O Quentin Tarantino é, a par de outros que para aqui não interessam, o típico nerd em criança que, precisamente por ser nerd em criança, veio a ser quem é. Talvez seja importante referir já aqui que, ao que a esta pequena dissertação concerne, um nerd é um (demasiado) interessado pelo mundo das artes, tudo o que o rodeia e, muito particularmente, os pequenos submundos que nem chegam a criar órbitas em torno do que se convencionou chamar Arte, particularmente no Cinema e Banda Desenhada (comics ou graphic novels, já que os EUA não têm Banda-Desenhada, conceito MAIOR da 9ª Arte que se aplica apenas à Europa e particularmente França e Bélgica. Meter o Asterix e o Capitão América no mesmo saco é tão ridículo como fazê-lo, em cinema, com o Almodóvar e o Ang Lee). Quando o Quentin Tarantino chega a adulto, recorre ao que constituiu o seu imaginário em petiz e aplica-o da forma que se lhe conhece. Sem pudores nem pruridos. Daí os Kill Bill, que só aqueles que não se deram ao trabalho de analizar a coisa do ponto de vista do seu processo criativo, não estão a ver o Puto Tarantino afundado numa cadeira cossada de uma sala de cinema decrépita numa chinatown qualquer fixando na tela o Bruce Lee, monges de Shaolin e ajustes de contas entre cartéis de Hong Kong ou coisas muito piores, com dobragens amadoras e raports dignos de um TV Rural! Os "Artistas" portugueses nunca o fariam. Ninguém pode "andar com os artistas" correndo o risco de, numa noite de copos, confessar que via o Cantiflas, o Bud Spencer e o Terence Hill, os Gente Gira ou mesmo os Bruce Lee. Já um "eu e o Tozé, quando éramos mais piquenos, experimentámos, e foi bom", não faz tanta mossa, mas isto é apenas um pormenor.
Tudo isto para chegarmos ao Pulp Fiction... A efectivação da adoração do realizador pelo que era a cultura Pulp dos Comic, explicada no início da película. Dick Tracy, Capitão América, Tarzan ou o Fantasma, propositadamente impressos em papel de má qualidade, leitura de casa de banho para um país sem a revista Maria. Tudo isto posto em filme. Com a Banda Sonora perfeita. Os actores perfeitos para desempenharem papéis perfeitos. O próprio Tarantino como Jimmy, que vê a sua casa invadida por Vincent, Julius e um corpo, tudo resolvido por The Wolf, que compensa o incómodo com uma mobília em carvalho "Are you an oak-man, Jimmy"? A ridicularização da violência. O relógio de pulso no cu de todo um clã e que quase ia custando uma sodomização ao último rightful owner, não fosse o "Winnie Minnie Miny Moe" calhar ao Marcellus Wallace! Muito provavelmente, a obra prima do miúdo, se relegarmos para segundo plano o Reservoir Dogs, o True Romance que seu apenas tem o argumento (topa-se a léguas com este Gary Oldman ou estes dois, como só eles imortalizariam a cena - dúvidas em relação ao Christopher Walken? Clique aqui!), ou o The Man From Hollywood do Quatro Quartos e a sua readaptação tarantinesca daquela curta do Hitchcock em que a malta tem que acender um zippo 10 vezes seguidas com o dedo por baixo de um cotelo! Para os mais distraídos mas que "ah, não, eu adoro cinema, vou logo a correr ver o último do Woody", atentem, para a próxima, nos 7 minutos e 38 segundos SEM CORTES! Teatro Filmado!
Pois bem, depois dos trambulhões e cambalhotas (devo ter visto o Jackie Brown em mau dia e tenho, confesso, um odiozinho ao De Niro que tem origem no facto de me parecer que ele "faz" sempre de De Niro), aí vem o GRINDHOUSE. Tal como no From Dusk To Dawn, uma parte do Robert Rodriguez, a outra do Senhor. Uma coisa à séria. À semelhança do Pulp Fiction, readaptar à tela, desta feita, os grindhouses, cinemas rascas com sessões contínuas de filmes rascas, de muito baixo orçamento, sexo explícito, actores dignos de serem jardineiros na Câmara Municipal do Pinhal Novo, violência pela violência, Tarantino no seu melhor!!! E o melhor do Tarantino é, digamos, o melhor!
Lembram-se do que fez o homem pelo Travolta, de quem já NINGUÉM se lembrava? Vamos lá ver o que será ele capaz de fazer pelo Kurt Russel, agora que o John Carpenter já não faz filmes!
7 comentários:
por acaso também estou com curiosidade para ver o grindhouse. já li críticas que não me pareceram muito simpáticas, mas um gajo não se pode fiar nas críticas senão nunca ia ao cinema...
é como dizes, a grande mais-valia do tarantino é mesmo conseguir transpôr para o ecrã aquele imaginário cultural norte-americano e não só. e vê-se claramente que ele trabalhou durante muito tempo num clube de vídeo, tais as referências a múltiplos tipos de cinema e realizadores.
um realizador com D grande e está tudo dito!
podicrê!
Estive quase meia-hora à espera que acontecesse alguma coisa quando entro no site do filme, mas nada...
temia que tal pudesse acontecer...
youtube com eles... atrailer é a que tem 2:qqer coisa minutos
Assim não pode ser... Escreves 2498847 caracteres e depois ainda nos fazes perder tempo com links que não dão! Achas isso bem? Facilita, Mariachi!
machintosha-te ou vai ao BAIXAQUI sacar a actualização do Flash!
Mac nerd!
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