Topo da Arriba Fóssil, frente a St.º António de Caparica, Maio 2008 - À nossa aproximação, levantam voo cerca de 10 poupas (Epupa epops). Há mais de uma década que o acesso a tal visão me era completamente impossível, sendo que toda a minha infância partilhei o extenso olival do Vasco Morgado, Cereeira, Sobreda de Caparica, com este bicharoco. Sei, por isso, que é solitário. Em bando? Só poderia haver uma razão. E este som dos chocalhos, mais o cheiro a bedum, não enganam. É o frenesim da nidificação. E a poupa, como algumas tribos africanas, sabe que não há nada como o excremento animal para fazer o ninho. "Que bicho porco", dirão alguns. Depende. Há gente que more em Santa Iria da Azóia.
Num 3º andar da Charneca de Caparica, Maio 2008, noite - Fumo à janela. Da acácia em frente, ergue-se, no característico salto seguido de dois ou três bater de asas, uma coruja das torres (Tyto alba). A lua, um triste risco, quase invisível, não chegaria para iluminar a criatura, não fosse ela alva, quase luminescente. Percebo porque só saem à noite. Porque esta não é uma visão para ser banalizada, para estar disponível só porque sim. Vi-as, na minha infância, inúmeras vezes. Mas nunca pude observar de cima este planar. Num silêncio tão absoluto que os transeuntes não dariam pela presença deste pequeno fantasma que lhes passa por cima.
Num 3º andar da Charneca de Caparica, Maio 2008, dia - Fumo à janela. Passa um gaio (Garrulus glandarius) em desespero de alimento, imagino que, dada a data, destinada à prole. Poisa na relva e, num ápice, é rodeado por três melros (Turdus merula) que lhe fazem uma perseguição tão agressiva quanto ruidosa. Da palmeira à ameixeira, do plátano à olaia, o bicho é obrigado a abandonar o terreno daquilo que os ingleses, por via de um riquíssimo vocabulário, chamam de Pássaro Preto (blackbird).
Rua Vera Lagoa, Lisboa, Maio 2008 - Saio, todos os dias, da redacção para fumar. Regra sem excepção, um rabiruivo preto (Phoenicurus ochruros) dá início aos seus estalidos e tenta afastar-me da porta do edifício para, já a uma distância segura, dar início ao seu clamor canoro. Conheço este comportamento de há muito, e decido armar-me em Attenborough, percrutando a área. Atrás do ar-condicionado, lá está ele. O ninho. À minha sombra, a prole (três) abre o bico com a exactidão de um milésimo de segundo. O macho, lá longe, recomeça com os "tsk tsk" de preocupação. Não há razão.
Rua Artilharia Um, Lisboa, Maio 2008 - Em Lisboa, poucas coisas me fazem olhar para cima. Um "grito" de um peneireiro-vulgar (Falco tinnunculus), ainda mais quando falamos no centro da capital, é uma delas. Neste caso, são dois. Um transporta um rato nas garras. O outro mergulha sobre ele, engalfinham-se os dois, caem durante uns segundos e, pouco depois, o agressor sobe, com a sua recompensa, em círculos. Pouco depois, já descrevem, de novo, os seus círculos de rapina.
17 comentários:
Há muitos Turdus merula lá para os meus sítios. E pardais também, que, por sinal, gostam de bicar a ração do Bono, ao que ele assiste impávido e sereno. Tinha um ninho no candeeiro em palhinha. Sabes que passarinho é que poderá ter feito isso?
Xaval,
Estás a fumar muito. Não precisas de fumar para ver a passarada...ou então precisas... ;)
Tóne
Descreve o candeeiro em palhinha e o local exacto onde, nesse, estava o ninho.
Candeeiro redondo, em forma de bola, em palha grossa, tipo ramos, mas não é todo fechado, e tem uma abertura pequenina. O ninho estava dentro do candeeiro, mesmo quase ao pé da lâmpada. O ninho era em raminhos bué fininhos.
Muito porreiro o post!
Pardais (mas esses preferem o espacinho entre as vigas e as telhas), tentilhões, felosas, piscos, verdilhões ou mesmo rabiruivos.
Interessa saber se as palhinhas são muito fininhas mas o ninho é pequeno (casos acima), ou se a área do ninho é considerável, o que abre o leque de possibilidades.
O ninho é pequeno, o buraquinho é pequenino.
E os raminhos são mesmo muito pequenos, parecem os casulos dos bichos da seda.
pisco ou verdilhão...
Não me lembro de ver esses birdarolas naquela zona.
quem te diz que eles se mostram assim à vara larga?
PELO CANTAR DO MELRO...
JÁ ENGOLIU MUITA MINHOCA!!!
Olhó Armando? Atão Armando...
...tenho aqui o Pica-Miolos! Queres?
Olha a unica coisa que me ocorre dizer a este post... para além de "QUE ESPECTÁCULO!!!" é faz-me um bico.
Hugo,
Não gozes,pá. Este post está ALTAMENTE!!! CINCO ESTRELAS!!!!
Tu tens é pena de não fumar para poderes ver passarinhos.
Estação da Fertagus em Sete Rios: há dias também fiquei admirada com o espécimen que avistei neste local. Nada mais nada menos que um Columba livia. Por acaso nunca vi o ninho porque parar a admira-lo é meio caminho andado para ir trabalhar com uma bosta na indumentária.
pita.
Malandra!
Mas olha que de entre a família Columbidae, os do marido da D.ª Astride eram uma visão saudável... Já os de Sete Rios à Praça da Figueira metem nojo!
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