Arquimedes era, aparte o invulgar nome, a que os pais se viram obrigados pela Conservatória de Registos Centrais, já que Outubrino não era permitido e Deus só o era com a preposição "de", um homem absolutamente normal. Talvez os ombros fossem um pouco mais largos que o costume, o que até lhe ficava bem, e as longas pestanas também lhe valeram alguns dissabores em novo, como ser confundido com uma menina ou, já entradote, ouvir vezes sem conta a pergunta Pintas os olhos? que ocorria sempre numa longa mesa de um jantar qualquer no preciso momento em que toda a gente tinha feito silêncio porque o bacalhau à bras daquele feito com batata palha da Titi estava a ser servido. De resto era, pois, normalinho. Bem, havia também aquele sinal no pescoço que fazia lembrar um escaravelho da batata tatuado em tons de bordeaux e o facto de vomitar quando a canja não tinha hortelã nem limão. Fora isso era aquilo a que as pessoas gostam de chamar normaleco. Ah, e era intolerante à lactose, o que lhe trazia incómodos de cada vez que queria impressionar uma miúda no restaurante, pedindo, com ar de profundo conhecedor, um queijo 100% ovelha de meia-cura com cardo da região de Serpa, a cuja ingestão se seguia um indisfarçável ataque de urticária pelo corpo todo, como se todos os mosquitos dos arrozais de Alcácer tivessem organizado uma apresentação da Bimby numa sala qualquer do seu corpo com bolachinhas da Cuétara e chá de limão sobre a mesa de apoio. À excepção de tal, era um homem comum. Embora houvesse, também, aquela incapacidade em desviar olhos de decotes, mesmo quando eram os das destinatárias das conversas, em disfarçar arrotos, em conter flatulência, em evitar fungar o muco nasal para de seguida engolir, perante os estupefactos olhares em direcção da sua maçã de Adão, como que confirmando aquilo que, há um segundo atrás, pensaram nos seguintes moldes Ele não vai fazer AQUILO, pois não?
Não havia dia em que não pensasse em tudo isto, ciente que estava dos seus próprios defeitos, incluindo um pénis diminuto e por circuncidar há mais de três décadas.
Então por que raio é que a sua vida, na forma de meandros e segredos, sem os quais a própria não existe poderia ter tanto interesse para outros?
4 comentários:
"(...) incluindo um pénis diminuto e por circuncidar há mais de três décadas"
lolada, foda-se, caralho, estás tão fodido desses cornos
Quero o Diaz de volta! Quem és tu que usurpaste este blog???
KAUI... o meu heterónimo manda-te beijinhos!
Sem dúvida fiquei curiosa, mas o moçoilo das patilhas também promete....
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