quinta-feira, agosto 27, 2009

dIAZ MAU presents...

TÍT: Não que eu seja um gajo embirrante, mas...

SUBTÍT1: FAZ-ME IMPRESSÃO

TXT: As pessoas que não usam transportes públicos para ir para o trabalho.

SUBTÍT2: FAZ-ME ESPÉCIE

TXT: As pessoas que, nos transportes públicos, vão a fazer sudoku.

SUBTÍT3: FAZ-ME CONFUSÃO

TXT: As pessoas!

quarta-feira, agosto 26, 2009

Um dia destes...

... fizeram-me uma pergunta norte-americana. Daquelas que aparecem nos Facebooks e Hi5's para que os outros saibam um pouco mais sobre nós. Acho que é um exercício necessário, já que se opõe aos verdadeiros intuitos de sociabilização entre indivíduos de uma das "culturas" mais shallow deste mundo. Que se espelham na incontornável primeira pergunta quando alguém nos apresenta outro alguém: So, what do you do for a living? Não interessa a idade, se trata da higiene íntima, se depila as axilas com cera ou à gillette, se o Herman José continuaria a ter piada se os Gato Fedorento não tivessem surgido, qualquer coisa. Não. Interessa, antes de mais, de tudo o mais, saber qual a profissão. Foi a maneira mais simpática que os fellow citizens dos estates arranjaram para que possam saber, imediatamente, qual é o nível de ordenado daquele que estão a conhecer e, logo, se é ou não companhia que valha a pena integrar no círculo de amigos.

Quais os filmes da tua vida?
Ups... não é fácil. Vê-se tanta coisa e tantos marcam que... é quase impossível. Há os que passam e não entram nunca. Há os que não entram num dia, por alguma razão e, anos mais tarde, PIM. Há os que nos deixaram apáticos durante os três dias seguintes ao visionamento. Há os que nos fazem comprar discos, os que nos alegram, os que nos contagiam de lamechice barata, os que nos inundam de erudição cara, sei lá!

Lembrei-me que, por essas e outras razões, poderia não conseguir nunca enumerar um Top Ten, nem Twenty, talvez nem One Hundred mas, neste caso, só por questões de ordenamento por grau de preferência. O Amarcord do Fellini ficaria antes ou depois do Feios, Porcos e Maus do Scolla (ou Brutti Sporchi e Cattivi porque gosto MESMO deste título em italiano)? O Pulp Fiction em 34.ª posição ou essa pertenceria ao Trainspotting porque o Tempo de Ciganos o faria andar uma posição? E se o Gato Preto, Gato Branco estaria algures por aí, que lugar da lista seria reservado para o Underground, o La Haine, o Delicatessen, o Homem Elefante, A Laranja Mecânica ou o Goodbye Lenine? E os documentários... contam? E os diálogos dentro dos filmes, como o Amor à Queima-Roupa, com argumento de Quentin Tarantino mas cuja realização coube a um rookie qualquer?

E muita coisa se prova quando, por exemplo, hoje, AINDA mal das costas e, logo, de carro para Lisboa, oiço a RADAR a anunciar um grande tema dos Chemical e penso Uau, isto só pode ser um bom sinal mas, afinal, e bem a propósito, era o The Pills Won't Help You Now!!! Olha, obrigadinho, sim? Se calhar mudo mesmo para o Voltaren, já agora estouro com o estômago também e a música continua they're probably poisoning your body Ui, está cada vez melhor!

Decido, então, e por mera piada, ir ao youtube para ver que filmes estariam relacionados com este tema. SURPRESA: Este e este. E penso logo Ok, se não me lembrei destes dois, é melhor desistir mesmo da tal dIAZ's List Of Best Moovies Ever, sob risco de fugir à minha própria verdade!

E se há coisa que não quero é isso! Isso e esta PUTA desta Espondilose ou lá o que seja!

terça-feira, agosto 25, 2009

PAIN THE HORROR PAIN THE HORROR PAIN x INFINITO!

Num momento, o dIAZ está na praia.

A correr atrás de Mariachito e Tiaggen Dazz, primo-irmão daquele. A olhar para o biquini engraçado e que assenta bem. A encher de beijos o afilhado Daniel que chega para espalhar charme e sorrisos. A fumar depois do mergulho, virado para os primeiros raios de sol, que passam de tímidos a intensos num ápice.

No outro, o dIAZ está deitado na areia.

A dor é excruciante. Não me consigo mexer. As pessoas dizem que ouviram um estalo enorme. Eu não. Apenas tudo branco. Os olhos cheios de lágrimas. Nem um dedo consigo mexer, naquele momento. Nada. Penso em tudo o que tenho e poderei deixar de ter. Brincar com o meu filho, mandá-lo ao ar, andar de bicicleta, jogar à bola às Quartas depois do trabalho, andar na Gioconda. Mariachito quer dar beijinhos no dói-dói do pai. Acha que é uma borbulha ali, na omoplata. Digo-lhe que sim. Mas choro. É tudo o que consigo fazer. Isso e reparar se sinto as pernas, os dedos dos pés.

No dia seguinte, o dIAZ vai ao massagista.

Recomendado por muitos. O lugar? Não sei. Algures na Trafaria. Quinta da Corvina. Antigo Bairro da Pentelheira. Uma estrada de terra batida digna de uma prova de rally qualquer que eu conheceria se fosse apreciador. Que desemboca num ermo onde uma única casa se avista. É essa. Patos, galinhas, gatos e cães por todo o lado. Entro, por entre calendários da Nossa Senhora de Fátima e chouriços pendurados. O homem foi massagista do Belenenses. Mas em 1947. Tem 83 anos, sei mais tarde. Já foi operado às cataratas. Isso não o impede de me puxar por uma perna até que as lágrimas me voltem a saltar, em bica. Saio torto. Estou pior. Mas conheci mais um Portugal que, estando a 15 minutos de Lisboa, me pareceu, a todo o momento, Carrazeda de Montenegro.

sexta-feira, agosto 21, 2009

"dúia láik dágs"? - Brad Pitt as Mickey O'Neil, to Tommy (Stephen Graham), in Snatch

Mariachito ama cães.

Lembro-me de ter levado Oscar Tobias J&B Adolfo dIAZ, com as tripas de fora depois de uma dentadinha de carinho do rotweiller lá da rua, ao hospital veterinário e dizer-lhe, no caminho, Não morras meu ganda cabrão, o Gabriel está quase a nascer e quero vê-lo a brincar contigo, ouviste? Ele gemia, mas cumpriu. E Gabriel desfrutou da sua companhia, dias e dias a fio, até já articular, na perfeição, que aquela primeira estrela a aparecer no céu era o Óscar com a bola na boca, à espera que ele a tirasse e mandasse para longe...

Não há melhor despertar para Mariachito que uma dose (cuidadosamente racionada) de desenhos-animados a beber iogurte líquido de frutos silvestres, a comer um croissant do LIDL com manteiga Milhafre, vestir a muda que o pai escolheu (se for a t-shirt dos Ramones... é o delírio), dizer-me Bolas pai, essa roupa fica-te bem e, logo a seguir, descer para a rua em direcção ao café onde o Duque, um pitbull salvo das lutas nos areais da Trafaria, espera-o já de barrigana para o ar, lambendo-se em delícia antecipada.

Hoje, o costume. Eu a beber café e ele sentado ao lado do bicho, passando-lhe a mão na peitaça com a displicência de quem o faz rotineiramente. Passamos para o outro lado da rua, onde costuma estar o resto da canzoada em passeio matinal, uns pela trela, outros não, e ei-lo: o retriever de ar aparvalhado que, todos os dias, e assim que o vê, corre em sua direcção para se sentar, muito direito, pose de cão de exposição, à sua frente. Mariachito acha que ele é a sua vassoura electrónica, porque de cada vez que lhe passa a mão pela cabeça, o bicho abana o rabo, varrendo as folhas do passeio. Normalmente, é esta a única interacção destes dois. Mas hoje, extraordinariamente, a atenção do animal dirige-se para algo que se move por entre as roseiras do canteiro. Num salto, afugenta um pardal, ainda juvenil, que terá caído do ninho nos plátanos acima ou tentava ensaiar os primeiros voos. Mau timming. Já não vou a tempo de evitar que o loirinho lhe ponha a pata em cima com a violência suficiente para que, quando eu o pouse na palma da mão, já tenha iniciado aquele característico e gradual pender de pescoço. Gabriel, faz uma festa ao pardalito. O puto estica o indicador. Olha, pai, está a fechar os olhos! Penso rápido Vai dormir, filho. Ele continua a passar o dedito pela cabeça da cria Posso dar-lhe o beijinho da boa noite?

Deixo-o junto da palmeira e afastamo-nos...

Ó pai! Tu estás a enganar-me... ele não foi dormir, foi para as estrelinhas, ter com o Óscar!

quarta-feira, agosto 19, 2009

WE'RE ALL THE FUCKEN SAME... For God's Sake ADMIT IT!

Parte 1
A Colega de Trabalho


Queres ir almoçar comigo ao Colombo, diz ela com um leve sorriso, não sei o que brilha mais, se os lábios se os dentes que aparecem, timidamente, por trás dessa moldura rococó. Preciso de ir ao Colombo e preciso de companhia e as pestanas, longas, negras, batem quando pisca os olhos e fazem flap flap ou flanf flanf ou plim plim sei lá, estou confuso.
Mas vou!
E paramos em frente à loja da INTIMISSIMI e dá-me um arrepio. E ela sussura, ou julgo eu, porque quando ela fala parece-me que geme e quando está zangada parece-me gritar Estou-me a vir, cabrão, ou Não pares agora, por aí, uma coisa assim. É aqui, preciso que me ajudes a escolher uma coisa e não sei se me sinta o amigo gay ou um nerd de colarinho apertado (sim, eu sei, agora é fashion) a ajudar um ceguinho a atravessar a passadeira embora esteja com vontade de ser o bully que dá sapas ao monglóide da rua, perco a força nas perninhas, ai merda, dIAZ, já foste!
Mas entro!
Então, fica-me bem? e os seios que saltam da copa abaixo e a celulite que não há em duas nádegas da Vincianas, com o brilho do mármore, e uma púbis que, a existir, se veria por baixo do tecido transparente e os pés que de menina que nunca andou descalça. hé pá, fica mais ou menos e o suor que pinga, e o calor do provador e esta Chiquita que era para a sobremesa e me esqueci de tirar do bolso se calhar esse soutien fica melhor com os boxers ou então com aquelas brancas que fazem lembrar as meínhas de renda que as meninas levavam para a Feira de São Mateus. Ela replica Ou Venda das Raparigas. Eu também Tás comprada!

PARTE 2
O Colega de Faculdade que Agora é Grande Amigo


Queres ir almoçar comigo ao Colombo
, diz ele com aquele ar bonacheirão de quem já está a pensar na sandosha de leitão com um copito de vinho branco geladinho e um café na zona central para fumadores Preciso de ir ao Colombo.
E vou
E paramos à porta do AKI e percorre-me logo o arrepio de quem sabe que percorrerá corredores e corredores de material que poderia transformar a minha casa de velhos em algo que invejasse a colecção da AREA.
Mas entro.
Achas que esta máquina de rebites é alguma coisa de jeito? e eu só oiço velhos a dizer que a aparfusadora não aparafusa nada, e os empreiteiros a dizer que o cimento-cola não cola... ou não cimenta, ou lá o que é!
E então? Achas que aqui há polish? Ou isso é ali no Continente? Eu, assumindo o cliché que está prestes a sair-me, dobro as sobrancelhas e digo, pausadamente, para não denotar alguma irritação Não queres que te vá ajudar a escolher uma lingerizinha, também?

terça-feira, agosto 18, 2009

So this is goodbye...

... eu? Eu Heima!

"Heima means back home", Jon Thor (Jónsi) Birgisson

Em Estrangeiro

One Two Three Four
perhaps some more
Kiss me so many times
it reminds me times before...

... we sank into this bitterness
the joy of beeing together
whenever
always
Happyness is a hooker
it goes many ways

doesn't find me
I don't care
it's untouchable
I wouldn't dare...

A Silly Season e os Vestivais de Música - An Essay

TOMO I
WOLF SHOWS HIS TEETH

Não morro de amores por ele. Mas tem a sua piada. E agora, tem mais ainda! Porque no passado dia 13 de Agosto teve a atitude mais correcta. Porque à falta de respeito responde-se com a mesma.
Eu também vou a festivais de música. Mas não faço deles aquilo que não são. Para quem vê concertos na Aula Magna, Culturgest ou Coliseu e tantos outros lugares que tendem a APROXIMAR-NOS de quem está no palco, sabe que há coisas que não são possíveis em festivais, onde cada banda tem determinado tempo para poder dar largas à coisa. Uma espécie de concurso televisivo para ganhar um mísero microondas. Olha filho, tens 45 minutos para poder mostrar o que vales. Já ganhaste o teu, mas a tua actuação DE APENAS 45 MINUTOS, depois dos quais desligamos o PA, vai determinar se o público compra ou não o teu disco amanhã, first thing in the morning. É, pois, ingrato. No mínimo. O público que vai a festivais, com indumentária festivaleira, dinheiro a mais para o merchandising e bilhetes de sobra para ainda ganhar algum serve um estereótipo: costuma refilar mais pela falta de barracas de cerveja que pelo pouco tempo de que dispôs a banda pela qual tem preferência. O Patrick Wolf achou que ter voado, propositadamente, de Londres para Colónia, por mero respeito a um público que o venera (já que ele ODEIA tocar em festivais), e dispôr de apenas 45 minutos para dar-lhes o que merecem ERA POUCO. Agiu. E bem!

TOMO II
THE MINISTRY OF SILLY SEASON WALKS BY

Os Radiohead não voltarão a gravar um álbum. A coisa foi noticiada ontem à noite e hoje de manhã Portugal continua apenas a ser assolado pelo HN1, pela Superliga e, do mal o menos, a ser poupado dos fogos. Que seria a única coisa que faria "desaparecer" o HN1 do país. É claro que para quem ouve música da forma como mais se ouve música em Portugal, sintonizando uma estação MÁ no auto-rádio, quer é saber do HN1. E da Crise. Quem ouve música com atenção e arrepios na espinha sabe que essa é a única coisa que o salva de dias menos bons. Como o dia em que apanhemos o HN1 ou o VIH ou sejamos tolhidos por um AVC que, curiosamente, é o recordista de mortes causadas por aqui. Não do tempo de antena, claro.
Para esses, que ouvem música com o coração e outros orgãos que possam ser assolados pelo HN1, os Radiohead disponibilizaram um link onde, a partir de agora, e de vez em quando, que é quando lhes apetecer, deixam um tema que tenham feito uns dias antes. Ontem foi este. Amanhã logo se verá. Provavelmente, haverá mais doentes contagiados pelo HN1.

segunda-feira, agosto 17, 2009

I HAD A DREAM

Uma semana sem tomar banho, duas sem fazer a barba, um pouco de massa consistente nos cantos internos de cada olho a lembrar remelas, um pouco de pasta dos dentes aos cantos da boca para parecer raiva ou esgana, uma dose de chocos-com-tinta sem lavar os dentes, um quilo de frutos silvestres esmagados com as mãos e espalhados até aos ante-braços e pelo pescoço, dois cagalhões de cão propositadamente pisados e repisados, a baínha das calças desfeita para que se meta por baixo dos calcanhares, braguilha aberta, tshirt com queimaduras de cigarros. Entro no AKI. Uma marreta, um serrote e uma embalagem de 20 sacos pretos de 50 litros.
Na caixa, a empregada, num estado de pânico enojado, pergunta-me, gaguejante, Para que é a marreta?
Eu fito-a durante largos segundos antes de responder, na minha mais cavernosa voz Não sabes que é pelos dentes que se reconhecem os cadáveres?

quarta-feira, agosto 12, 2009

Argumento n.º 802

Pela primeira vez em muitos anos, Cinema como Teatro. Por exigência do realizador e argumentista. Sem trailers de visionamentos vizinhos ou que se avizinhem, sem publicidade e com começo à hora marcada. Quem chega atrasado, porque mora na Duque de Loulé e decide levar o carro para o Monumental, perdendo tempo à procura de estacionamento, fica à porta. Pode, contudo, trocar o bilhete para um da sessão seguinte. Ou então vai ver o Sei o Que Fizeste o Verão Passado Outra Vez. Ecrã negro, mudo, letras brancas, courrier new:

El Mariachi dIAZ produções

Ainda ecrã negro e alguém pigarreia, cavernosamente, uma voz que se adivinha barítono, um decibel acima do melodioso, poucos abaixo do pregão:

Sobre o talco dos dias
leve aroma a lavanda
penso leve na demanda
que hidrata as virilhas
Ser feliz

Um, dois, três minutos
Um momento, quanto será?
Todo o tempo do planeta
Congelado num cometa que aterra, certeiro,
Aqui, entre duas costelas
Sem dor, mazelas
Ser feliz...
... se não é isto, que será?

E depois, quando parte
Esse talco dos dias
Assam as partes
Amarga-me a boca
Quero eu, querias...
Que em brado de voz rouca
Tudo fosse
Não virilhas em sangue
Cometa Big Bang

Mas sim a eternidade em Fá
Como a música que ouvi
Refrão em Mi
A que te dei, sorvi, sorvemos
Uma vida boa, curta que seja
Com esse aroma a cereja
É passá-la sobre ti


Na última estrofe, fade in do homem que lê, olhando o ecrã do computador. Um gole no copo de vinho, ecrã negro

A Be Your Own Dog Joint


Um bafo no cigarro

Verdade de Ti


Um digitar na tecla do ponto final e, neste exacto momento, o ecrã volta a ficar negro ao som desta. Os nomes dos actores alternam com imagens daquilo que será, nesta história, uma manhã de Domingo, a saber:
. A agulha sobre o vinil, a label da banana do Warhol em segundo plano.
. Torradas de pão alentejano com doce retirado de uma jarra com um pequeno rótulo onde se lê, numa letra escrita a aparo, fig sweet.
. Café duplo com uma gota, literalmente, de leite.
. Desviar o cortinado, sombra dos plátanos, festa no cão que dá uma dentada na torrada.
. Câmara fixa nos ombros, estilo videoclip, a caneca do leite em primeiro plano mas desfocada, uma sala com o cartaz do Trainspotting, um corredor com o cartaz do Delicatessen e um quarto onde, à cabeceira, está uma reprodução do Jardim das Delícias de Jerónimo Bosch. Na cama, de lençóis em desalinho, está um corpo magro, moreno, explicitamente nu. Acabaram, por ora, os pruridos hipócritas com a nudez no Grande Ecrã, púbis depilado, pés pequenos, perfeitos, dos quais a câmara se aproxima e ele beija:

Ele - Queres o pequeno-almoço na cama, como nos filmes em que as pessoas gostam muito uma da outra, mas escondem sempre algo e, inevitavelmente, é sobre isso que o filme incidirá?

Ela – Não. Prefiro fazer-te um broche e beber-te. A ver se hoje saímos. Estou assada e é preciso apanhar sol. A vitamina D, ou lá o que é, é muito precisa.

Ele – E se morássemos na Islândia, ou Oulo, na Finlândia, e fosse Inverno? Onde irias arranjar o sol?

Ela – Em comprimidos. E ficaríamos em casa a foder. Infelizmente, moramos em Portugal, pelo menos por enquanto. E lá fora está sol. E calor. E há gente. Com quem podemos falar. Estou farta de gemer e gritar, gritar e gemer.

Ele – Barriguinha cheia, é o que é. Mas vamos. Acabei o argumento.

Ela – Eu sei, ouvi-te a ler em voz alta.

Ele – E porque não vieste por trás enfiar-me a língua no ouvido?

Ela – Porque achei estranho.

Ele – A língua no ouvido? Já me podias ter dito. Pensei que gostavas.

Ela – E gosto. Do poema não. É estranho.

Ele – Tu também és. E não é por isso que me dás menos tusa. Sou doente, eu sei. Febres de ti, tenho eu, muitas. E já passava horas a lamber-te a aspirina. Fazemos um sixty nine e tu chupas-me o paracetamol, boa? Já lhes devíamos ter posto nomes há muito tempo. E estes parecem-me per-fei-tos.

Ela – Sim, doutor. E depois? O argumento... é para quem?

Ele – É sempre para ti, primeiro. Tu é que és a crítica. Se não passa por ti, não vai a mais ninguém.

Ela - Mas eu só falei do poema. O resto...

Ele – Esquece o resto. O poema era para acabar em grande. Ele está a dizê-lo dentro da banheira antes de deixar cair o secador em modo Arranca-Escalpe e começa a música que eu meti ali no prato, mas a versão do Beck.

Ela – O grau de electrocussão não depende da velocidade de sopro do secador, pá!

Ele – Ai não?

Ela – Não! E eu é que venho da terrinha, meu labrego!!!

Ele – Trigueirinha. Cheiras a cerejas, como no poema.

Ela – Ai era para mim? Então já gosto mais...

Ele – Materialista das letras.

Ela – Fode-me... vem-me ao cu. Quero-te!

Ele está sentado no chão, costas encostadas à cama, ela passa-lhe o pé pela nuca, depois chega mais perto, passa-lhe os lábios, língua ligeiramente de fora, pelo trapézio, pescoço e, no momento em que lhe enfia a língua no ouvido, entra esta

As imagens seguintes são da estrita responsabilidade do realizador e pretendem deitar abaixo barreiras ou apenas redifinir aquilo a que se convencionou chamar de porno/erótico, dois termos distintos mas que julgo ainda não terem sido alvo de algum consenso no que toca à sua definição, pelo menos exacta.

A câmara segue as mãos masculinas, morenas, cheias de veias, enormes à escala do corpo dela. Os seios que se arrepiam, os mamilos que escurecem, o ventre que se exalta, demoram-se os dedos pelos lábios dela, morenos, o clítoris cresce desmesuradamente, penetra-a com dois dedos e a câmara filma o perfil dela que aparece, por baixo, num plano vazio, boca aberta soltando um gemido, um longo fio de saliva ligando os lábios grossos. Ela vira-se e ergue as nádegas, ele continua a penetrá-la com dois dedos e lambe-lhe o ânus avidamente, com ganas de mais e mais e mais e mais e vira-a novamente, sobe com a língua pelo corpo e coloca-se à entrada dela, glande inchada, roxa, junto da vulva, ela puxa-o para si com os pés, ele não cede, passa-lhe a língua nos lábios e enfia-a na boca no mesmo tempo em que a penetra profundamente, precisamente quando os violinos aumentam de intensidade e segue a câmara para a janela, não há uma brisa que agite os plátanos. As antenas decrépitas no telhado vermelho. É esta a imagem enquanto se ouve:

Ela – Por mim... deixavas cair o secador?

Ele – Depende do grau da electrocussão... Mas levava-te comigo à Fonte da Telha, roubava um barco aos pescadores e remávamos até ver onde ia dar... a Cacilhas, provavelmente!

Ela – Foda-se, amo-te!

O plano está agora sobre ambos, fitando-se mutuamente, quatro olhos brilhando muito, as lágrimas dele são as primeiras a cair...

Ele – Eu também! Mas não o voltarás a ouvir!

Entra esta...

sexta-feira, agosto 07, 2009

A Divina Comédia Invertida

Dante Alighieri decidiu chamar-lhe apenas Comédia, por inversão a Tragédia, um conceito, um género, sei lá.
Giovanni Boccaccio é que, lampeiro, pôs Divina na coisa e, quanto a mim, o dedo numa ferida que estará, para sempre, aberta!
Eu chamo a mim o direito de acrescentar alguma coisa à Obra Maior da Literatura Italiana e, achando ridícula a progressão do Inferno ao Paraíso, porque todos nós sabemos que é precisamente o contrário, limito-me a inverter a ordem. E sei que muitos concordarão. De qualquer forma, estou-me cagando!

CANTO I - Paraíso
CANTO II - Purgatório
CANTO III - Inferno

Fácil, não?

quinta-feira, agosto 06, 2009

No Café...

Mariachito: Pai, quero uma chamuça.
O dIAZ estica a coisa à criança. Mariachito diz: Obrigado, pai. O empregado do café pergunta: Bolas, não dás um beijinho ao pai?
Mariachito: Não...
Waiter: Porquê?
Mariachito: Porque eu não gosto dele!
Waiter: Porquê?
Mariachito: Porque ele bate-me. Com a colher de pau. E com o cinto. A parte da fivela.
- Silêncio -
dIAZ: Quem te ensinou a dizer isso, filho?
Mariachito: Foi o tio Kau e o tio Elvis e o Tio Bruno...

É todos os anos a mesma coisa. Passa-se férias com amigos e é isto. Em 2008, com apenas 2 aninhos, e no próprio dia do regresso de Silves, deito-me ao lado dele: Vá, filho, dorme a sesta. Claro que adormeci eu primeiro. Acordo um pouco agitado e deparo-me com o fedelho, de olhos bem abertos, fitando-me: Então, pai? Faz ó-ó, pá, FODA-SE!

quarta-feira, agosto 05, 2009

Wish We Met In The 80's

Quanto mais me deparo com (excelentes) bandas de inspiração oitentista, mais feliz ando...
... mas, por muito que os 80's estejam na moda, há um ou outro fenómeno que, sendo indissociável daqueles, continua a ser foleiro. Eu lembro-me de dois: As meias brancas com raquettes e os slows. Tenho pena. Não pelas meias...
É que anda por aí muito boa música que, embora actual, dá vontade de desfrutar à antiga.

Um exemplo... Dançar, agarradinho, no centro da sala, ao som desta e, quando chegasse a esta já se estaria no pior dos forro-bodós no sofá, contendo o orgasmo com pensamentos do estilo E amanhã, que é domingo, onde vou eu encontrar aquele produto de tirar as manchas do couro?

Vacaciones Y Mis Amores - Un Recuentro

Levámo-lo e andou connosco TODAS AS FÉRIAS... ao primeiro gole de medronho, já a luz oblíqua, cannabis sativa cuidadosamente racionada, e eram pulos por todo o lado, com ou sem os putos, como putos que éramos desde que passámos, sempre, férias juntos. Amizades assim são raras. Gajos assim também. Suponho que Charlie tenha tido uma vida como as nossas, simples, pouco assinalável. Mas os pais eram proprietários de um bar de música ao vivo. E ele lá foi privando, de perto, com coisas boas. Como nós. Ganhou ele sensibilidades. Nós também. Ele pô-las em prática. Também nós. Era carregar no play e ouvi-lo a carregar nas teclas do piano. Vamos lá ser uns Antónios Sérgios quaisquer e colocar aqui um rótulo, dissémos uma noite, debaixo de um ataque cerrado de mosquitos ávidos do nosso álcool no sangue deles. Branquelo com feeling de preto da Motown. Boa!

E diz Marvin Gaye a Michael Jackson, batendo o pé na nuvem e estalando os dedos num ar mais rarefeito:

Estás a ouvir? Era isto! Não é para todos, rapaz... mas podias ter-te esforçado, meu labrêgo!!!

Recado Gemido ao Ouvido

Futuro num fio de cabelo
que a tudo compromete
ao maior suave toque
Serei tudo o que me envolve
passado que dissolve
numa atitude de escroque
cão-com-pulgas, pato-mudo
passas-me a mão no pêlo

Passa-me a mão aqui
sente quanto te quero
depois goza comigo
porque gozas com outros
alerta-me para um mundo
onde TODOS
TODOS
são um só
GIGANTE
umbigo

Vejo estrelas onde passas a mão
eu próprio constelação
de dúvidas, certezas nunca
manietada via láctea
em órbitas de ti
parti...
Otário NÃO!

terça-feira, agosto 04, 2009

El Mariachi dIAZ Produções / A Be Your Own Dog Joint PRESENTS...

Psichéland Fantasy, an essay about one of many portuguese afflictions...

Please consult NY MoMa program (2nd Semester 2009) for further details.

Embaraço n.º 327(a)

Mariachito vai, como sempre, à frente, a correr. De repente, estaca e fixa o olhar numa velhota minúscula. Seria anã se os anões não tivessem uma esperança de vida reduzida. Estremeço porque adivinho o que aí vem. No preciso momento em que ela passa por ele, o bicho vira-se para trás e anuncia, num brado que poderia ser ouvido a quilómetros de distância:
Mariachito: Ó pai ó pai olha uma senhora tão pequenina!!!
dIAZ: (uma mão na cara e cabeça para trás, um arrepio na espinha).
Velhota que poderia ser anã: Ó meu filho, mas tu também és pequenino!
Mariachito: (estende a mão até quase tocar na cara da senhora e estica 3 dedos) Mas eu só tenho 3 anos!!!
dIAZ: (cólica).