quarta-feira, julho 14, 2010

Sonhei Com Um Tempo Melhor

Assim que o primeiro foguete rebentou, com estertor, provocando pequenas ondas que iam dos bordos ao centro do meu copo de morangueiro, iluminaram-se os pinheiros em redor do terreiro, mas também a face dela. Não que fosse preciso. Conheço-lhe cada um dos pêlos no buço, mais aqueles que lhe unem as sobrancelhas. Perguntem-me quantos são. Eu respondo. Calculo que também ela saiba o exacto tamanho das minhas orelhas, a referência de Pantone da alvura dos meus tornozelos, o número de borbulhas que tenho nas costas mais as manchas das que secaram, só das vezes que estou de tronco desnudo a enxadar a horta e ela passa, vestido de chita e meias de renda de crochet da avó Cremilde, de alguidar à cabeça, umas vezes com os lençóis que deixou a corar, outras com toucinho de salga. Traz consigo o leve aroma de sabão Clarim, das manhãs no tanque, de feno que atira aos bísaros do pai e, nas axilas, do muito alho queimado que come ao jantar. O amor também surge entre feios, sabeis? Olhou-me e sorriu e mordeu a palhinha que saía do Trina Laranja e Jaquim, que é bombeiro, gritava ao Zé, que é o fogueteiro e estava entornado de minis aviadas no Central, que ele tinha Uns cornos que dava para ir à Carrazeda de Montenegro sem apanhar a Carreira e que Os da Protecção Civil não querem foguetes na mata. Depois abanou as ancas e o rabo que balança, ainda hoje, com tão pouco, quando a Katinha e os Toblerones, que acho que têm um sobrinho ou lá o que é da Tonicha no órgão, começaram a tocar. Perguntei-lhe se queria dançar mas o Chico Pica passou aos rodopios a equilibrar a cerveja no boné, como sempre faz porque toda a gente acha piada e ela riu-se e fechou os olhos e coçou o peito que ficou vermelho e olhou-me recto no olhos e disse-me que a avó estava na quermesse a falar com a Zezinha e a Mouca da Mercearia. Disse que lhe apetecia uma fartura e fomos e passámos pela avó Cremilde que meteu logo a boca de lado em direcção à Zezinha para desdenhar e isso obrigou a Mouca da Mercearia a inclinar-se para ouvir e assim ficaram, nós a segurar nas farturas ainda a queimar e a sorrir para a senhora que, embora só nos visse uma vez por ano aqui na Feira de São Deodato, não se furta nunca ao desabafo porque o marido devia estar a ajudá-la, mas é um Panhonha lambe-conas putanheiro. Ela disse-me que preferia ir até ao eucalipto por trás do armazém da Junta, porque a avó e as outras pensariam que estávamos para o outro lado e eu disse que sim e tremiam-me as pernas e ela disse-me Eu nunca fiz isto com ninguém e fechou os olhos e eu percebi que ela queria que eu a beijasse mas eu não sabia se queria ou não com língua mas decidi tocar-lhe apenas com os lábios e como vi que ela gostava meti-lhe a língua dentro da boca e ela começou a respirar fundo e a entrelaçar uma perna em volta das minhas e eu senti-lhe as tremuras e segurei-lhe uma mama e estava rija e tirei-a para fora e olhei, tinha um bico castanho, escuro, duro, beijei-o e mordi-o e ela gemeu, agarrei-a na cintura e senti-lhe uma, duas ou três pregas, já não me lembro quantas, só me lembro de como não percebi como é que alguém preferia aquelas mulas magras que o Mané Piston tinha em calendários pendurados na oficina, ela pegou na minha mão e meteu-a por dentro das cuecas dela, eu não sabia onde encontrar as coisas no meio de tanto pêlo e decidi a ir-me pelo calor, mas não era nada igual àquela puta de quando fui a Talavera de La Reina na despedida de solteiro do Marreco, acho que se chamava Sara e tinha a crica igual à da minha sobrinha quando acabou de nascer e aquilo fez-me impressão, mas agora estava descontrolado e não sentia as pernas e queria fazer qualquer coisa que não sabia bem o que era porque não sei se ela queria e depois ela tocou-me no meu e eu não aguentei e realizei-me mas antes que o desconforto pudesse surgir já o Zé, o fogueteiro e não o da vacaria, tinha pegado fogo à mata. E eu vi-a a ir-se embora, atrás da avó, a juntar os joelhos enquanto andava, o perfil iluminado pelo laranja dos pinheiros que estalavam e chiavam em agonia. Olhou para trás. Eu baixei os olhos. No chão, uma caneta que alguém perdeu. Apanhei-a e li “Agência Funerária Pestana”. Depois cheirei os dedos.












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