... houve arraial e foguetes no ar.
Houve também, para além do vinho a correr à farta e da fanfarra que não parava de tocar, um olhar, não de soslaio, um pouco mais demorado que o costume, entre Vasco e Alice. Quando esta conseguiu, finalmente, saír do fundo poço em que se afundavam todas as suas fantasias, mesmo as que a assolavam desde que era menina - chegou a imaginar o Sr. Alves, contínuo da escola, a dizer-lhe, como dizia a toda a gente, mas desta vez apenas para ela "queres ir ali onde eu durmo ver o walkie talkie que eu mandei vir dA Fransha?", topou que Vasco a topava e voltou a fitar o coreto, iluminado. Estava ainda mais bonito. Tremeluzente mas intenso, monocromático mas colorido. Porque Vasco caminhava, agora, em direcção a ela. Pressentia-o. As borboletas na barriga, o estômago a contorcer-se, numa ligeira dor, como que apertado de dentro. Foi à beira da perda de força nas pernas que o ouviu sussurrar-lhr ao ouvido "vamos". Foi à beira da perda de voz que ainda conseguiu balbuciar "onde?". Não interessava. Foram. Sem que uma ligeira brisa lhe soprasse os cabelos, a livrasse deste calor, deste afrontamento sofrido em antecipação, deste adivinhatório arrepio dos sentidos. Vasco beija-a contra o rugoso tronco da tília da Praça Combatentes do Ultramar. Ele cheira a cerveja e farturas, a árvore cheira ao que cheira a aldeia durante metade do ano, Alice gosta. Vasco também. Sente-lhe a boca quente, a pele suave, suave o vestido, o cabelo, o aroma a canela, duros os seios que agora aperta, num desejo incontido e impossível de adiar. Nem mais um minuto! Ela pressente-o. Diz "não posso. sou muito nova. Matam-me se descobrem". Ele sabe o que tem a fazer. Propõe: "Atão vou-te ao cu". Ela, temerosa, "Ontem comi chocos com tinta".
1 comentário:
É a cena do extra e intra-olhar, não é? Muito bom mesmo!
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