Branka pôs aquele brilhozinho nos olhos: "Na Sérvia ainda não se recicla! Nem sequer há tratamento de águas". Estávamos na margem oposta de Belgrado, Zemun, num bar de praia (fluvial, pois), onde centenas apaziguavam os corpos nas águas do Sava, o abrigo possível dos 38ºC que assolavam, há um mês, toda a linha do Danúbio (da Floresta Negra alemã à Roménia). Gente despreocupada, esta! Não como nós, flores de estufa ocidentais... Como eu, que empalideci, dias antes, enquanto bebia água da torneira, ao ouvir a Marija falar com a Staca sobre os cancros no pulmão galopantes que têm vindo a fulminar, desde há alguns anos para cá e num espaço de 15 dias, tantos amigos comuns. "Urânio empobrecido, 1999", julgo distinguir por entre aquele belo linguarejar em sérvio!
É então que passa um veículo MAD MAX! Um amontoado de ferros acima dum inconfundível motor de Diane, uma caixa aberta em tábuas toscamente pregadas. Lá dentro, lixo. Ao volante, uma personagem do Gato Preto Gato Branco, música Turbo Folk em decibéis não permitidos (na Sérvia, QUASE tudo é permitido), para ajudar à interiorização da coisa. Lembro-me de ter lido, num blogue amigo, um poste que deu sururú, de seu título: "Os Romenos são uns Ciganos". É nisso que agora penso. Por pouco tempo. Branka exclama, a olhar para aquele estranho meio de transporte: "As nossas gaivotas são os ciganos. São os únicos que reciclam. Fazem um carro de três bicicletas".
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