quarta-feira, agosto 31, 2011

oH iNvertED wORLd

Only those who've never seen a baobab tree do not realize why people here believe that it's planted upside down, said Calisto Magisto. 
Then continued to scratch the ground with the stick that he'ripped from the bush under which Gertrudes, the cheetah, decided to face death. 
As a consequence. 
Of a territorial fight. 
A stiff body as beautiful as rotten
Wounds and blood and worms and eyes half closed. 
A figure of grandeur of yore. 
Sara Suri pretended to look at this Grand Ambassador of the Vegetable Kingdom. 
It really looked weird. 
Even more so now. 
Against the dusky twilight. 
But she was staring at his hands instead. 
Long fingers
Nails so nicely drawn. 
All this at the end of both square palms. 
Huge. 
That she imagined, over and over, almost every day, holding her against the wall. 
Tightly contained. 
But powerful
We look like two baboons, sitting herewas the most lucid thing she could bring out of her mouth at that time. 
As if to exorcise the thin sand that already started to stir in the hourglass of her belly. 
Lending some juices that she felt slipping out from her. 
Knees nervously knocking against each other. 
While trying to blow in the wind all those lustful ideas. 
The smell of bonfires in the air. 
The heat. 
If it's for this, I do want to be a baboon, he said. 
They both meant the fact that they're sitting on top of a termite mound. 
At sunset. 
Like those apes. 
The dominant male at the highest point. 
sentinel. 
Vigilant to the slightest sign of danger. 
But he was unable not to think about the promiscuity that's so characteristic of that species. 

These two will never make love to each other. 
Not even a single kiss. 
Thus understanding why Nature offered us a human body
So that we can really listen our heart. 
And the image of these two, silhouetted against the sunset, the odd tree at the other end, would have made ​​a nice shot
But as always... 
... Didn't bring my camera.



terça-feira, agosto 23, 2011

i'LL tAkE iT LiKKy MaN, Li

Vamos neste? e entreolharam-se. "Rodeo", a mini-montanha-russa. Igual a todas as outras. Não fora a dimensão saloiamente mais humilde. A primeira carruagem, uma cabeça de vaca. Das brasileiras. A última, a cauda. Entre estas mais quatro. Com malhas. Bibiana Crimeia olhando as pinturas na estrutura em volta. Eximiamente executadas a aerógrafo. O Mount Rushmore. As planícies de Montana. Os saguaros no deserto Navajo. O leito seco do rio Colorado. Ela sonhando com o dia em que Átila Cabeço a levará a Nova Iorque, como Cássio, seu primo, levou a namorada, uma rameira de Lisboa, como lhe chamava a Tia Bernardete, até ao topo das Torres Gémeas e ali a pediu em casamento, com um anel que fora comprar ali a Talavera La Real enquanto a família se atarefava na confecção da cabidela. Ele imaginando o momento em que a levará para conhecer a avó em Paradela antes que a velha morra. Avançam "Corredor esclusivo para entráda". Sentam-se "Mantenha o sinto colucado durante toda a viajem". Entregam os bilhetes "Vale 1 viajem no Carrossel RODEO - Não riembolsável". Ela encostou a cabeça ao ombro fôfo — gordo — dele. A música Eu levo no pacote ai eu levo sim senhor eu levo no pacote para gosto do meu amor distorce as velhas colunas. A vaca avança. A fiada de cabelos que teima em ficar entre os lábios dela. O abraço dele, por entre gritos de crianças, caras de frete de progenitores a pensar no Lay Off da empresa e, lá em baixo, os acenos de mães com aquele sorriso das mães. Saem. Compram um saco de pipocas. Quedam-se em frente ao velhinho Comboio Fantasma. O mesmo que estava na Feira Popular de Lisboa. O Frankenstein saindo e entrando no caldeirão. Ela diz Hoje quero-te beber até ao fim. Ele pergunta Antes ou depois de te partir esse cuzinho? Ela responde Tanto faz. Ao lado, um casal discute. Ele está desempregado. O ordenado dela não chega para que a filha possa andar na pista de carros que tem um VW Beetle da Hello Kitty. A petiza em questão, pela mão de ambos, ouve, de olhos muito abertos, as declarações de um amor denso que nunca conhecerá.


segunda-feira, agosto 22, 2011

pOst ViVeM

Trajano Tarrataca não queria tal responsabilidade sobre os ombros. Como quando o outro pede ao pai, cada um no seu extremo da barca, fisionomias idênticas Pai, afasta de mim esse cálice. Fazia-o sentir-se como aquela escultura sobre a secretária do padrasto. Um senhor com uma fita desportiva na cabeça e o Mundo às costas. Atlas, soube depois. O mesmo nome que tinham aqueles dez livros na prateleira do móvel da sala lá de casa. Que costumava folhear para passar o tempo. Tinham sempre fotografias de sítios lindíssimos. Mas com pessoas esquisitas. Com chapéus estranhos e roupas coloridas. Os mais estranhos eram sempre os pretos. Com pratos na boca. E corninhos nas orelhas. E mamas penduradas até à barriga. Como sultanas de Ano Novo. Isto eram palavras do avô Olípio. Não as dele. Para além desses, havia só mais um. "Por Quem Os Sinos Dobram". Mas não tinha fotografias. E era um nome ridículo. Toda a gente sabe que os sinos balançam. Não dobram. Oscilam, vá. E por quem o fazem só interessa a quem vai à igreja. Que é o sítio mais chato do mundo a seguir aos filmes que o avô Olípio costuma ver com senhores a meterem a pilinha numa espécie de boca velha e sem dentes que as senhoras têm entre as pernas. Elas até são bonitas mas fazem sempre uns sons iguais aos da vizinha de cima quando os pais estão fora e eu irrita-me (a mim, Trajano) porque não consigo dormir e não sei como é que ela faz isso porque já anda no 2.º Ano do Ciclo e é muito difícil e não se pode ter sono nas aulas. Neste momento, ergue o olhar para o avô. Enquanto escava o buraco. Assume aquilo que pensa ser uma súplica muda. Nada. Já chega, exclama o velho Olípio. O tom monocórdico. Desprovido de qualquer presença. Ausente, portanto. Deposita o saco na cova. O plástico preto a mexer-se. Muito. Vêem-se os contornos. Orelhas e caudas. Uma pata cujas unhas conseguem fazer quatro pequenos furos. O avô ergue a pá no ar. Trajano pensa, nesse momento, que isto lhe ficará para sempre. Uma pancada seca consegue extrair mios que ainda não se tinham ouvido a nenhum dos bichos. Oito gatos malhados que Pantufa, a gata da casa, parira entre as raízes da velha oliveira. Tinham três dias. E nomes. Que agora, à segunda pancada, o puto esquecera. Os mios cessaram. Trajano pensa Nunca mais ouvirás nada da minha boca, avô. Sente o cérebro a arder e as mãos frias. Tapa isso. A voz roufenha do velho. Cede. Empurra a terra para cima do saco e jura que o vê a mexer outra vez. Pensa em quando a Stephanie, a menina que vivia em França e voltava sempre em Agosto, lhe mostrou a pipíua quando jogaram ao Bate Pé atrás do Café Central, por entre as bilhas de gás. Suava, então, como agora. Não agora que parte, com o velho, sem olhar para trás. Agora que acabou de dar, com 28 anos, um soco na cara da prostituta de rua que era a da rua dele. Porque fizeste isso, palhaço? Levanta-se e veste as cuecas sujas. Os olhos muito abertos. O medo. Paga-me, cabrão, balbucia. Sangue na boca. Ele responde Mia, puta! A expressão incrédula És maluco, pá. És louco. Trajano Tarrataca sorri tão maliciosamente como nunca se lhe vira e exclama Se não miares vou-te matar! e aponta para uma velha pá atrás da porta.







domingo, agosto 14, 2011

Contos Serrã Nus

Sabias que John Kennedy Toole tinha apenas dezasseis anos quando escreveu "The Neon Bible"?, perguntou Filinto Anhaia sem levantar os olhos do livro "Uma Conspiração de Estúpidos", cuja leitura iniciara há três dias. Filena Avelar, na outra ponta da toalha de piquenique, respondeu apenas hmm mmh entre duas dentadas, uma na broa, outra no naco de salpicão. É um romance que critica de tal forma a sociedade norte-americana que pensa-se ter sido essa a razão que levou os canadianos Arcade Fire a darem o mesmo título ao seu disco de dois mil e sete. Desta feita, ergueu o olhar em direcção à mulher, como que esperando uma resposta mais interessada que a anterior. Depois fixou-lhe o farnel. Ela entendeu. Mas mandou-lhe apenas um pêro, que é o nome que têm as macãs na boca do povo. Filinto fixou o fruto até este parar de rebolar no restolho e olhou novamente a moça. Só isto? Um pêro riscadinho? Ácido como tudo. Ela prosseguiu com a tarefa de cortar conduto com a navalha de lâmina Ivo mas respondeu, desinteressadamente como sempre Têm muito fósforo e vitaminas. Precisas. Precisas de força para acartar com esses toros para o fumeiro e de mais alguma coisa. Ainda agora vais na introdução de um livro escrito por um gaiato. Estás cada vez mais burro! Um homem passou por uma vereda próxima, pedalando a sua pasteleira Raleigh Modelo Sport com uma cadência cada vez menor, até que a imobilizou, estacando a olhar a cena. Filinto perguntou baixinho Mais um dos teus amiguinhos? Filena fez uma pala sobre os olhos com a mão para mirar o viandante. Depois gritou-lhe É servido? abrindo insinuosamente as pernas. Filinto soube o que vinha a seguir e virou costas para comer a maçã sem ter que assistir a mais uma destas cenas. Mas ainda teve tempo de exclamar Devias considerar fazer a depilação! Estás pior que eu!, era o ciúme a falar mais alto. Cala-te asno! quase cuspiu a mulher. O estranho assomou, mão esquerda a tirar a bóina, mão direita a abrir a braguilha, exclamando A menina não devia andar por aqui sozinha. A serra pode ser um sítio muito perigoso! Filena passou a língua pelos lábios e exclamou Aqui o meu jerico protege a dona. Ó para ele prontinho para te dar um coice caso te armes em parvo! E a coisa lá seguiu como possível, que é mais ou menos com Silvério da Quitéria a dar ao osso pélvico com um olho no jumento e outro na Cigana! 


quarta-feira, agosto 10, 2011

ImPeríCia peRRuna

Toca-me aqui em baixo, vou ensinar-te como se faz, gemeu Estela. Um sussurro lânguido e demorado. Hermígio, puto loiro de longas pestanas e bíceps de dar ais às mais certinhas, abriu muito os olhos. Não se sabe se de surpresa, pânico, horror ou da dor que lhe encheu o peito, irradiou para o braço direito e, finalmente, o levou consigo. Sabe-se apenas que essa é a última recordação da mulher que o sentiu cair, inanimado, entre os seus seios morenos. Foi, durante muitos anos, o tema de conversa na aldeia. A viuvinha que chorava o leite derramado sobre si e não a morte do marido, ironizava o povinho. Nos cafés. Ao postigo. Nos bancos de jardim por baixo da frondosa tília. Só quando se descobriu que o Padre Honorato ensinava aos catequistas um pouco mais do que devia é que Estela voltou a sair à rua. O espanto estampado no rosto de quase todos os habitantes de Venda dos Pretos. Antão Abranches, o merceeiro, não conseguiu segurar o maxilar inferior, que pendia. Bráulio Barrocas, guarda-livros introvertido, levantou os óculos de ver ao perto para poder ver ao longe. Énio Esparteiro, o barbeiro, deixou fugir o rafeiro que levava a passear àquela hora e até Fabrício Falcão, o louco que dormia no pombal da Quinta do Mal Lavado exclamou Foda-se, coçando as vergonhas. Podia tudo isto até ser do clap clap clap ritmado dos saltos na calçada macadamizada. Não. Estela estava, pela primeira vez, de luto.


segunda-feira, agosto 08, 2011

Genesis A320

E, havendo Estanislau Bezerra 
terminado no dia sétimo a sua obra, 
que fizera, descansou nesse dia 
de toda a sua obra que tinha feito. 


Uma mini-guilhotina 
com a qual decapitou, 
no Domingo, 
gato da vizinha. 


contemplou toda a sua obra, 
e viu que tudo era muito bom. 


E sentiu-se dEUS. 


E gostou!



quarta-feira, agosto 03, 2011

Una Furtiva Lagrima

Plínio deixara-se tomar pelo desespero ao descobrir que a sua significância se deitara com o seu estreito âmbito. Fizeram amor, os porcos. Do bom. Suor. E cuspo. E tudo. 
Rómula não. 
Um dia conheceram-se. Na festa da aldeia. 
E viram como os foguetes deixavam um rasto luminoso, Como tu, disse Plínio. 
E repararam como a explosão de luz era de tal forma intensa e estrondosa que não permitiam a ninguém ficar de olhos abertos, Como nós, disse Rómula. 
Abraçados. 
No coreto. 
Rodeados das alcoviteiras e dos linguarudos do povoado. Eles de ralo bigode. Elas de farto buço. 
Somos demasiado ofuscantes para nos quedarmos aqui, dizia ela. EncaNdeias-me tu porque te amo, replicava ele. 
Encadeias-me, sim, pensava ela, agrilhoada ao chão quando os sonhos eram tão altos. Etéreos. 
Quando o fim daquela Primavera se anunciou com aromas de estio e besouros zunindo a palmos da cara, Plínio tomara a decisão. Quantas e quantas viram, em si, o brilho que agora observava, pela primeira vez, naquele canoro pássaro que já há muito deixara de cantar. Por sonhar com o céu aberto. Ou outra gaiola. 
Sabia, pois, o que era estar do outro lado. Ser a luz. Mesmo que, agora, estivesse um tanto/quanto ou tudo/nada apagado. O que, invariavelmente, acontece. Mas isso só tem a importância que tem dependendo de quem lá está. 
Para ver. 
Ou fechar os olhos. 
Ignorando, assim, que uma pequena lágrima, furtiva, refracte toda a luz do maior dos sentimentos!





This Beautiful Creature Must DiE...

Higino olhava para o outro lado do bar. O lado de lá. O fascínio estampado no rosto. Como o de uma criança que vê, pela primeira vez, um cadáver. Com a mão esquerda, segura o crucifixo de ouro. Que traz ao pescoço desde que se lembra. Com a direita, leva o copo à boca com a regularidade de uma linha de montagem. E fuma. Fuma muito. Os olhos raiados de milhares de vasos. Fixando o lado de lá. Do bar. Tenta formular uma frase. Mas sopra bolhas. 





segunda-feira, agosto 01, 2011

ApAscenTa-ME a VasTa vArA de PoRcos pOrcA

Conrado, o bisbórria narcisista, acendeu mais um cigarro. Com o que tinha na boca. Depois soprou o fumo. Com força. Em frente. Para ver como a seara ao entardecer, oiro, convertia para algo mais frio, tungsténio. Como um filtro de fotografia. Um vício nojento a meter-se de permeio entre si e a planície. As duas coisas que mais amava na vida. Bateu um pé para erguer pó. Nada. Bateu o outro. Tampouco. Uma fina camada de ervas secas protegia o solo. Avançou em direcção ao dadivoso mar de trigo. Abriu os braços. Para sentir, nas palmas das mãos, a carícia das espigas. A memória do tacto a fazer das suas. Ergueu os olhos para o céu, tungsténio, e deixou-se cair para trás, levantando uma nuvem de pó, oiro, entre si e o firmamento. Como um filtro de fotografia. Retirou a beata da boca entre os dedos indicador e polegar. Projectou-a para longe com a ajuda do médio. Antes de adormecer pensou Tenho de deixar crescer o bigode. Quando o fogo lavrou, toda vila acorreu às muralhas do castelo para carpir a antecipada falta de pão para a boca. Quando Feliciano lavrou a terra, encontrou um corpo carbonizado. Ventre inchado. Pernas flectidas. Dois braços abertos. Entre estes, três corvos em deleite necrófago. Era a primeira vez que Conrado abraçava.