sexta-feira, novembro 04, 2005

Nosso Jorge

Aprendi a gostar de samba com o Amigo Chico, ainda ele era De Holanda...
Serve isto para aventar que os sambas do Seu Jorge, comparativamente à sobre-elaboração quase jazzística do Buarque, parecem monocórdicos. Não fez mal. Seu Jorge canta Blues da Favela, segundo a sua própria definição. Canta letras que recebe pelo correio (muitas de presos), que falam quase sempre dos favelados, explicam a violência sem nunca a excusar. E é no meio de um hino seu:
"A favela, nunca foi reduto de marginal
Ela só tem gente humilde Marginalizada
e essa verdade não sai no jornal
A favela é, um problema social
Sim mas eu sou favela
Posso falar de cadeira
Minha gente é trabalhadeira
Nunca teve assistência social
Ela só vive lá
Porque para o pobre, não tem outro jeito
Apenas só tem o direito
A salário de fome e uma vida normal"
...que se levanta e começa a esclarecer o público menos informado em relação a essa mesma realidade. Que não vale a pena tentar controlar com polícia quem tem fome, que ninguém imagina o que é ter que "vender bala no trem" para comer e ao mesmo tempo olhar horas a fio para os "comerciais" da McDonald's, que nós, os portugueses, sabemo-lo porque temos muitos brasileiros cá e família lá, e acaba a agradecer pela nossa presença, que temos presente que todos aqueles que estão ali são, eles próprios, favelados, mas queríamos desfrutar do que teriam para nos oferecer.
É então que toda a Aula Magna se levanta num aplauso tão efusivo que Seu Jorge, o Mané Galinha da Cidade de Deus, o Pelé dos Santos no "Life Aquatic With Steve Zissou", chora! Mete as mãos na cara e ganha o respeito dos outros em palco que o foram abraçar. Porque esta "tanta gente falando minha língua" não eram, afinal, o bando de preconceituosos em que se tornaram todos os outros ex-colonizadores. Ajoelhou-se. Ergueu as mãos para nós. E cantou, por fim, só com a sua guitarra, cigarro entre as cordas, a sua versão do Life On Mars do Bowie! Para mim, o mundo parou.

3 comentários:

zez disse...

Enquanto isso, no Pavilhão Atlântico, alguns alienados rejubilavam com uma diarreia de "obrigados" num programa de televisão em directo chamado European Music Awards, da MTV!

Anónimo disse...

"Video killed the radio star..., blá, blá"; Daí que as acreditações para Seu Jorge fossem tão facilitadas ;)
E o mais alienado de todos não esteve lá?

Zorze Zorzinelis disse...

chamaram-me?!