Escolhi morar na Margem Sul porque não me vejo a viver noutro sítio! Contra as tendências do novo-rico-módérno-intelectualó-féchón não consigo (devo ser bimbo, ainda por cima benfiquista) viver em Lisboa e muito menos na linha de Sintra ou deus que os valha...
Não sei se são os graffitis da APU, os raminhos de coentros à borla nos supermercados, a ausência (ou menor incidência) de preconceito em relação às minorias étnicas, os carros destrancados à noite, os fins de tarde mediterrânicos com uma caracolada no quintal da mamã, à sombra de uma videira plantada no dia em que nascemos, as romarias anuais para comprar o carrêgo de vinho numa qualquer adega na Península de Setúbal, os tremoços com cerveja sem ter que os pedir, o choco frito depois da praia, as fogueiras e banhos de mar em noites insuportavelmente quentes, os uivos dos cães durante os fogos de artifício do 25 de Abril, a malta do teatro de Almada, os recitais de poesia em tascas com cheiro a vinho e serradura espalhada no chão, a travessia do Tejo à proa do indestrutível Eborense, a espera pelo regresso dos barcos dos pescadores da Fonte da Telha para comprar sardinhas, ou mesmo as noites em Lisboa sem ter que ali dormir com mil buzinas e nenhum cantar de melro pela manhã! Como "marginalizado" margem-sulista (porque tenho pronúncia alentejana, amigos pretos, uso demasiados palavrões), exijo uma resolução para o problema que é, ao morar a escassos quilómetros da praia, ver-me insistentemente privado de ali chegar sem apanhar um camadão de nervos. Apresento soluções às autoridades competentes:
1. portagem GRATUITA na direcção de Lisboa e €25 para quem queira passar para a Margem Sul. Os residentes nesta última teriam um cartão tipo Via Card que lhes garantiria um REGRESSO A CASA à borla em dias de trabalho. Isto sim, é equilibrar a balança do estado. Não vejo os lisboetas a deixar de pagar €30 em portagens para "poder" enfrentar os engarrafamentos do Algarve depois de 335 dias de engarrafamentos em Lisboa.
2. Preço ESTUPIDAMENTE ALTO nos parques das praias de São João à do Rei.
3. Recusa por parte da Maria Emília em alargar as estradas que dão acesso às mesmas! Elas sempre foram assim.
Quem apregoa aos sete céus que em Lisboa a qualidade de vida é melhor tem de PAGAR para poder aumentar a qualidade dos fins de semana.
ATENÇÃO: Isto não se aplica à "Marijuanita y su Gonçalito" porque fazem falta deste lado e ainda hão-de perceber que o seu destino é uma quintazita na Charneca de Caparica com todos os filhotes da Lula a correr atrás de bué da filhos!!!
6 comentários:
Louveado seja então esse musculado apego à terra. Esquecendo os engarrafamentos provocados pela corridas às caparicas e afins - dando-te razão nesse aspecto -, cobrar uns surreais 25 euros a cada bimbo alfacinha seria, acredita, um bom pretexto para criar o principado de Almada, um condomínio de luxo destinado somente aos indivíduos que podem; ou seja, àqueles que provenham da margem dita certa. Vê lá se te tornas num Mariachi Jardim e acabas por encher as veias com sangue madeirense. Abraços do homem que não gosta de morar na Linha de Sintra e queria nunca ter saído do seu berço: a Mátria nortenha!
É mátria nortenha, é... Come antes uma peça de fruta, que te faz melhor!!!
Days, oh, days, oh days, o eborense... Muito bom, muito bom MESMO!!
Quem te ouve falar até pensa que vives num qualquer paraíso tropical.
Eu sou um gajo que das vezes que tenho ido à dita margem sul só encontro: desordenamento urbanistico (como na linha de Sintra) e um bairrismo do caraças (como na linha de Cascais e no Porto). Vamos lá a alargar esses horizontes, já que apregoas que nunca deste muita importância às cores. Cada sítio com o seu encanto, ok? Não ofendas as pessoas e as suas terras. Se tivesses guita serias mais um novo-rico. Se não tivesses outra hipótese papavas a Linha de Sintra e até descobrias que há uns recantos interessantes por lá.
Se achas que há desordenamento urbanístico para esses lados, espera até visitares a medina/souk/kashba da Cova do Vapor!!!
Da-se. Já vivi na margem sul durante vários anos, na Sobreda e por último na bela Trafaria, onde "o Tejo se faz ao mar" (palavras sábias da autarquia). Depois casei com uma beta porreira da Av. de Roma e tudo mudou. Ela não se adaptou a um dos dormitórios da Lisnave e ao cheiro a cereais que abunda por aquelas bandas. Passei a entregar-me aos prazeres da vida fácil e da comida feita pela Tia (leia-se sogra). Volvidos dois anos passei-me e evadi-me para o Prior Velho. Voltei a ver o Tejo e avisto novamente a margem sul. Por pouco tempo é certo, mas dá para matar saudades. Ser da margem sul não é só viver lá, é estar lá sem estar. Nunca gostei da Costa. Se um dia fores a Fortaleza vais perceber a razão simples: É igual e está mais cearense que nunca. Prefiro o Meco, a parte não capitalista, a tal de difícil acesso que só lá chegam os locais e poucos mais. Por tudo isto tenho o merecido prémio de 25 euros de portagem? Não creio. Se assim fosse teria que ser cobrada igual taxa de cada vez que a margem sul invadisse o Bairro Alto, o Lux e afins.
Quanto ao facto de seres do Benfica isso só revela que para ti ainda há esperança.
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