segunda-feira, agosto 09, 2010

RE RUN A ROUND


Rosa branca desmaiada
onde deixaste o cheiro
deixei-o no teu quintal
à sombra do limoeiro
...
à sombra do limoeiro
onde não sejas regada
onde deixaste o cheiro
rosa branca desmaiada 


- Popular -


Vistas as coisas de forma dura, como côdea de casqueiro bem cozido e pronto para sopas, não ia ao Redondo há seis anos. A última fiquei em casa dos Vieiras que me são mais chegados e não do Parreira, como sempre. Foi para uma passagem de ano de gente boa e enorme, ainda o chefe do clã sorria largamente em conversas de fio a horas. Por baixo da mesa, o Lambuças a esmolar festas. Por cima, vinho do Vitorino, conhecido assim mesmo, por este nome, e mais ninguém faz perguntas. É bom e pronto. Como quase tudo nesta terra. 
Passado tanto tempo, o regresso é feito de ronronares de estômago, como se o reencontro fosse com uma namorada que os anos levaram para longe e, pois, não sabemos se poderão vir réstias de vontades de beijos e outros. Os recuerdos assolam como mosquito de dengue abaixo dos 300m. Porque cheguei a quase fazer vida ali. Fim-de-semana sim, fim-de-semana não, a primeira hora era passada de braço esquerdo no ar em acenos e braço direito baixo segurando a mini ou o copo de vinho novo. Este fim-de-semana foi sim, ou seja, tudo se repete à excepção dos reencontros, que são mais efusivos, como tudo o que é bom na vida. Ti Olga, Dora, Gonçalinho, Zezinho do Plátano, Papo-Seco, Alexandre, Catarina, Domingos, Nestinho, Cochicho, Janita, Vitorino e Leanito vão surgindo à medida que os 41º pouco abrandam com o cair do negro pano, quando o Largo do Tribunal passa a ser um mar de gente por entre o burburinho das crianças e o grunhir de algumas bebedeiras, não fosse este um Portugal Maior. O calor extremo de agora dará, daqui a uns meses, lugar a um frio de se agarrar aos ossos com unhas e dentes. Entre os sobreiros e as oliveiras, o dourado tornar-se-á verde com alguns mantos de púrpura e amarelo lá para Fevereiro. O cheiro será o das lareiras de cozinha e braseiros de picão a aquecer por baixo da mesa do jantar. O Redondo mudou. Já há Centro Cultural e uma variante que evita a curva de S. Miguel de Machede, um novo mercado e até uma Praça de Touros. 
Mas essas são as diferenças que assolariam qualquer um, não eu, que tenho um naco de Redondo comido à bruta em idade disso. 
E sinto-o mudado porque já não há Jonatas ou Manel do Asilo. 
Mas há, ainda, a hipótese de alguém, como eu, cair de amores por uma terra que não é a dele. 
Ficar com ela para sempre, na boca o sabor de um cozido de grão, nos ouvidos uma modinha
Mesmo que só cá volte de quando em quando!





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