Praça dos Restauradores.
Em frente ao posto dos CTT.
Ao lado do quiosque.
Do lado do Condes.
Do Hard Rock Café, perdão!
Por entre carros, SUV's, furgonetas, camiNHonetas, motociclos, velocípedes com motor, subsequentes buzinadelas e ronronares de motorização, falas das gentes, gritos dos infantes, música das janelas, telemóveis a tocar, zumbidos de néones, Country Boy consegue distinguir...
... um grilo!
Num mundo de cimento e alcatrão cri cri
Sargetas de águas fétidas sshh sshh cri cri
Calçadas de pastilhas derretidas ao sol e pisadas por transeuntes cloc cloc cri cri
Ruas negras de óleo de motor vrum vrum cri cri
Tampas de esgoto infecto sob os carros que passam clang clang cri cri...
... há, entre tudo isto, reduzidos círculos.
Como ilhas ao contrário num mar poluto.
Desenhados a compasso-de-cortar-calçada-portuguesa.
Onde pouca terra alimenta tímidas acácias e olaias e plátanos que urram por socorro nesse verde grito das árvores das cidades.
Mas o cinzentismo do humanus citadinus obliquos é surdo.
E o cri cri vem deste enfezado álamo curvado ao peso de maleitas múltiplas.
Apenas detectáveis por quem passa como todos deveriam passar por Lisboa.
De olhar erguido.
Country Boy aproxima-se.
Ela também.
Está em cima, na copa, no tronco, diz ela e outro que a eles se junta.
Os grilos estão sempre no chão, diz Country Boy, que aproxima a mão ligeira para que City Cricket denuncie a sua localização, silenciando-se. Fá-lo.
Agora é pessoal.
Country Boy perscruta a erva que cobre a terra, feita de minúsculos trevos, mirrados, agonizantes de fumos e pouco sol. City Cricket continua em silêncio. Ela e o outro continuam a teimar que o som vinha da copa. Mas City Boy já viu o orifício na casca da árvore, onde insere uma palha, batalha final insecto/homem que está, à partida, ganha. City Cricket salta, por fim, em pânico, e City Boy apressa-se a agarrá-lo para o recolocar naquele tão diminuto domínio de terra e ervas e árvore que nem para um grilo chega! Não adianta, já lá vai. E corre para uma morte quase certa! E tudo para que City Boy pudesse provar... nada!
Como quase tudo o que fez na vida...
3 comentários:
UMA CONFISSÃO: eu tenho um grilo ou melhor o meu filhote tem um grilo, chama-se Rafael (o grilo portanto não o filhote) [a confissão] eu COMPREI o grilo mas disse ao meu filho que o apanhei na mata. HUMPFT, o meu filho vive na inocência de achar a mãe uma caçadora de grilos nata, mas eu guardo este segredo e quem me conhece sabe q EU a apanhar grilos seria no minimo HILARIANTE!
o GRIlo faz GRI GRI...
n é cri cri!!!
AIII AIIIII Country Boy uma ova!!!
provou..que tem olhos de menino, coração de criança..e que desenha nos outros um sorriso lindo..de quem vê além do que os outros olham. Na história do grilo, como na vida..assim te considero.
poppins
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