Júlio ainda não saira do armário.
Mas faltava pouco mais que empurrar a porta.
Especialmente quando o Fernando do Economato passava.
Júlio trabalhava (apenas o essencial) numa repartição das Finanças.
Mas a sua vida era o trabalho.
Aquele era o seu mundo.
Aquele e o submityourdude.com
Ocasionalmente.
Bem, quase todas as noites.
Mais um Pagamento ao Estado.
Mais uma Declarção de IRC.
E o Fernando a passar mesmo à sua frente.
Parecia fazer de propósito.
Vai entregar o tubo de fita cola àquela puta da Cidália.
A Cidália e os seus decotes.
Júlio já nem sabia expressar-se como gente.
Por causa do trabalho.
Às vezes, no café, que frequentava apenas quando se esquecia do thermo de chá de erva cidreira em casa, pedia um garoto e ouvia o empregado perguntar-lhe: "Um impresso 23"?
Nem dava conta!
De outra vez, decidiu-se pelo exotismo e desceu da "carreira" uma paragem depois daquela que o deixava quase à porta do trabalho.
Ficou tão assustado que perguntou, já a suar, a uma velhota que passava: "Como eu que vou daqui para as Finanças"?
A velhota respondeu-lhe: "Aguarde na fila da Tesouraria? Mas que fila de que Tesouraria"?
Tudo mudou a partir do dia em que se declarou ao Fernando do Economato.
Trémulo, lívido, de olhos baixos, disse-lhe, gaguejando: "De cada vez que me estendes uma resma A4, só me apetece abrir-te o meu Tray2"!
Desmaiou de seguida e sonhou que corria, de mão dada com Fernando do Economato, por um imenso campo de papoilas.
Que nunca vira.
Nem imaginava como seria.
4 comentários:
Julio:
Se há coisa que eu gostava era que sentisses nas costas a camisola de pelo natural que envolve o meu dorso, forte e robusto.
Arfar ao teu ouvido, sentir as tuas costelas flutuantes a suportar os meus 117,3 kg de homem.
Julio:
Hoje faço horas extraordinárias. Aguardo por ti, para ser apenas ordinario.
(no arquivo morto)
No cu!
Ó Dias. Por falar em finanças. Já pagaste as quotas?
ha ha ha ha
tiveste bem, puto!
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