, lorpas, labregos, iletrados, ignorantes e surdos que nem uma porta também podem ser administradores . E isso é uma luz ao fundo do túnel para este país.

Supra citados não estão aqueles que já não têm de se deslocar a Ranholas para poder ganhar (pouco) ao fim do mês, assim como outros que sabem que a omissão não significa esquecimento.

Vai um piqueno apontamento antes de começar com isto à séria?

Acusam-me de ser, para além de Banhadas, pedólatra. Por favor, não confundir com pederasta, muito embora tudo dependa, claro está, dos pés.
Ser pedólatra não é um qualquer manipanço, fetiche, ou problema do foro psiquiátrico. Está muitos patamares abaixo daquele rapazola que gosta de ser manietado com arame farpado enquanto uma moçoila, com os seus humildes 120 kg suportados por sapatos de salto agulha pisa, esmaga e usa como palco de sapateado os testículos do rapaz, gemebundo. Eu não preciso de me rebolar nos pés para atingir um orgasmo e raramente os contemplo durante o acto. Reconheço, porém, que o meu primeiro acesso de impotência poderá dever-se ao vislumbre acidental de um até então omisso joanete ou, pior, uma incómoda micose na unha do dedo grande.
Gosto de pés como gosto de ombros, da linha das costas, das covinhas lombares, de mãos, da convexidade de uma barriga macia com pelinhos loiros à contra-luz.
Gostar de pés é apenas estar um pouco mais além de gostar de MAMAS e RABOS, que são facilmente visíveis do topo do andaime.
Gostar de pés é amar o detalhe.
O mais ínfimo pormenor.
E tudo isto para dizer que tenho a certeza que poucos de vós já terão reparado na senhora que aparece, naquele quadradinho no canto inferior direito do televisor, a traduzir as notícias da manhã para linguagem gestual...

terça-feira, janeiro 16, 2007

Missing Something?

Então, meuj marotoj? Extardej com xaudades do tio Máriáche?
Faltai-vos outro entretém que não chéija a labuta ingrata?
Quereis biêr o dIAZ a cascar inadebertidamente naj pechôaj?

Hein?

Ide, ide-bos! Eu buólberei com ideias chubeijas quando achar que achim o diêbo!

Enquanto icho, bou ali fritar uns caxúxuj, que isto nom está mar pa polbo de quilo!

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Resultado Oficial - Sondagem El Mariachi dIAZ/Universidade Testemunhas de Jeová

Deu trabalho. Muito trabalho. Entrevistámos pessoas de todos os quadrantes. Até mesmo gordos! E indianos...
O resultado é preocupante. 200 e qualquer coisa por cento de prejuízo no último ano. Porquê?

1. Do universo de leitores habituais do jornal Público:
2% Continuam a comprar.
3% Continuam a ler, mas só se tiverem a sorte de alguém se esquecer de um exemplar na mesa do café, porque "já não dou dinheiro a esses fascistas".
25% São assinantes.
65% Deixaram de comprar.
5% Só compram à Sexta-feira.

2. Dos leitores que continuam a comprar (ou simplesmente a ler os restos dos que compram), fazem-no porque:
1,5% Apreciam a opinião da Esther Mucznik.
1,5% Concordam com José Manuel Fernandes.
2,0% Acham que tem a melhor editoria fotográfica da imprensa escrita portuguesa.
5% Gostam do Calvin.
20% Acham que o facto de serem vistos nos transportes com um exemplar fará com que se tornem apetecíveis aos olhos de mulheres atraentes e inteligentes. Depois da união de facto, esta gente passa a comprar o 24 Horas, o Record (se forem do Sporting), A Bola (se forem do Benfica), O Jogo (se forem empresários do norte que jantam com o Pinto da Costa), e peidam-se generosa e assiduamente na carruagem do Metro durante o percurso Sr. Roubado - Marquês.
70% Não sabem/Não respondem.

3. Os leitores que deixaram de o comprar fizeram-no porque:
31% A Exm.ª Sr.ª D.ª Estér não sabe o que diz. Ou sabe, o que é pior.
19% O Exm.º Sr. José Manuel Fernandes sabe cada vez mais o que diz e fá-lo sem qualquer espécie de pudor.
10% O MST fez todas as declarações interessantes (em relação à acusação de plágio e aos 7 anos de mau sexo) ao 24 Horas e deixou para o Público os assuntos chatos e coisas do género "quem não é tripeiro é paneleiro e não-fumador".
30% Os grupos editoriais onde trabalham fornecem um exemplar por redacção e "eu é que não sou parvo"!
1% Ficaram arreliados com o facto da Charneca de Caparica ter sido considerada "O Restelo dos Remediados" num título, incluindo Ricardo Araújo Pereira, que se mudou para a Quinta Nova para cumprir uma promessa.
9% "Essa cena de engatar gajas boas no metro por ir a ler o Público é uma tanga do kaneko e já gastei balúrdios com essa brincadeira".

4. Dos leitores que já só adquirem o seu exemplar à Sexta-feira:
90% Deixaram de comprar nos últimos dois meses.
5% Deixaram de comprar no último mês.
4% Deixaram de comprar.
1% Lá vão fazendo o jeitinho, mas não sabem até quando haverá cu.

5. Dos 99% que deixaram de comprar o público à Sexta-feira, fizeram-no porque:
95% Começou a saír o Dia D, que mais valia que fosse um puzzle (por fascículos) com a bandeira da globalização sanguinária, economia parasitária à escala global e burguesismo-urbano bacoco.
5% Não estão para aturar o Y que coincide com o período menstrual da Cathleen Gomes, perdendo assim, por descuro adveniente da crítica, aquilo que seriam obras de arte cinematográficas e álbuns do Século.
4% O DN lançou o 6ª Feira.
1% Porque o Hip Hop só não é capa quando um amigo da Cathleen Gomes leva à Culturgest uma performance.

6. Dos 1% Que continuam a comprar o Público à Sexta-Feira, fazem-no porque:
49% São teimosos.
48% São optimistas.
2% São teimosos e optimistas.
1% "pfff" ou "tsc" (com um ligeiro encolher de ombros).

Esta sondagem foi feita num universo de 16,5 pessoas que acredita(va)m todas, desde o tempo da faculdade, que o jornalismo era "muitá bom" e não havia "cá padrinhos" e o Público era o maior reflexo disso mesmo (isensão também, ou lá o que isso é, ou era). Hoje em dia continuam a fumar ganzas e beber até combalir aos fins de semana.

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Isto sim, é notícia.

Sono, muito sono. Zapping, portanto. De repente, estaco: "Ensandeceste, ó dIAZ".
Não! Era verdade... Em rodapé, a frase: "Saddam dava migalhas aos pardais". Uau. Eia. Ena. Foda-se!
O rigor jornalistico por trás desta pequena nota tem muito que se lhe diga. Não, não estou incomodado com o facto do homem dar ou não dar migalhas às aves mais comuns do planeta ou sequer com a possibilidade disso constituir notícia. Tal fará parte de outro patamar! É o que há e a mais não aspiramos. Inversamente a esta tendência de alimentar com notícias de merda um povo que cada vez mais condiz, há um redactor, possivelmente a trabalhar por €600 mensais a recibos verdes que não se limita a informar que o Ex-Presidente alimentava os pássaros! Elucida com argúcia que a comida eram migalhas, o que nos deixa crer que o homem comia pão e, quiçá, umas bolachinhas Maria ou mesmo Sortido Rico da Cuétara, para molhar no darjeeling. Mais que isso, diz-nos que os pássaros não eram apenas pássaros. E isto contém em si o risco de cair em imprecisões que podem acabar com a carreira jornalística de qualquer um. Com a cultura geral que grassa no meio, não seria de admirar que um outro jornalista qualquer escrevesse que Saddam dava migalhas aos melros. Como estes só comem insectos, tornava-se, digamos, chato! Para ele, claro, e nunca para os melros. Não foi o caso. Este senhor, anónimo porque a mais não tem direito, esclarece: Eram Passer domesticus, da Família dos passeridae, Ordem dos passeriformes, Classe das aves e Filo chordata do Reino Animalia.
E isto, meus caros, é uma luz ao fundo do túnel...

Este post corre o risco de ser apagado, por razões que abaixo se apresentam como óbvias. Aproveitem-no, sacanas!

Dedicado a Nenuco, que saberá, em um ou outro momento deste texto, do que falo (calma, Fífias... saberá de ouvido, DE OUVIDO).

Frida Tocas Kahlo partilha uma vida com su Mariachi há cerca de quinze anos. Ainda que com demoradas interrupções pelo meio, este é O facto! Com tudo o que isso tem de bom e de mau. Casa só partilham há cinco. Com tudo o que isso tem de bom e de mau. Cabelos no ralo da banheira e tampa da sanita levantada, por exemplo. Certezas? Uma, que para aqui não é chamada. Já basta saberem-na os meus vizinhos e os vizinhos dos meus pais. E os meus pais, quando entravam em casa e eu os supunha ainda no Covão da Carvalha.
Houve abanões! Claro! Um deles porque, de entre tudo o que a Escola Secundária do Monte de Caparica me ofertou, apareceu, não sei de onde, a Xana. A Xana era uma miúda normal, quer dizer, nem demasiado feia nem um pouco bonita nem boa cumó milho nem má cumá vocalista dos Da Vinci, nem burra como uma franga nem demasiado inteligente como a Serenela Andrade. Primava apenas pela substancial diferença que residia no acto de passar os dias a segredar-me, em jeito de promessa de um Admirável Mundo Novo: "Faço os melhores broches do mundo". Nunca a contestei, primeiro porque nunca se contestam caparicanos que habitem próximo do Bairro dos Pescadores, depois porque imagine-se os quilómetros que eu teria de calcorrear para comprovar o contrário. Ao invés disso, pus de parte muitos dos valores que hoje falam mais alto e decidi que, se já tinha fumado Boi Vermelho sem morrer, roubado um chocolate no Pão de Açúcar sem ser preso e transportado 4 kg de chamon no carro do meu pai, ao segundo dia de carta de condução, do Bairro Amarelo à Sobreda, não era isto que ia acabar comigo. Wrong! Tudo começou a desabar quando a Xana disse, imbuída de toda a sabedoria feminina que só é mais evidente aos 16 porque são mais desbocadas, no segundo antes de demonstrar os seus dotes: "Tens é que namorar comigo". O Mariachi pensa rápido e deixa sair um: "Sim sim, claro, claro, vá"!
Facto n.º1 - Aos primeiros cinco minutos, a Verdade Suprema, a Luz, o Sentido da Vida. Xana não estava ali para enganar ninguém. E foram precisos alguns anos de buscas exaustivas para destronar aquela Rainha.
Facto n.º2 - Sandra, mais conhecida por Marilú, igualmente caparicana tinha, dizia-se, poderes mediúnicos. Comprovei-o ao chegar à paragem, quando, ao invés de receber a habitual saudação, oiço: "Heeeeee, Gotcha... Granda mamada, heim"?
Facto n.º3 - Xana ligou-me no dia seguinte e pergunta: "Então, sempre namoramos"?
Facto n.º4 - "NÃO"!
Facto n.º5 - Xana dirigiu-se à Marta no próprio dia e, para que dúvidas não restassem, descreveu com minúcia todos os pormenores ao longo da parca extensão do meu falo!
Facto n.º6 - No dia do meu 32º aniversário (ontem), Mariachi dirige-se com Mariachita Tocas a uma consulta de pediatria (Rua dos Pescadores à Costa de Caparica, pois então), destinada ao fruto (Gabriel) de uma grande verdade declarada, na altura, em conclusão dos factos descritos acima: "És aquela que eu quero para o resto da minha vida", que eu, em boa-verdade, também não ando aqui para enganar ninguém.
Facto n.º7 - A campaínha toca.
Facto n.º8 - A Xana entra na sala de espera com um filho: "Olá. Estão bons? Há muito tempo que não vos via!
Facto n.º9 - O filho não é meu!
Facto n.º10 - A vida é cadela!

terça-feira, janeiro 02, 2007

Convivamos, então, se bem que apenas com Os Outros

Para quem não liga a essas coisas de raíz linguística, há-que explicar. Um conviva só o poderá ser se for convidado.
Socialmente, o acto de não convidar alguém é não só facilmente justificável como também aceitável mesmo que a justificação para isso não exista.
Sociologicamente, porém, já a porca torce o rabo, o burro está nas couves e o caldo extravasa! Comporta a génese da maldade que reside no reconhecimento de que, ao fazê-lo, se vai condenar o não-convidado a não conviver.
Assim, temos que da primeira forma não se convida alguém porque há esquecimento, desconsideração e até desprezo por aquele que, dessa forma, é impedido de ser conviva. Este passa a saber que, naquele círculo de relações sociais, não passa agora (outrora fazia parte da casta), de pária. Para que isto aconteça, há sempre uma razão, ainda que apenas socialmente justificável. Mas há. É, então, lá está, socialmente compreensível.
À luz da sociologia, por outro lado, esse mesmo acto significa que não se acha o outro digno de convívio, ponto! E tal é, ainda que socialmente aceitável, humanamente desprezível.
Ou desumano, vá.
E se em Sociologia se diz que "O Homem é um animal Social", já é tempo da Caras, revista Social, ter uma capa com o título: "Há formas bem mais subreptícias de tratar alguém como a um animal!"