1. Não passou um ano desde que andei por areais Bahianos a fazer um das coisas mais compensatórias da até agora ainda sobejamente inútil vida do dIAZ. De manhã, cedinho, palmilhava, com a Betânia, alguns quilómetros de praia em busca de sinais de desova de tartarugas marinhas durante a noite. Identificado o lugar, desenterrar o local da postura, fazer a contagem dos ovos, voltar a enterrar o "ninho" e protegê-lo de potenciais predadores que, felizmente, hoje em dia, são apenas outros animais irracionais. Nem sempre foi assim. A Tamar ICMBio, que tão simpaticamente deixou o tuguinha interessado atrapalhar uma lida que, para eles, é mais que rotineira (embora os mova alguma paixão), nasceu porque, nesta linha de praias paradisíacas, os répteis eram um acepipe. Até aos anos 80, eram vigílias nocturnas à espera da chegada dos pobres animais, a chacina, a carapaça para artesanato, a carne para churrasco, os ovos para confeccionar as mil e uma sobremesas que tornaram a doçaria bahiana famosa. E fui realmente feliz quando vi aparecer, da areia, alguns minúsculos seres que, não importa qual a direcção em que os colocava, dirigiam-se sempre, e com uma urgência louca, para o mar. Acho que até é capaz de haver, por aí, fotos documentando a coisa.
2. Numa das incursões quinzenais ao supermercado indiano do Centro Comercial da Mouraria, o dIAZ ficou estático, incrédulo, pasmado, boquiaberto, assombrado, quando viu entrar a mulher com duas tartarugas de aquário (Tartarugas-de-ouvido-vermelho — Trachemys scripta elegans), ambas com cerca de 20cm de comprimento. Mas porquê tanta admiração? Se até eu tenho uma! Porque estavam ambas enclausuradas num garrafão de cinco litros de água (misericordiosamente) destapado. O pouco (ou nenhum) espaço fazia com que se debatessem, uma em cima da outra, ora de lado, ora em pé, num frenesim louco, imagino que desde que ali foram postas, há cerca de dois anos, quando ainda cabiam no gargalo. Mal sabia eu que o meu espanto se tornaria choque. É que da boca da "dona", saiu a mais estranha pergunta dirigida ao empregado na caixa, em pronúncia caipira Cê num téim nada prá cómê isso? e o meu espanto parece migrar para o rapaz que, também incrédulo, faz a típica pergunta de quem não quer pensar, sequer, que percebeu Comida para tartarugas? e ela replica Num sinhô... é prá cuzinhá, mêmu, e os olhos do rapaz abrem-se até quase revelar o nervo óptico para depois, com a maior das calmas, declarar num português correctíssimo Nós não somos chineses, minha senhora. Nem brasileiros, pelos vistos...
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