quinta-feira, maio 31, 2007

Tornar

O Quentin Tarantino é, a par de outros que para aqui não interessam, o típico nerd em criança que, precisamente por ser nerd em criança, veio a ser quem é. Talvez seja importante referir já aqui que, ao que a esta pequena dissertação concerne, um nerd é um (demasiado) interessado pelo mundo das artes, tudo o que o rodeia e, muito particularmente, os pequenos submundos que nem chegam a criar órbitas em torno do que se convencionou chamar Arte, particularmente no Cinema e Banda Desenhada (comics ou graphic novels, já que os EUA não têm Banda-Desenhada, conceito MAIOR da 9ª Arte que se aplica apenas à Europa e particularmente França e Bélgica. Meter o Asterix e o Capitão América no mesmo saco é tão ridículo como fazê-lo, em cinema, com o Almodóvar e o Ang Lee). Quando o Quentin Tarantino chega a adulto, recorre ao que constituiu o seu imaginário em petiz e aplica-o da forma que se lhe conhece. Sem pudores nem pruridos. Daí os Kill Bill, que só aqueles que não se deram ao trabalho de analizar a coisa do ponto de vista do seu processo criativo, não estão a ver o Puto Tarantino afundado numa cadeira cossada de uma sala de cinema decrépita numa chinatown qualquer fixando na tela o Bruce Lee, monges de Shaolin e ajustes de contas entre cartéis de Hong Kong ou coisas muito piores, com dobragens amadoras e raports dignos de um TV Rural! Os "Artistas" portugueses nunca o fariam. Ninguém pode "andar com os artistas" correndo o risco de, numa noite de copos, confessar que via o Cantiflas, o Bud Spencer e o Terence Hill, os Gente Gira ou mesmo os Bruce Lee. Já um "eu e o Tozé, quando éramos mais piquenos, experimentámos, e foi bom", não faz tanta mossa, mas isto é apenas um pormenor.
Tudo isto para chegarmos ao Pulp Fiction... A efectivação da adoração do realizador pelo que era a cultura Pulp dos Comic, explicada no início da película. Dick Tracy, Capitão América, Tarzan ou o Fantasma, propositadamente impressos em papel de má qualidade, leitura de casa de banho para um país sem a revista Maria. Tudo isto posto em filme. Com a Banda Sonora perfeita. Os actores perfeitos para desempenharem papéis perfeitos. O próprio Tarantino como Jimmy, que vê a sua casa invadida por Vincent, Julius e um corpo, tudo resolvido por The Wolf, que compensa o incómodo com uma mobília em carvalho "Are you an oak-man, Jimmy"? A ridicularização da violência. O relógio de pulso no cu de todo um clã e que quase ia custando uma sodomização ao último rightful owner, não fosse o "Winnie Minnie Miny Moe" calhar ao Marcellus Wallace! Muito provavelmente, a obra prima do miúdo, se relegarmos para segundo plano o Reservoir Dogs, o True Romance que seu apenas tem o argumento (topa-se a léguas com este Gary Oldman ou estes dois, como só eles imortalizariam a cena - dúvidas em relação ao Christopher Walken? Clique aqui!), ou o The Man From Hollywood do Quatro Quartos e a sua readaptação tarantinesca daquela curta do Hitchcock em que a malta tem que acender um zippo 10 vezes seguidas com o dedo por baixo de um cotelo! Para os mais distraídos mas que "ah, não, eu adoro cinema, vou logo a correr ver o último do Woody", atentem, para a próxima, nos 7 minutos e 38 segundos SEM CORTES! Teatro Filmado!
Pois bem, depois dos trambulhões e cambalhotas (devo ter visto o Jackie Brown em mau dia e tenho, confesso, um odiozinho ao De Niro que tem origem no facto de me parecer que ele "faz" sempre de De Niro), aí vem o GRINDHOUSE. Tal como no From Dusk To Dawn, uma parte do Robert Rodriguez, a outra do Senhor. Uma coisa à séria. À semelhança do Pulp Fiction, readaptar à tela, desta feita, os grindhouses, cinemas rascas com sessões contínuas de filmes rascas, de muito baixo orçamento, sexo explícito, actores dignos de serem jardineiros na Câmara Municipal do Pinhal Novo, violência pela violência, Tarantino no seu melhor!!! E o melhor do Tarantino é, digamos, o melhor!



Lembram-se do que fez o homem pelo Travolta, de quem já NINGUÉM se lembrava? Vamos lá ver o que será ele capaz de fazer pelo Kurt Russel, agora que o John Carpenter já não faz filmes!

quarta-feira, maio 30, 2007

Televisão a menos...

O aparelo receptor de ondas VHF e UHF (a vergonha de Almada), a que comummente chamamos televisão, é uma parábola!
Generalizamos (ou generalizo eu) em relação a tudo (quem é do PP é paneleiro, quem vai à discoteca do Casino de Estoril é carocho da Branca, quem tem Pitt Bulls mora num bairro social, quem mora na linha de Sintra e tem que levar com o IC19 acha que a Ponte é um caos de trânsito, enfim) mas, no que toca à Caixinha Mágica, temos todos certezas: Quem muita vê, estúpido fica. É verdade. Como é verdade que, ao não vê-la por opção, como eu (à excepção do Lost e do Prison Break e do Family Guy e do My Name Is Earl), arrisca-se a perder GRANDES momentos!
Quase em Junho de 2007, não sabia quem lançara o boato da relação homossexual entre o Diogo Infante e o Sócrates!
Não fazia a mínima ideia que o RAP, no seu comunismo outrora aceso, falara desta maneira com a Odete Santos.
Nunca percebi porque é que o Benfica contratou o Moretto e sempre pensei que o meu preconceito para com o Porto era por ser benfiquista e nunca por haverem factos, factos e mais factos.
E nunca cheguei a perceber que o Jel, antes de finalmente ter conseguido fazer o que faz melhor, teve que passar por coisas indescritíveis!

terça-feira, maio 29, 2007

Ir à Índia Sem Sair de Portugal - Agostinho da Silva



Não! Ser nacionalista e contra a imigração não é ser estúpido!
É ter mau gosto!
Vou ali ao Poço do Borratém largar uns Salam Malaekum, comer uma chamussita au pakistan, beber uma kingfisher geladinha, comprar uma bola de futebol ao puto por €0,50, um quilo de massa de arroz por €0,28 e já venho.
Entretanto, lavo as vistas!

segunda-feira, maio 28, 2007

Mais do Mesmo ou a Vã Glória de Tentar Mandar um Post Diferente Sobre Algo Igual

É difícil.
Já foram feitas TODAS as piadolas que nos possam passar pela cabeça!
Eu abstive-me! Não por achar que "pois, não vou falar sobre o que todos falam". Não! Foi apenas por já ter falado tantas vezes sobre o assunto Margem Sul e da forma como, afinal, hipócritas como somos, votamos A Outra Banda a isso mesmo, ao Lado de Lá, mas de forma velada ou mesmo inconsciente. Ao menos o outro teve o par de tomates suficiente para declarar, sem vergonhas, que a Margem Sul era um deserto que só servia para comer enguias da Lançada, conquilhas e caracóis nas esplanadas e meter os pés em areia fina e limpa, pelo menos até S.João ter desaparecido do mapa. O resto é pretos, ciganos, malta xunga (a prova sumária em como, afinal, conhecem Lisboa e seus bairros mal, MUITO mal), tunnings e arraçados de alentejanos.
É por isso que eu me vejo forçado a falar do mesmo mas a ir propositadamente mais abaixo que os outros. Ou seja, vou-me deixar de diplomacias perante um gajo que foi uma rata de esgoto pelada, uma hiena com sarna, um Badameco! Eu, que não tenho de me preocupar com o nível porque, afinal, sou um xunga da Margem Sul, faço também a minha piadola... à Margem Sul, pois então:

O Xô Mário Lino deve andar a precisar de vir a um workshop de culinária na Margem Sul. Bater Leite Condensado até virar Baba de Camelo, visto que as baboseiras que diz só podem ser justificadas por uma idade avançada em que já só come, e com algum esforço, Doce d'Avó!!!

Frère Jacques, Frère Jacques, dormez-vous...

À minha maneira, bem sei, quero parabenizar a lagartagem:

Se o Sporting fosse um clube de jeito, o Jacques Rodrigues, Rei sem Trono da República dOs Bananas do Condado de Ranholas sur Mer, era do Calipolense Clube Desportivo de Vila Viçosa!


"Tomai, senhor! Aproveitai esta cãibra do defesa do Belenenses", "Pai, afasta de mim essa Taça, qu'isto já ficámos à frente do Benfica no campeonato, não digas que vais daqui", "Toma lá mazé, que sobrou da patuscada (arrôt)"...

sexta-feira, maio 25, 2007

Os Idiotas

João
16 anos
Gosta de Dançar
Gosta da Noite
Gosta de Luzes
Não Fuma!

Já me tinha esquecido desta fabulosa campanha do IPJ. Há coisas que consigo, voluntariamente, colocar no "Trash" da memória para, logo a seguir, clicar algum tempo em cima do ícon com o rato e escolher "Empty Trash". Resulta!
Mas hoje ia tirar o meu Águia da máquina (o tabaco do Benfas que é, como toda a gente sabe mas se nota mais por parte do Sporting e do Porto e seu complexo de inferioridade, o MAIOR) e lá estava um autocolante!
E há uma palavrinha a dizer. Os Morangos com Açúcar não ajudam, as "ondas" importadas dos E.U.A. (hip hop) muito menos mas, convenhamos, não há necessidade de tratar os miúdos como atrasados mentais! Gosta de dançar e de música e das LUZES??? Lá em casa anda às escuras, é? O que estão à espera com aquilo??? Dissuadir um puto com 16 de fumar? Acham que aos 16 uma gajo é IDIOTA? Uma coisa é o Generation Gap, outra é a idade das pessoas que, graças aos tachos, chefiam departamentos e, logo, aprovam isto, outra ainda é ESTA MERDA!!!
Mas já que assim é, eu tenho outras propostas:

Herculana
15 Anos
Gosta de ir ao Baile
Gosta de fazer Bolos
Acha que a depilação das virilhas "É lá pa eshas debóchádas da shidade"
Não fuma!

Heliogábolo
17 Anos
Gosta de Cavalo
Gosta de Cocaína
Dá-se mal com os Ácidos
Não fuma

Blandino
16 Anos
Gosta de Teatro
Gosta de Cinema
Gosta de Caras de Bacalhau mas só se forem demolhadas dois dias antes porque ficam muito salgadas e ainda por cima fico com os dedos a colar às páginas do livro que eu agora ando a ler que é muita bom mas agora não me estou a lembrar do nome, Konsalik, acho eu e tem uma seringa na capa, que eu só comprei porque a filha do vizinho de baixo, que é sapateiro, mas ela saíu muita boa e tem umas mamas que só me apetece trincar mas já sei que levava nos cornos porque ela também tem uns ombros e uns bíceps que vai lá vai e com isto, vai-se a ver, eu gosto é de gajos
Não fuma

Suodermina
Gosta de Homens
Gosta de Mulheres
Gosta de Ursos Pardos
Fuma um ou dois, não mais, e só em dias que come Urso Pardo ao jantar, sabe-lhe bem

Tolentina
Gosta de Cães
Gosta de Gatos
Gosta de Babás da Pastelaria Condestável
Não fuma

Capristano
Gosta de Cerveja
Gosta de Vinho
Gosta de Apanhar no Cu
Não Fuma

quinta-feira, maio 24, 2007

The Better of Worse

Já todos nós recebemos, certamente mais que 10 vezes, por email, em forma de pps ou link para os MILHARES de sites e blogues dedicados à coisa, as Piores Capas de Disco de Sempre.
Assim, estamos carequinhas de ver (muito embora nunca seja demais) o Freddie Cage em frente de uma campa e onde se pode ler o título All My Friend Are Dead, os Christian Crusaders, o Devastatin' Dave, the Turntable Slave e o fabuloso Zip Zap Rap, o Tino de calçanito de ganga e o single Por Primera Vez, ou o mais recente Heino, estrábico como a ciência ainda não consegue explicar, e o seu Liebe Mutter, que eu desconfio (assim como desconfio que o Cláudio Ramos gosta de marisco moçambicano), que signifique "Amor de Mãe" e terá sido um sucesso tão grande nos anos 60 que levou todos os combatentes no Ultramar a tatuar a coisa no braço!
Ora como se sabe, a sobrexploração produz refinamento. E o inumano esforço de quem se dedica à busca destas pérolas foi compensado! É com agrado que me deparo, no último update aos mails, com duas novas MARAVILHAS para apreciar e atentar até ao mais ínfimo pormenor...



quarta-feira, maio 23, 2007

Der List

Há 15 anos atrás, já o Manuel João Vieira dedicava uma letra a essa classe que então emergia (ou sempre existiu, adaptada à realidade em que se inseria, isto é, geração ou espaço temporal a que correspondia):
"Eu quero ir ao Frágil 6ª Feira
Quero ser amigo da porteira
Quero ir prós copos cus artistas
Quero estar nas capas das revistas
Não quero mais viver em Chelas e ir à Costa no Verão
Quero um andar no Bairro Alto e uma Quinta em Azeitão
O que me vale é um padrinho que tenho na Fundação
Quero subir à Primeira Divisão
da Vida Social".
E, nesse tempo, quando o Quevedo se dedicava à redacção da Kapa e não à Bela e o Monstro ou lá o que é aquilo, quando o MEC estereotipava taxistas portugueses e gajas que não praticam sexo anal, quando o Padre Frederico fugia, confortavelmente, para o Brasil, sem desencadear um escândalo de pedofilia (não havia SIC nem TVI), quando o Dan Brown não sabia que escreveria o Código e, logo, os portugueses pensavam que os Templários eram uns rotos que lambiam os rabos uns aos outros em rituais iniciáticos (hoje em dia sabem pouco mais, que é aquilo que o Dan Brown inventou), quando o Taveira vivia dias de glória e barriguinha cheia, quando o Herman José podia rebentar com o cenário da Roda da Sorte com uma caçadeira porque os Gatos andavam no liceu, quando o chamon se comprava aos pintores e meios-contos e a branca custava 15 contos a grama, quando o cavalo nos levava à média de um amigo por trimestre, era tudo muito melhor. Mas pode ser da idade. Pode. O que faz com que as coisas estejam todas na mesma, mas mais caras. Pois sim. Então faço eu uma lista das coisas que hoje necessitamos para sermos... enfim, sermos. Sob pena de, ao não sê-lo, simplesmente, não existirmos perante os outros que são porque, por sua vez, queriam ser perante os outros! Isto tem um nome: A Cadeia Alimentar Social ou A Arte de Ser-se Vazio por Opção Embora se Julgue Que é Por Imposição.

1 - Teenager - Uma Yamaha DTlc, muita ganza e pastilhas com fartura. MDMA só quando chega da Holanda o Cajó, das suas férias de depenar frangos e apanhar morangos. Docas e onde quer que o levem.
2 - Solteiro - Um Defender, muitas ganzas e alguma branca e/ou pastilhas, mas numa onda mais gourmet. Nada abaixo de umas dove, Mitsubishi ou Versace.
3 - Primeiro Emprego - Defender às Quintas e Sextas, para ficar no Bairro e, à descoberta de novas amizades e perspectivas de vida (deixam de ser as nossas e passam a ser as de outros, portanto, um estranho ritual de aceitação no grupo), aquisição de apartamento em Lisboa, de preferência em Bairros Típicos e/ou históricos. Muita branca, muita ganza e muita gaja. Uma delas, a que tiver menos personalidade, cola-se-lhe que nem lapa porque há muito que sonha com tudo o que ele tem e deseja, e juntam-se trapos!
4 - Vida a Dois - Um smart, para conseguir estacionar, coisas que realmente importam como roupa, muita ganza e muito álcool mas mais ao fim de semana, jantaradas durante a semana, cinema, teatro e concertos mas de forma indiscriminada e muito pouco selectiva. Sempre juntos. Caso contrário, é porque "ele deve estar maluco com a mamalhuda da contabilidade" ou porque "ela está toda molhadinha com o novo director de marketing com fatinhos do Ferragamo".
5 - Paternidade - Uma Station ou Caravan, um golden retriever, uma ganzinha quando o rei faz anos e uma vivenda térrea de fachadas pintadas de salmão, com barbecue e uma tabela de basket da Toys 'r' Us. Retorno à zona suburbana de onde saíram enquanto jovens e, finalmente, a descoberta do fenómeno "Transportes Públicos". Saídas à noite só quando há jantares da empresa e reencontros de faculdade.

terça-feira, maio 22, 2007

Delirio em Las Vegas

Uma singela homenagem ao livro que nunca foi editado em português, até agora. Estava a fazer MUITA falta!



Delírio no Zoo de Lisboa. Poderiam, muito bem, ser o Johnny, o Benicio e o Toby... mas não! É chato!

Estereótipos

Desloco-me, diariamente, para o trabalho, a pé da estação de Sete Rios à rua Vera Lagoa (acho que era a senhora que apresentava o Agora Escolha). Isto faz com que contorne o Jardim Zoológico pela direita e vire na 1ª à direita, a Calçada da Palma de Baixo, suba-a e corte novamente à direita, antes de chegar à Universidade Católica ou mesmo à Palma, esse notável bairro Lisboeta, que encerra casinhas térreas e até um campo de futebol com o seu estendal por trás da baliza do visitante, entre aquela mui valorosa instituição universitária e a Loja do Cidadão, junto ao Eixo Norte-Sul. Poucos o imaginariam.
Mas há outros estabelecimentos de ensino Por Esse Trajecto Acima (um abraço, Fausto): A Escola Príncipe Carlos (uniforme) e um ENORME colégio católico pertença da Opus Dei, cujo extenso relvado é tratado 3x por semana (o dinheiro é sujo, há que lavá-lo) e de onde já vi sair Sua Excelência a Dama de Ferro Forjado Leonor Beleza, só para citar um espécimen. Ainda antes deste, um prédio que, ainda que o seja, é um condomínio fechado. Cancela com porteiro, courts de ténis, assoalhadas a-dar-com-um-pau, um portão de garagem de onde saem, diariamente, um Aston Martin e dois Alfa Romeu de colecção, ambos do mesmo proprietário, um de manhã, outro depois do almoço, porque "são máquinas que querem é rolar".
Esta caminhada matinal é, pois, uma viagem etnológica bastante interessante. Os papás que deixam os seus filhinhos à porta da escolinha, as pessoas que saem para o trabalho, a clientela dos cafés, as criadas que passeiam os gran danois três vezes ao dia, oferecendo aos transeuntes bostas de dimensões e em quantidades tais que, utilizadas como combustível, escusariam a transformação da paisagem da zona do Alqueva e rebatizaram a Calçada da Palma de Baixo, que passou assim a ser conhecida pelos locais como El Calçadón del Cagalhón.
Isto fez-me concluir algo. E perdoem-me os que não são favoráveis às generalizações e estereótipos, porque eu já me perdoei a mim próprio e isso é que interessa:

OS RICOS SÃO RIDÍCULOS!!!

segunda-feira, maio 21, 2007

Vamos lá a ver se isto serve como desculpa...

Por vezes, na sonolência de um domingo à noite, os posts não saem como deviam. Foi o caso do anterior. Elas! O meu amigo Juvenal, o Anormal, também tem momentos menos bons, mas não temos de esperar muito tempo para que nos ofereça pérolas como estas:

trans am
Ela: "Esta é que é a Dina?"
Eu: "Não. Este é o Nuno Markl. A Dina não tem óculos."
POSTED BY JUVENAL, O ANORMAL AT 23:39 5 COMMENTS

innervisions #2
E quando o Stevie Wonder disse: "acho que perdi a visão", alguém disse: "e logo hoje que trazia dvd".
POSTED BY JUVENAL, O ANORMAL AT 14:06 3 COMMENTS

o homem de ferro
Ele: "Não estás a ligar nada ao que estou a dizer pois não?"
Eu: "Não. Está ali uma gaja boa e estou concentrado em encolher a barriga".
POSTED BY JUVENAL, O ANORMAL AT 20:26 1 COMMENTS

patch
Isto de comprar livros só para o armanço tem destas coisas. A gaja da Fnac, hoje, virou-se e disse: "'O Conde de Monte Cristo'? Isto é só para te armares não é?". Fiquei totalmente desarmado e tive de usar a do: "Isso o melhor para os gases é um cházinho de cidreira".
POSTED BY JUVENAL, O ANORMAL AT 19:54 6 COMMENTS

Foi uma forma de publicidade. Ox Alá que um dia também a façam por mim. Mas uma gaja boa, é preferível!

domingo, maio 20, 2007

Um post verdadeiramente importante

O termo "mamada" e as várias conjugações do verbo "chupar" são responsáveis pela generalizada falta de qualidade dos fellatios que se praticam por aí. A culpa começou por ser de quem falava latim e dizia "fellare" quando queria dizer "chupar". Mas os Romanos eram gente com fraco gosto, sabemo-lo bem. Os eborenses também, coitados, que viram o seu património histórico ser ultrajado pela construção daquele mamarracho, ainda por cima a mando da Diana, essa porca que, toda a gente sabe, fazia maus broches porque, lá está, chupava.
Hoje em dia, porém, a culpa é dos próprios felados, que insistem no "chupa-mo todo" como terminologia que julgam excitante e, claro, bem mandadas que são as instruendas, não vão de modas, ao mesmo tempo que assumem, a partir do exemplo daquele otário, que todos os outros querem daquilo! Amigas... não é bom! Digo mais, aleija que se farta! Tudo bem, a glande fica roxa mas não é a mesma coisa que o roxo da excitação, é mais para o lado dos enforcados ou das overdoses de cavalo...
O problema é que as tugas têm a mania. As espanholas, por exemplo, também ouvem "chupamelo todo, cariño", mas como sabem que cheiram a "ensaladilla de pulpo" e têm um rabo imperfeito, espalmado... esmeram-se!
As norte-americanas são o caso oposto. Lá por ser um blowjob, não se metem a soprar como se quisessem sacar um mi bemol de uma tuba de filarmónica. E mesmo que o façam... hé pá, 60% delas já têm silicone aos 16, o que obriga a que os gajos, caso não estejam escalados para ir para o Iraque, não se possam dar ao luxo de estar com esquisitices!

terça-feira, maio 15, 2007

Ser Pobre de Língua e Reflecti-lo no Espírito

Não é preconceito. Mas se se pudesse traçar a génese, a base do que é ser inglês (não se leia, nunca, britânico... Gales, Escócia e Irlanda do Norte não são para aqui chamados), a coisa não seria bonita. Os "bifes" são, ao contrário do que se convencionou pensar dos "boches", os mais cheios de si desde que os Romanos chamavam Bárbaros a todos os não-romanos, talvez em pé de igualdade com os rednecks do sul dos EUA. São também a coisinha mais puritana que se possa conceber. E se não conseguiram ainda perceber que a riqueza cultural se espelha, por exemplo, na gastronomia, o que dizer da língua? Acham que o inglês é a língua mais global porquê? Porque é bonita? Porque os norte-americanos espalharam actores que falavam inglês pelo mundo inteiro? Desculpem desiludir-vos: o inglês é a língua global porque é a mais fácil! E é mais fácil porque é a mais pobre. Paupérrima, até! E há vários sintomas que disso dão conta. Quantos ingleses conhecem que, embora vivendo há várias décadas em Portugal, ainda usam femininos no masculino e vice-versa? Concebem o pesadelo que é para alguém que fala uma língua das mais primárias do planeta aplicar as suas noções de gramática (desarmantemente básicas) no Português, uma das mais complicadas (refinada, meus caros, o conceito é refinamento)?
Tudo isto para chegarmos à minha Pátria. Era do outro mas eu tomei como minha. E que bem melhor era o Mundo se todos o fizessem. A Língua Portuguesa, sob as suas diversas pronúncias. Musicalidades, portanto. Nunca escondi que me apaixona, a ponto de sofrer arrepios na espinha e frios na barriga, ler culturas tão distintas na minha língua (e deles, muito deles, graças à obra do Espírito Santo pela mão de Esclarecidos). Ler África e Brasil só é possível com o coração. Por isso não me dói absolutamente nada ter passado ao lado das correntes que inflamaram os meios literários e os wannabe's com os Douglas Coupland e, mais recentemente, os nipónicos que por aí grassam. Não lhes tiro o mérito. Eles é que me tirariam tempo para me dedicar ao Ubaldo Ribeiro e ao Agualusa! E é do Agualusa que quero falar. Esse mongolé que me apresentou Angola, mais do que todas as estórias que ouvia em pequeno. "O Vendedor de Passados" não é o melhor livro do homem. Mas é excelente. Porque, entre tantas outras coisas, não passaria pela cabeça de ninguém relatar a vida de alguém pelos olhos de uma osga. Osga tem tradução para inglês. É gecko. E é por isso que não percebo, não me cabe na cabeça sequer, que a edição inglesa tenha por título The Book of Chameleons.


Uma osga


Um camaleão

segunda-feira, maio 14, 2007

Uma Metáfora

De manhã fui ver o mar. Sem ondas. Muito vento. Eu fiquei sem o surf, a mãe sem o livro, Mariachito sem os pezinhos pequeninos, unhinhas minúsculas e da cor da pele, iguais aos da mãe, na água. Parque da Paz, então. Um lago enorme. Um ecossistema no mesmo. À superfície, patos reais, uma fêmea com as crias das restantes, gansos selvagens, dois cisnes, gaivotas. Na margens, além de todos os outros, um tímido marrequinho que vira a crista a favor do vento, tome a direcção que tomar. Em Almada, a designação de Parque da Paz é uma sorte. Seria injusto para uma estrutura desta dimensão (pensada ao milímetro por engenheiros do ambiente e arquitectos paisagistas) um nome como Parque 25 de Abril, Salgueiro Maia ou mesmo Otelo Saraiva de Carvalho, o que, de qualquer forma, já toda a gente esperava. Parque da Paz é que não. Tanto melhor! 60 hectares de pulmão da cidade à humilde dimensão de uma cidade como Almada. Os pinheiros mansos, as azinheiras e os sobreiros já lá estavam. Todas as outras árvores, juncos e arbustos foram plantados. Quer isto dizer que esta zona verde já existia. Só não tinha empedrados, circuitos de manutenção e relvados cuidados para a criançada empersonar o Cristiano Ronaldo. O meu pai andava por ali, em criança, "aos ninhos, aos pássaros e à xinxada". Eu andei por ali de "bicla", uma BMX amarela com punhos e selim azuis. Era com ela que ia à padaria, uma casa em tijolo crú, sem revestimento, numa mata de pinheiro bravo. Era nela que voltava a casa a toda a brida para barrar o paõ a escaldar de manteiga Primor, amarelinha, e vê-la derreter. Era com ela que ia ao leite à vacaria, evitando a roupa vermelha para não "enervar" os touros. Era com ela que ia à rouparia buscar queijinhos frescos das ovelhas que passavam na minha rua, guardadas pelos cães que todos os dias me vinham pedir festas (e uma bolacha maria). Foi com ela que percorri Sobreda, Charneca, Alto do Índio, vastas florestas com vista para a Ponte. Andava "aos ouriços", que enquanto crias têm nos espinhos meros pêlos, só para tirá-los da toca e fazer-lhes festas. Andava às cobras e lagartos para meter medo às miúdas. Aos pirilampos para fechar em frascos, levar para o jardim dos meus pais e ficar a noite toda, depois do "V, a Batalha Final", a contemplá-los da janela. Os entardeceres a jogar à bola no centro de uma nuvem de escaravelhos-rinoceronte, os concursos de tamanho de bolas de âmbar encontrado nos damasqueiros, o bate-pé debaixo das figueiras, a corrida às formigas-de-asa nas chuvas de Maio, as amoreiras secretas que resistiam à pilhagem de folhas para os bichos-da-seda, as fugas aos pastores alemães dos caseiros das quintas onde hoje se ergue o Forum Almada. O Tejo já foi uma fronteira mais vincada. Mas nesse tempo, em que a Margem Sul era uma floresta com esparsas manchas habitacionais e sofria do isolamento que isso ditava, Lisboa era também muito menos cosmopolita. Era mais um conjunto de bairros típicos e autênticos e menos esta congregação de trabalhadores dos subúrbios que vão ali trabalhar durante a semana e divertir-se à 5ª, 6ª e Sábado. E, já agora, os bairros típicos tinham lisboetas típicos.
O Parque da Paz é, então, uma pequena amostra daquilo que já foi a Margem Sul. É a Margem Sul possível. E aquele lago uma metáfora. Não foi com pouco choque que vi as pessoas a mandarem pão e bolachas para a água, para aparecer um imenso cardume de percas que o fazia desaparecer muito antes dos patos conseguirem ingeri-lo, os cisnes a atacar os peixes, as gaivotas à espera de uma distracção destes e um velhote, ao meu lado, a exclamar, perante a minha mais que certa expressão de terror: "Tá a ver ali os patinhos a nadar ao lado da pata? Já não é a primeira vez que vejo um desaparecer na boca de uma perca. Este lago não é um lago. É um inferno para esta bicharada".

sexta-feira, maio 11, 2007

Exercício Onomástico em Português de Portugal (sem K, Y ou W) por Ordem Alfabética

Alcibíades tinha um cão de raça
Balbina ansiava tocar-lhe
Não ao cão, Calífrates de sua Graça
Ao outro, Dirceu, ousou chamar-lhe.

Epaminondas, esse, observava da janela
A dança de ancas de Frutuosa
Esta preferia Gualdomero, que era dela
Nem sempre... sabia-o Hersília, a garbosa.

Idalcão, o merceeiro, só fiava à Jabina
Todo o prédio falava, mais ainda Lubelina,
Marculfo desejava-lhe, como abelha, a flor
Não houvesse chegado, primeiro, Nabucodonosor.

Oblénio, seu pai, sabia-a alcoviteira
Apanhara-a com Paduíno na eira
Um gasto inútil de feno, destinada a Quixote
besta de carga de Randolfo, o velhote.

Eu, qual Sátiro, terminaria esta estória
Se novo inquilino, Teódulo, não aparecera.
Esta rua de Sta Úrsula não mais foi o que era
juntou-se este aos Valdês, ampliando a escória

Matou Xilandro com a enchada de Zenóbio, o malandro!

terça-feira, maio 08, 2007

Ao dia 2 de Maio do Ano da Graça do Senhor de 2007



Até àquele momento, nada de anormal, excepção feita ao facto do Gabriel comemorar os seus 11 meses de vida a olhar para a Joanna Newsom, lá em baixo, pequenina, escondida atrás da harpa. A voz que lhe era tão familiar, o som, memórias à escala destes 74 centímetros com energia suficiente para fazer ondas num lagar de azeite. Não agora. A calma. Como quando a Marta, cansada de tantos rodopios e pontapés na barriga, se sentava no sofá a ouvir estes e outros temas, mais vezes o Antony, até... Era o momento de paz de ambos, a calma. Agora, nos camarotes, eu e ele. No meu colo, mão na boca, olhos muito abertos, um suspiro de quando em vez, um olhar momentâneo para mim "tás aí, certo? Estás a ouvir isto?", é possível que exista algo tão bom. Mas é difícil de apanhar. Por ora, ela está ali, perto, à nossa frente, e o Gabriel não precisa de fixar a coluna como sempre faz, sorrindo depois, como se à espera de ver algo, como agora. É a minha prenda. Para mim também, que estou nos tais sete céus de que tanto se fala mas que só agora se abrem, num azul de mar açorenho em manhã de Maio alentejano. Voaram pássaros na Aula Magna. Sem que o bater de asas deixasse de se ouvir, e soavam bem entre o sussurro que é a música da Joanna. Não se atreveram a chilrear, projectavam-se contra as cordas da harpa e desta saíam notas que os dedos humanos não conseguem. Só a Joanna, claro. Pássaros não, borboletas. Zangões, pronto, os tais bumblebees recorrentes nas lyrics pueris, animais maravilhosos como só as crianças conseguem achar. O Gabriel também acha. E tosse. Ela ouve-o e pára a música: "That's a tiny little coughing, isn't it?", o Gabriel tosse outra vez: "So cute". Eu levanto-me para que ela o veja. Ela faz-lhe adeus, ele corresponde, como sempre faz, e esperneia. Ela faz aquele gesto que, em língua de bebés, quer dizer "anda cá", ele esperneia mais. Eu levo-o até junto ao palco e ele estica-lhe os braços, como faz com todas as miúdas de olhos grandes, de preferência verdes, como os da Joanna. Ela pega-lhe e pergunta-me o nome, já com as suas duas tiny little hands nas faces, eu respondo-lhe e acrescento, qual teenager impúbere em frente aos DZRT, "He listens to you since his mother's belly", ela fixa-o como quem pensa "será que o que faço interfere assim tanto na vida de outros?", eu respondo que sim sem precisar de ouvir a pergunta. Ela diz para sentá-lo em cima do palco. Eu deixo-o ao pé da harpa e saio. Ele fica muito quieto, a olhar para o que reconhece do ventre da mãe.

Podia ter sido assim. Perguntei à produtora se era possível levá-lo... "Não, muito pequeno". A parte da tosse é verdade. Mas foi outra criança que tossiu. Da mesma idade do Gabriel.

segunda-feira, maio 07, 2007

O Submundo de Veludo

Aos 16, o cenário que escolheria para este take que já vai em 32 aninhos era muito diferente daquele pelo qual optaria hoje em dia, uma janela sobre 13 cascatas entre a Fajã Grande e a Fajãzinha. Nesses tempos, adormecia a pensar numa cave nova-iorquina chamada Factory, com o Andy Warhol num sofá de cabedal preto, ao lado de Basquiat, ambos de olhos postos em Lou Reed, Moe Tucker, John Cale e, de quando em vez a Nico, ensaiando (terá alguma vez sido?) Venus in Furs. Muitos anos já haviam passado sobre o tempo em que isso teria sido possível, pelo que o meu sonho passava apenas por um objecto mítico, cuja cover emolduraria por me dar por contente se alguma vez encontrasse, na Ladra, um exemplar com tantos riscos que inaudível seria lisonjeiro: The Velvet Underground & Nico, o princípio de tudo, o Big Bang da música se emparelhado com o Yellow Brick Road e Ziggy Stardust and The Spiders From Mars. Não sou eu que o digo, é quem entende da coisa.
Este Domingo, o Mariachito quis dar uma prenda à Mãe. O Mariachi má grande, fulo da vida com datas consumistas para além da data consumista-mor (Natal) e ramificações absurdas, lá foi procurar qualquer coisinha para esbarrar com AQUILO! A bananinha sobre o fundo branco, qual Chiquita flutuando no infinito, 180 gramas como deve de ser, a reedição sem QUALQUER diferença deste o dia em que o primeiro exemplar saíu da impressão e o Lou Reed não sabia que Satelite of Love, muitos anos mais tarde, havia de ser um Hino Maior!

Poucos prazeres neste mundo se igualam ao Sunday Morning tal como esta veio ao Mundo!