Vital era baixo. Atarracado é a palavra.
Pequeno. E largo. Gordo. Mas bonito. Tão bonito que as feições, delicadíssimas,
faziam com que se parecesse uma mulher. Ideia a que assistia o facto de ter
mamas. Uns enormes e voluptuosos seios de massa adiposa. Descaídos, mas seios.
De auréolos enormes e escuros. Como as grávidas. O ventre, volumoso, redondo. Um
dia, decidiu que não tinha mais nada a perder. Pelo menos, mais do que
perdera a vida toda. Que, ao que este pequeno conto interessa, era tudo. Alguém
que lhe passasse a mão pelo cabelo, mesmo quando este estava oleoso do terceiro
dia sem banho. A oportunidade de ser amado. Um beijo no peito. Mamalhudo, mas
com pêlos. Uma carícia na mão. Uma trincadela no lóbulo da orelha. Uma
lambidela longa e sincera no minúsculo escroto. A abrigar dois diminutos
testículos. É uma questão de escala. Foder. E foi. Bom. Pagou. Se não fosse
assim, nunca saberia como era, confessou. De coração aberto. Como os outros
fazem ao objecto do amor de uma vida. Que só vem uma vez. Uma só. Ela deitada
sobre o seu peito. A desenhar gatafunhos com a ponta do indicador em torno do umbigo
saído. Ele com uma madeixa dos seus cabelos no queixo. Uma comichão horrível.
Mas devia ser assim com os outros também. Coisas que, não fora o contexto,
incomodariam. Ela diz, baixinho E os outros? Quantos jantares, concertos,
teatros e sessões de cinema não têm de pagar até chegar a isto? E sem garantias
de qualidade. Foi assim que Vital, o Gordo, passou a ser conhecido como Vital, o Gordo Putanheiro. Mas a Altivez foi uma amiga com quem andou, a partir dali, de mãos
dadas. E que finos e delicados dedos tinha, a puta!
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