Sempre houve e haverá gente que adora a Rotina.
Outros há que, mesmo que a Rotina não lhes diga nada, adoram Rotinas.
São duas coisas diferentes.
Eu não gostava, particularmente, de uma ou outra.
Talvez a excepção fosse o chegar a casa e ligar a aparelhagem (isto na classe das Rotinas), até que a Marta chegava e desligava a aparelhagem para ligar a TV a tempo de ver o "Friends" ou o "Dharma & Greg", altura em que eu começava a fazer o jantar (isto, claro, dentro do género Rotina).
Agora, que o Mariachito quebrou com a Rotina, há Rotinas que passaram a ser, por outro lado, Pequenos Gestos de Partilha. Porque são as Rotinas Dele que Me Incluem.
Um gajo acorda, senta-se a tomar o pequeno almoço e, pouco depois, aí está ele "pai, papa, pai, pão péki (pai, quero comer contigo desse pão com manteiga), depois bebemos o primeiro café e "pai, dedo, bom" (pai, deixa-me lamber o dedo e enfiá-lo no pacote de açúcar), fuma-se um cigarro à janela e "pai, popó gâni ó popó canino ó mota pai" (pai, põe-me aí à janela contigo para observar os carros até que passe um autocarro ou uma mota porque eu passo-me é com esses), toma-se um banho de porta entreaberta para que ele ali esteja a olhar e a dizer "pai à pilinha pai" e um gajo poder responder: "sim, filho, é igual à tua mas se tu tiveres sorte, a tua há-de crescer", depois lavamos (mutuamente) os dentes, depois ainda jogamos uma bela futebolada e, à noite, mais uma futebolada, um Antony & The Johnsons, Final Fantasy ou Lilac Wine do Buckley pró soninho, mais uma história inventada na hora mas que inclua, obrigatoriamente, o Oscar e o Kadafi, que são os amigos do peito que lhe lambem a cara mesmo que ele lhes faça as maiores judiarias.
Mas há um pequeno acto que é o Maior. Porque enojaria qualquer um. E é por isso que uma relação pai/filho e vice-versa goes beyond.
Um dia houve em que, antes de entrar para o banho, o puto apontou para o meu umbigo e disse: "pai, bigu" e eu, numa de fazer conversa, disse: "claro, dIAZinho, só que o meu tem uma cena muita fixe que tu só vais ter quando tiveres pêlos na barriga". E dei-lhe, para as mãos, a minha bolinha de cotão.
Agora, todos os dias é "pai, à bóínha à bígo pai", o seu pequeno tesouro das manhãs, que explora, entre os dedinhos, com requintes de David Attenborough.
Comprei t-shirts de todas as cores para poder ensiná-las ao petiz.
PS - Todas as cores não inclui fuccia, caqui, pêssego, salmão e beringela que, como toda a gente sabe, não são cores, são coisas que as gajas inventaram.
9 comentários:
Delicioso este texto! Francamente, muito, muito bom!
Potete mesmo... la esta esta etiqueta ainda nao m desiludiu... a primeira vez que o faça peço o livro amarelo de imediato!
acima onde vergonhosamente se lê "potete" dever-se-ia ler: "potente", as minhas humildes desculpas...
estás homildmênte dscolpádo, pá!
Gostei mesmo disto. Achei particularmente bonito a forma como foi reproduzido o dialente do dIAZinho.
tambem eu errei!
onde se lê "dialente" deverá lêr-se dialeto.
Obrigado e desculpe, tá?
Meu dEUS, com esta doçura toda, vamos acabar todos numa orgia em festim...
isso querias tu, rabichon!
mas a ti não te tiro eu o cotão do rêgo nem que me apareças babado pela Joana Amaral Dias
tens sempre uma oportunidade garantida no WC do Cais do Sodré!
A malta lá tem curso de tirar cotão do rego e muito mais!!!
Passa lá, vá!
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