quinta-feira, agosto 19, 2010

Desenho o teu rosto no ar...

... enquanto me deito na areia. Os pequenos grãos caindo sobre a minha face de olhos semicerrados pela luz do sol. Achei que ficavas bem sobre o azul. Tinha razão. Mas depois mirei-te um pouco, assim, nem uma nuvem em teu torno. E achei que, se pudesse, mudava-te as sobrancelhas. Ou só uma, vá. E fazia com que os teus lábios fossem mais quentes. Mas isso não se vê no desenho. Aposto que, neste momento, estão todos a pensar que sou doido. Não os que me lêem. Os que estão aqui, na praia. E eu com isso. E as orelhas, também mudava um ou outro pormenor. O orifício, principalmente, para que a minha língua coubesse toda. Depois há este ruído das ondas, que me dá sono. Não é bem sono. Esse vem com a calma. E alourava-te os pêlos dos braços, para que fossem dourados, mesmo quando não estás bronzeada. Mas este ano as gaivotas são uma praga. Quando a maré começa a encher, é um mar de penas e bosta verde, ácida, daquela que corrói a pintura dos carros. O ventre não seria tão liso. Falta-te aquela saliência que, de perfil, está paralela com o início da curva das nádegas. O riso das crianças era irritante quando não era pai. Agora, adoro-os. Comecei a desenhar-te o rosto e já estás impressa, assim, da cabeça aos pés, sobre este anil que fica bem recortado ali com a arriba. Os pés. Nesses, não mudo nada!


3 comentários:

rosa disse...

a foto quebra toda a "fofisse" do texto.

gostei.

Anónimo disse...

Bonito. A foto não. Fria. Morta. Ao contrário do texto.


Marie

Zorze Zorzinelis disse...

Eu a ti, Diaz, só te mudava esse cérebro atrofiado :)

(abraço; saudades)