quinta-feira, junho 17, 2010

New Age

Se eu disser que sempre vivi PARA e DE música acha-se que, no espaço máximo de um ano, irei concorrer a um programa televisivo do qual vou sair com um disco gravado, uma digressão paga e uma turba de imberbes pitas que, por hora, até são jeitosas mas que, como têm demonstrado as evidências dos últimos dez anos, estarão gordíssimas aos 30, lambendo o ketchup da MacDonalds dos cantos da boca com a mesma sensualidade com que um dromedário rumina o que ainda lhe resta num dos quatro estômagos.
Porquanto, di-lo-ei de outra forma.
Não me lembro de um só dia da minha vida em que não tenha ouvido, propositada e atentamente, música.
Não estou a dizer que tal não tenha ocorrido, estou apenas a dizer que, a haver, apaguei-o da memória.
Talvez não a um ou outro momento em que, não estando a ouvir música, achei que o Tema Tal encaixava ali muito bem.
Lembro-me de ter visto, com Popitz, a Björk a compor músicas com os ritmos dos comboios nos carris ou do fabrico de panelas no Dancer In The Dark e pensar Meu dEUZ, dIAZ, as vezes que tu fazes isto!
Não me lembro de viagens para a escola secundária sem walkman, faculdade e primeiros trabalhos sem discman ou, mais recentemente, sem leitor de MP3... Elas existiram, claro, mas sempre devido a causas óbvias como faltas de pilhas ou bateria. Mas era tudo um inferno e as pessoas mais feias e o dia mais cinzento, triste, de sentidos despertos para buzinas, conversas de chacha e outras coisas que interessam pouco mais que nada.
Lembro-me de, na fase das Rádios Piratas, esperar horas pelos meus temas favoritos e então, muito rapidamente para que o início também constasse, fazer rec no gravador mono usado para fazer entrar os jogos no ZX Spectrum e encostá-lo à coluna da aparelhagem.
Lembro-me das K7's gravadas às namoradas com todos os autocolantes preenchidos de forma a que, mesmo que inaudível, passasse a ser um objecto de decoração.
Lembro-me das K7's gravadas às que eu queria que fossem minhas namoradas, verdadeiras obras de arte.
Não me lembro de um só texto que tenha escrito sem phones nos abanos.
Lembro-me de todas as músicas que serviram de fundo a momentos determinantes e não dos momentos determinantes que estavam para lá da música que tocava, como o Mighty Joe Moon dos Grant Lee Buffalo quando tive o primeiro acidente de carro, o Bernice Bobs Her Hair dos Divine Comedy quando lhe pus o cabelo atrás da orelha e a puxei para o beijo de uma vida, o Take Me Out dos Red House Painters quando ela disse Sim ou, na minha cabeça, o To Build A Home dos Cinematic Orchestra quando peguei a primeira vez no meu filho.
Lembro-me de como, nos ensaios da banda, era sempre eu que aumentava o volume, suave indício.
Lembro-me de como me tocou o It's All Gonne, Pete Thong e de reconhecer, de algures, aquele apito do lado esquerdo, das perdas de equilíbrio e das leves pontadas.
Lembro-me de como uma lágrima me caiu quando o médico disse 75% no esquerdo, 80% no direito, com tendência a piorar, e de não ter pensado numa só música para aquele momento. 

5 comentários:

Anónimo disse...

E não é que está tão bonito este teu raciocínio. ;-D
Freaky

1entre1000's disse...

com as devidas diferenças... neste post vi-me LITERALMENTE ao espelho!!!!!!!!!!!!

rosa disse...

hummm...

rosa disse...

Pete Thong!!

Zorze Zorzinelis disse...

Nem que se fosse pantera, né? (bom post)