Mole, o cão mais antigo de Cacilhas, sofria de reumático.
Velho, quase tão idoso como os pescadores de rabetas no molhe da fábrica de óleo de fígado de bacallhau, e que já raras vezes se aventuram ao safio no Porto Brandão ou ao robalo no "pilar de cá" da Ponte, Mole levantava-se, a custo, ganindo até aquecer as articulações, de cada vez que o meu pai aparecia, ao fundo, com as aparas de carne que a minha mãe confeccionava, com gosto, para o Oscar e o Kadafi, sempre a contar, porém, com o magérrimo e fiel Mole...
Mole já não chegou a ver os golfinhos que já entram até bem em frente ao Ginjal, nem as poucas ostras que se começam a segurar, novamente, ao paredão que vai d'O Farol ao Atira-te Ao Rio. Já não chegou a ver o Tejo sem a Lisnave, portanto, ainda que tenha empreendido tantas viagens de cacilheiro, porque, imagino, apetecia-lhe. Ou porque alguém entrava para o ferry a comer um folhado de salsicha.
Eu não cheguei a fotografar o Mole.
Tenho pena.
Não porque o Mole fosse uma coisa bonita, de forma alguma.
Era apenas curioso.
Coberto de pastilhas elásticas que, durante os Verões quentes, passavam do alcatrão para o seu pêlo, entretanto um expositor de pequenos círculos, brancos, verdes e rosa.
2 comentários:
"Já não chegou a ver o Tejo sem a Lisnave, portanto, ainda que tenha empreendido tantas viagens de cacilheiro, porque, imagino, apetecia-lhe. Ou porque alguém entrava para o ferry a comer um folhado de salsicha." - gostei deste pedaço!
Sim senhor, gostei!!
há também um camarada do teu Mole que anda nos Ferrys de Setubal para Troia, mto velhito e cambaleante, mas ainda e sempre um cão à maneira.
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